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Segunda onda da Covid
Higienização de terminal de ônibus em Curitiba é parte do combate ao coronavírus.| Foto: Luiz Costa/SMCS

A segunda onda da Covid-19 na Europa já é uma realidade, com números diários que superam os recordes atingidos por alguns países no início do ano, quando os sistemas de saúde de França, Espanha e Inglaterra, entre outros, entraram em colapso e rigorosos lockdowns foram decretados. O novo momento da pandemia no continente que vinha se preparando para a “volta ao normal” assusta o mundo e serve de alerta para países em que a curva epidemiológica vem decrescendo a as medidas de prevenção têm sido flexibilizadas. Para o infectologista Bernardo Montesanti Machado de Almeida, do Serviço de Epidemiologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, a segunda onda é um cenário possível no Brasil, já atinge alguns estados e pode vir a ocorrer no Paraná.

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“Desde os primeiros relatórios, lá em março, já havia uma expectativa de que houvesse múltiplos picos e alguns locais enfrentassem dinâmica de relaxamento e aperto das medidas de prevenção. A forma como as autoridades utilizaram a primeira onda para se preparar para o enfrentamento da pandemia é o que vai determinar o tamanho desta nova onda”, comenta, afirmando que o mundo está dividido em duas estratégias: a de supressão do vírus, não o deixando circular, adotada com sucesso em países como Austrália, Nova Zelândia, Alemanha e Vietnã, por exemplo, e a de mitigação, adotada por Estados Unidos, Brasil e Índia, entre outros, que trabalharam com o achatamento da curva, ampliando ou afrouxando medidas de restrição para controlar os números, evitando o colapso do sistema de saúde.

“(Uma nova onda) é um cenário possível no Brasil, assim como vem ocorrendo nos Estados Unidos, que estão, já, numa terceira onda, por conta dos apertos e recuos nas medidas de prevenção. Então, nós estamos testando medidas menos restritivas, volta de algumas atividades, agora, a discussão é sobre a volta às aulas presenciais. Vamos testando o vírus também, como a doença se comporta a cada novo passo que é dado”, diz.

Ele comenta que a segunda onda da Covid-19 na Europa chama a atenção para um erro de avaliação que o Brasil não pode cometer. “Eles sofreram com a falsa ideia de que o problema estava controlado. Conseguiram praticamente suprimir o vírus e voltaram ao normal de uma maneira muito rápida e, até, inocente”.

A situação da Europa mostra, segundo o infectologista, que o cenário não é de conforto no Paraná, apesar dos mais de dois meses de queda nos números da epidemia no estado. “A Europa acende o sinal de alerta. À medida que vai se retomando atividades, a circulação do vírus vai aumentando. Temos que insistir nos cuidados e compensar algumas atitudes importantes. Se estamos falando em voltas às aulas, certamente iremos aumentar a circulação do vírus, então, para compensar, precisamos recuar em outros aspectos, evitar aglomerações em outros locais, controlar interações sociais”, diz, lembrando que a taxa de reprodução do vírus (Rt) já esteve 0,80 no Paraná e, agora, está em 0,92, diminuindo a velocidade da queda de casos e se aproximando do 1, o que indicaria volta do aumento no número diário de novos casos.

No Brasil, Santa Catarina, Espírito Santo, Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Pará, Amazonas, Amapá e Roraima já voltaram a registrar crescimento no número diário de novos casos, estando com o Rt acima de 1.

O principal problema de uma segunda onda no Paraná ou em qualquer estado brasileiro, segundo o médico, é o conjunto de estratégias adotadas para o enfrentamento da pandemia até agora. “Muitos países aproveitaram estes oito a 10 meses de pandemia para desenvolver uma estratégia de testagem em massa, por exemplo. Agora, se começa uma segunda onda, eles podem testar a população e isolar as pessoas ou mesmo os locais, como bairros e até cidades, em que o vírus está circulando. Aqui, segue-se testando muito pouco, todo esse tempo de pandemia não serviu para que se massificasse a testagem. Então, as únicas estratégias são o uso de máscara e o distanciamento espacial, para diminuir a probabilidade de transmissão nas interações sociais, ou a restrição a essas interações, fechando bares, restaurantes, shoppings, o comércio em geral, o que ninguém quer fazer novamente”, comenta.

Para Bernardo Almeida a mensagem principal da segunda onda europeia é que a maratona do enfrentamento ao coronavírus no Brasil, e no mundo inteiro, está longe do final. “E nem a vacina representará a linha de chegada. Precisaremos manter as demais medidas por um bom tempo”, conclui.

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