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Renato Feder, secretário de Educação do Paraná
Renato Feder, secretário de Educação do Paraná| Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Para o secretário da Educação, Renato Feder, a pasta da Saúde é quem tem a palavra final sobre o retorno presencial das aulas no Paraná. Feder admite, contudo, o temor pela evasão escolar. Ele prevê a fuga de “dezenas de milhares de alunos” e diz que, por isso, a Secretaria da Educação “torce” pela volta das aulas nas escolas. Em entrevista à Gazeta do Povo no final da tarde desta quarta-feira (28), Feder explica os planos de abertura gradativa das escolas, antecipa que a participação do aluno será opcional ao menos até o fim do ano, e faz uma avaliação da qualidade do ensino remoto. Outra polêmica, a da implantação das escolas cívico-militares, também foi abordada na entrevista. Confira abaixo os principais trechos:

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A gente pode começar a entrevista com o que está mais quente hoje, que é a questão das escolas cívico-militares. Eu queria entender melhor o conceito disso. Porque, quando se fala no assunto, em geral as pessoas resgatam a imagem de um colégio militar, que é outra estrutura. O que o governo do estado está propondo, lendo aqui a lei, é uma gestão compartilhada, com quatro monitores militares, apenas. O senhor pode explicar o modelo?

Exatamente. Não é um modelo militar tradicional, que tem uma estrutura muito grande. Quando você vai para um colégio militar, o time militar entra na área pedagógica. Não é este o nosso projeto. O diretor cívico-militar – que em geral será um capitão da Polícia Militar - vai contar com um time de até quatro monitores. Qual é o trabalho dos monitores? É cuidar do ambiente escolar para a disciplina na escola.

Então o militar não entra na questão pedagógica?

Não entra. Ele atua só no ambiente escolar. Por exemplo, em um lugar onde haja bullying, onde haja desrespeito, onde haja violência, onde possa ter drogas perto da escola. Aí, hoje, o jovem que está nesta escola, ou o professor, ele não tem a quem recorrer, ou é difícil. Quando você tem um time [de monitores militares], você tem mais disciplina, mais respeito, e um ambiente propício ao aprendizado.

A escola continua com um diretor-geral civil, que é da rede da educação do Paraná e é a autoridade máxima do colégio, responsável pelo colégio em todos os seus aspectos. O diretor cívico-militar está subordinado ao diretor-geral civil.

Como o senhor responde às críticas que a oposição na Assembleia Legislativa tem feito, e também a APP-Sindicato, que apontam uma “militarização do ensino”?

Acho que é uma crítica infundada porque o professor da rede tem liberdade total de ensino. Não existe a menor pretensão de que o time militar faça qualquer influência ou gestão sobre o ensino. Não existe no Paraná. Quem ensina é o professor da rede do Paraná. O corpo militar ajuda no ambiente escolar. Não existe militarização do ensino, que continua sendo feito pelos nossos professores.

Os militares que vão atuar como monitores vão receber algum preparo para atuar nas escolas? Porque é um ambiente escolar, diferente do ambiente que eles estão acostumados a atuar...

Vão receber bastante treinamento nosso e da Secretaria de Estado da Segurança Pública, com apoio dos colégios militares do Paraná. É uma preparação intensa. A gente primeiro seleciona os monitores, que depois passam por um processo de treinamento. A ideia é que eles atuem a partir do primeiro dia de aula do ano que vem, em 18 de fevereiro de 2021.  A comunidade escolar está sendo consultada agora na última semana de outubro [sobre se querem ou não a escola cívico-militar]. E, a partir daí, nos meses de novembro, dezembro e janeiro, os monitores serão preparados.

Sobre a consulta à comunidade escolar, uma crítica que a APP-Sindicato está fazendo é sobre o tempo da consulta, apenas 48 horas. Eles alegam que não é um tempo adequado para o debate, ainda mais em meio à pandemia. O senhor acha que é um tempo adequado? E como está até aqui [final da tarde de quarta-feira, 28] a adesão da consulta pela comunidade escolar?

A gente teve bastante tempo de debate sobre a lei, que passou pela Assembleia Legislativa. Mas a consulta só é válida quando a maior parte dos pais se manifestam, seja pela manutenção do colégio, e "não" ao cívico-militar, ou à adesão ao cívico-militar, ao "sim".

Por exemplo, algumas escolas já consultaram 80%, 90%, dos pais em dois dias. Então não há motivo para estender. Outras escolas precisam de mais dias. Então o importante é a gente conseguir perguntar para a maior parte dos pais.

E já se tem uma ideia do resultado até aqui?

Até o final do dia devem votar mais de 50 mil pessoas, entre alunos, pais e profissionais da escola. É um número grande e, por enquanto, 90% está votando a favor da escola cívico-militar.

Como está sendo o processo de votação?

Para evitar fraudes, a manifestação dos pais precisa ser por escrito. Então ele vai à escola, com máscara, respeitando o distanciamento, e lá ele vota qual é a opção dele. Quando a gente percebe que o número de pais já é maioria, aí a gente faz a contagem dos votos é verifica se a maioria quis a migração ou não.

Ainda sobre a questão da consulta à comunidade escolar, eu queria aproveitar para falar sobre outro projeto de lei do governo estadual que recentemente passou pela Assembleia Legislativa, modificando o processo de escolha dos diretores de parte das escolas. A comunidade escolar não vai escolher o diretor-geral civil e também foi excluída da escolha do diretor da escola de ensino integral, que será definido agora pela Secretaria da Educação. Ou seja, reduziu-se a participação da comunidade escolar na escolha dos diretores. O que a Secretaria da Educação avaliou para tomar uma decisão assim?

As escolas de tempo integral demandam um investimento bem maior, porque a criança e o jovem ficam mais tempo na escola. Então o que era esperado? Um resultado educacional melhor. Mas o que a gente observou em outros estados, Brasil afora? Muitas escolas em tempo integral não dão mais resultado e outras dão resultado. Porque depende do modelo de tempo integral. Tem modelos de sucesso. Em Pernambuco, que tem o maior número de escolas integrais, a nota do Ideb é muito superior em relação às escolas regulares. Então nos inspiramos em Pernambuco, no Espírito Santo... A escola de tempo integral, para dar certo, ela precisa ter um modelo e um perfil. Então a gente precisaria de diretores que gostem deste perfil, que queiram buscar este perfil. Então a gente optou por fazer um processo seletivo para o diretor de escola de tempo integral.

Então vocês entendem que a comunidade escolar não estava sendo capaz de escolher alguém com o perfil que vocês imaginam adequado para escola de ensino integral?

Eu diria que, por fazer um investimento maior, a gente não pode correr este risco. Pode ser que aconteça. Mas eu não posso, como gestor do orçamento, correr o risco de fazer todo o investimento a mais e não ter um diretor com perfil adequado. Tem muito estado que fez escola de tempo integral e não tem melhora educacional. Aí a gente foi ver que são modelos soltos, que não seguem o modelo de Pernambuco e Espírito Santo.

Qual é o perfil de diretor desejado, neste caso?

É um diretor que tenha liderança, que saiba ser próximo dos professores, que tenha um olhar pedagógico. Acontece muito, no Brasil, do diretor se transformar em uma pessoa administrativa. Então ele cuida da pintura, da merenda, do horário, do portão, mas ele deixa de lado a ajuda ao professor. Este é o maior mérito de um bom diretor, que ele consiga ser um líder que inspire, motive, e ajude o professor a dar boas aulas, onde os alunos aprendem, a informação circule. E às vezes é um ambiente desafiador, com alunos com todo tipo de defasagem no aprendizado. Então o bom diretor é aquele que foca a maior parte do seu tempo em apoiar o professor, para que o professor dê boas aulas.

Retorno gradativo está tendo alta adesão, diz secretário

Sobre a retomada gradativa das aulas: em agosto, a Secretaria da Educação divulgou que faria uma pesquisa junto aos pais, alunos, professores para saber como avaliavam a possibilidade de retorno à aula presencial. E houve até a promessa de divulgação do resultado da pesquisa no dia 14 daquele mês. Mas o resultado disso não foi divulgado. O que aconteceu?

A gente não conseguiu concluir... Logo depois da pesquisa, a gente começou a ter baixa nos casos de Covid-19 no Paraná. Então é um sentimento muito momentâneo. Os números estão bem melhores agora...

Sobre a retomada gradativa agora no último dia 19 de outubro: queria que o senhor explicasse a opção pelo retorno presencial somente em algumas escolas [da rede pública estadual] e apenas para atividades extracurriculares.

A gente começou com 54 escolas em áreas de baixa incidência de Covid-19 e só atividades extracurriculares. Isso aconteceu em outubro e deve continuar nas primeiras semanas de novembro. Se os números continuarem melhorando, e sem casos de surto nas escolas, a gente deve, em novembro, aumentar o número de escolas. A gente deve aumentar já para semana que vem as atividades extracurriculares em 150 escolas. E, tudo indo bem, migrar para atividades extracurriculares para atividades curriculares, normais. Mas isso, obviamente, sendo validado pela Secretaria de Estado da Saúde.

Uma retomada precisa ser gradual. A gente precisa saber se o material de higienização está chegando nas escolas, se os protocolos estão sendo seguidos, se estão sendo suficientes, se a gente está conseguindo atender aos alunos. Seria uma irresponsabilidade abrir tudo de um dia para a noite.

E por enquanto é opcional. Os pais podem ou não mandar seus filhos para as escolas. Está tendo adesão?

E até o final do ano continua opcional. E está tendo uma alta adesão. Os pais querem enviar seus alunos. A gente está com muita demanda, de escolas que querem reabrir.

Tem o Sinepe, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino, que defende o retorno presencial, e tem a APP-Sindicato, que não quer o retorno agora. Os dois sindicatos inclusive já entraram na Justiça Estadual pleiteando liminares. Como o senhor está lidando com as duas visões? A Justiça Estadual deve interferir no tema?

Eu acho que o governo do Paraná está fazendo um excelente papel. Porque não está ideologizando a discussão. A discussão é técnica. Quem decide se é seguro voltar ou não é a Secretaria de Estado da Saúde e ponto. Nós, da Secretaria da Educação, torcemos pela volta. Por quê? Por causa do risco da evasão dos alunos. Por melhor que seja a Aula Paraná [modelo de ensino remoto adotado durante a pandemia]... A gente torce pela volta porque, quanto mais tempo o aluno fica sem aula, ele sofre psicologicamente, ele se isola, isso traz problemas psicológicos, e também aumenta a chance de o aluno não voltar, tocar a vida dele, e evadir, sem o diploma, sem a conclusão dos estudos, que é uma destruição do futuro do aluno.

A Secretaria da Educação já consegue dimensionar a evasão?

A gente está prevendo que dezenas de milhares de alunos evadam este ano, infelizmente, devido à pandemia. E pelo fato de as escolas estarem fechadas há quase 8 meses.

Que avaliação que a Secretaria da Educação faz sobre o período até aqui de aulas remotas? Houve adesão?

Os professores e os alunos do Paraná deram um show. A gente foi melhor do que os países europeus...

Mas a Secretaria da Educação conseguiu medir isso, de que forma?

Sim, a gente acompanha todas as atividades dos alunos e professores. Dos alunos, a gente tem uma produção de lição de casa gigante. A gente tem 1 milhão de alunos e cada aluno faz, em média, cinco lições de casa todos os dias. Eles estão estudando, estão assistindo aulas na TV ou no YouTube, postam as lições de casa para os professores e a gente consegue acompanhar tudo que cada aluno fez. E a escola enxerga seus alunos. Eles acessam, em média, 76% de todas as lições de casa. E as escolas estimulam os alunos, vão atrás dos alunos.

E os professores estão dando aula pelo computador ou pelo celular. E não é pouca aula. São 30 mil aulas por dia. E a gente também consegue ver quantos alunos participaram da aula e quanto tempo a aula durou. Os professores do Paraná estão dando um show. E não é só uma aula normal. Os professores estão levando seus alunos a museus, nas visitas virtuais, usando a tecnologia como nunca. Está um espetáculo.

Mesmo com a avaliação positiva que o senhor faz do período, o senhor acha que não vale continuar só com as aulas remotas, mesmo perto do fim do ano letivo. Isso está descartado?

A tecnologia vai adicionar. O ideal é o aluno dentro da escola, com tecnologia. Este é o lado positivo da pandemia: hoje, 100% dos nossos professores sabem usar as ferramentas tecnológicas para ajudar no aprendizado com os alunos. Então, quando a gente voltar, seja este ano, ou ano que vem, o ensino do Paraná volta mais forte. Volta com a tecnologia dentro da sala de aula, dentro da cultura da escola.

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