São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, terá de aguardar mais um mês, ao menos, para ter a ajuda extra nas suas operações policiais: a da Força Nacional de Segurança Pública. É que o município, de pouco mais de 300 mil habitantes, adiou para agosto o início das operações em cooperação com as forças federais para reduzir sua criminalidade violenta.
A cidade foi a escolhida na região Sul para participar do projeto-piloto do Ministério da Justiça e Segurança Pública, de Sergio Moro. A expectativa era de que o programa se iniciasse nesta última semana de junho e que se estendesse até o fim do ano.
De acordo com a Secretaria de Segurança do município, a prefeitura se reunirá nesta terça-feira (25) para entender o adiamento da operação, que está sob o comando da Polícia Militar. A reportagem não conseguiu contato com o coronel Varlerlei Mattos de Souza, responsável pelo 6º Comando Regional de Polícia Militar, que atua na região.
O Ministério da Justiça, que coordena o programa, ainda não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre o cronograma da ação.
Entenda o programa de combate à criminalidade
Segundo a pasta ministerial, a escolha das cidades – além de São José, recebem o projeto Cariacica (ES), Ananindeua (PA), Paulista (PE) e Goiânia (GO) – foi feita com base em análises de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e de criminalidade. No caso do município paranaense, o segundo fato parece ter tido um peso bem maior, já que São José mantém um IDH (0,758, de acordo com dados de 2010) acima da média do estado e de boa parte das cidades da RMC, como comparativo.
Em termos de mortes violentas, a situação é bem diferente. São José é uma das cidades do estado com mais homicídios. De acordo com números da Secretaria de Segurança Pública do Estado (Sesp), o município teve 69 mortes violentas em 2018, segundo pior resultado entre os municípios da RMC, atrás apenas da capital, Curitiba, com 293. Foi também o quarto pior desempenho do estado, atrás da capital, Foz do Iguaçu e Paranaguá. De acordo com a secretaria de Segurança municipal, no entanto, a escolha foi feita com base em números do triênio 2015-2017, que teve ainda mais registros de morte. Em 2017, por exemplo, foram 92 homicídios.
Uma das principais causas mapeadas é o tráfico de drogas, tanto na disputa de territórios quanto na cobrança de usuários devedores.
“De 2017 para 2018 reduzimos o número de homicídios em torno de 25%, e atualmente estamos em níveis normais [posição relativa 111 de 399 no estado para homicídios]”, pondera o secretário, Fabiano da Rosa. De fato, os números não se destacam em um cenário mais amplo. Pelotas, cidades gaúcha de tamanho comparável a São José dos Pinhais, registrou 68 homicídios dolosos em 2018, Canoas, de população semelhante, teve 103. Os números são da Secretaria de Segurança do Rio Grande do Sul.
Para o secretário da cidade paranaense, também pesou na escolha o caixa do município. “Além dos números, contou a situação fiscal regular do município, que permite que ele invista neste esforço conjunto. Foram decisivas a boa disposição do Município e a do Governo do estado em fazer parceria com o Ministério da Justiça”, justifica.
Fabiano é um dos cinco secretários que estão em treinamento em Brasília para implantar o projeto, batizado de Projeto para Enfrentamento da Criminalidade Violenta. “O objetivo é reduzir homicídios, roubos, violência contra a mulher, e estamos certos que seremos bem sucedidos porque todos os índices seguem caindo e a adição de esforços pela União deve incrementar isto. Haverá apoio (fase chamada de Choque Operacional) com tropas da Força Nacional e esperamos também investimentos da União no município (fase chamada de Atuação Integral)”, adianta o gestor da pasta.
Embora veja de forma positiva a fase de Choque Operacional, em que a Força Nacional toma a rua, o secretário aponta que o que o município mais precisa está na segunda etapa, a Atuação Integral. “Nossa maior expectativa é que tenhamos algum tipo de investimento ou apoio da União. Mas só saberemos se isso irá ocorrer mais para a frente, pois a União precisa somar aos esforços do Governo do Estado e do Município, em especial contribuindo com infraestrutura. Caso isto não ocorra perde-se a oportunidade de deixar um legado para a cidade”, aponta.
Ainda não se sabe como a força-tarefa atuará nesse caso, mas o secretário espera que o grupo consiga atender a demandas como investimento em tecnologia (câmeras, drones e sistemas de monitoramento), ampliação de efetivo estadual e Municipal (o prefeito Toninho Fenelon, PSC, já autorizou concurso), criação de um centro integrado de segurança pública, e retirada dos presos da Delegacia de Polícia da cidade. “A situação da cadeia da delegacia é obscena e necessita ser resolvida pelo Governo do Estado. O governador [Carlos Massa Ratinho Junior, PSD] tem se manifestado nesta linha e estamos com a expectativa que isto se resolva com a urgência que o assunto requer”, diz.
De acordo com comunicado do ministro Sergio Moro, o programa poderá ser prorrogado nas cidades escolhidas e, em caso de sucesso, poderá ser estendida a outras regiões.
-
Mais de 400 atingidos: entenda a dimensão do relatório com as decisões sigilosas de Moraes
-
Leia o relatório completo da Câmara dos EUA que acusa Moraes de censurar direita no X
-
Revelações de Musk: as vozes caladas por Alexandre de Moraes; acompanhe o Sem Rodeios
-
Mundo sabe que Brasil está “perto de uma ditadura”, diz Bolsonaro
Decisão de Moraes derrubou contas de deputado por banner de palestra com ministros do STF
Petrobras retoma fábrica de fertilizantes no Paraná
Alep aprova acordos para membros do MP que cometerem infrações de “menor gravidade”
Após desmoronamento, BR-277 em Guarapuava ficará ao menos uma semana com bloqueio parcial
Deixe sua opinião