Arte

André Mendes: o artista curitibano que ganhou o mundo se aventura em novas técnicas

Flávia Alves, especial para a Pinó
07/07/2021 10:00
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O artista André Mendes, curitibano que ganhou o mundo com seus murais e instalações, lança no próximo sábado (10), na Galeria Zilda Fraletti, uma nova exposição, intitulada LUGAR. A mostra ficará em cartaz até o dia 31 de julho, das 9h30 às 18h30, e traz cerca de 20 trabalhos de Mendes, entre pinturas a óleo e uma escultura.
“Não se trata apenas de espaço físico, e sim de uma relação de espaço e tempo”, diz o artista sobre a palavra escolhida para nomear a exposição. Ela, aliás, é fruto de sua imersão em uma nova linguagem, a pintura com tinta a óleo, um universo ainda em expansão para o artista.
O artista André Mendes em seu ateliê durante a produção das peças que compõe a mostra LUGAR
O artista André Mendes em seu ateliê durante a produção das peças que compõe a mostra LUGAR
“Nos últimos anos trabalhei muito com instalações, em que me apropriava do espaço físico do museu, onde jogava com minhas formas e matéria dentro deste espaço. Quando veio este período [de pandemia], com agendas caindo, me vi muito no ateliê”, conta André Mendes.

Autodidata

No início do processo da descoberta da nova técnica, Mendes contou com duas grandes inspirações: Regina Parra e Rodolpho Parigi, que de certa forma guiaram o curitibano por meio de um grupo virtual. Mas, autodidata que é, Mendes também foi descobrindo por si os caminhos da tinta a óleo.
“Chamei um amigo craque em óleo e peguei o jeito da coisa. Então comecei a criar meu próprio espaço e neste momento comecei a ir a fundo, tentando desvendar este lugar. A pintura tem muito disso, é como estar num ambiente em meio ao lusco-fusco, em que você vai se situando e avançando aos poucos”, explica André Mendes .
Passada a porta de entrada, Mendes considera que ainda tem pela frente uma grande sala, e se anima com a perspectiva. “A pintura é uma linguagem que eu amo, é incomparável. Ela transparece muitas coisas além da figura, da forma, tem muito sentimento e muitas das coisas que traz acontecem a partir de quem vê”.
Nas peças que compõem a exposição, Mendes traz à tona esta relação que ele mesmo define como algo “sagrado, inerente ao tempo, perene”. O resultado são telas que ora trazem portas (que podem servir de entradas ou saídas, a depender do espectador), ora lembram formas biológicas e remetem ao etéreo.
“Há algo que está guardado, uma inteligência cósmica, intrauterina, que tem relação com a existência dentro de um espaço-tempo não linear. Mas é algo que vai convidar a se aproximar deste universo, que não é abstrato, mas feito de matéria, tem gravidade, sombra, luz”.

O caminho

E se a técnica é relativamente nova para André Mendes, o conteúdo traz toda sua bagagem. O caminho começou lá atrás, com a graduação em Design Gráfico pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2003), seguida pela especialização em desenho artístico pelo Institut Superior de Diseño y Escuela de la Imatge IDEP em Barcelona, na Espanha. “Barcelona tem uma cena cultural efervescente, acima da média, impressiona pela quantidade de tudo que tem relacionado às estéticas sensoriais. A própria cidade também é única, com sua gente, sua praia. Me senti muito em casa lá”, relembra.
Mas mesmo tendo se apaixonado por Barcelona, foi o retorno que permitiu a Mendes trilhar sua carreira artística, como ele mesmo reconhece. E da volta para Curitiba ao reconhecimento internacional não tardou muito. Seja com suas pinturas de linhas contínuas e formas orgânicas com cores vibrantes (antes experimentadas em tinta acrílica) ou em suas instalações interativas mundo afora. Para se ter uma ideia, ele carrega no currículo obras gigantes especialmente assinadas para o hotel de luxo Andaz Singapore e exposições individuais em importantes centros artísticos, como a realizada no Centro Cultural Cloître des Billettes (Paris) em 2018.

Causas nobres

Lado a lado com seu desenvolvimento profissional, Mendes ainda tem tempo para se dedicar a causas nobres. Exemplo é o projeto “Criando Laços”, desenvolvido no Hospital Pequeno Príncipe em 2019, em que tinha como missão conectar os pequenos pacientes a seus acompanhantes por meio da arte. “Foram 16 oficinas dentro do hospital, em que me senti preenchido. O resultado rendeu uma exposição no MuMA (Museu Municipal de Arte de Curitiba), com as obras e vídeos das oficinas.
O desejo de transformar a sociedade, aliás, move o artista há muitos anos, e foi combustível para sua participação no coletivo artístico Interlux em 2006. Ao lado de nomes como Celestino Dimas, Goura Nataraj e Rimon Guimarães, Mendes fez parte do movimento que deu o que falar na cidade, com suas intervenções urbanísticas, bicicletadas e estudos filosóficos e sociológicos.

O futuro

Prestes a completar 42 anos - não por acaso, seu aniversário coincide com o dia de abertura da exposição - e pai de duas meninas, Mendes de certa forma reconhece que nada é permanente e nem fixo na relação espaço-tempo. E é disso que trata sua mostra LUGAR.
“No futuro de forma geral não posso garantir que vou trabalhar com pintura, pois não sei para onde o trabalho vai. Mas tenho certeza de que este começo de relacionamento com a tinta a óleo vai dar muito pano pra manga. Tem muito mais possibilidades do que eu conhecia antes, um tempo diferente. Enquanto você pinta, pode voltar. O óleo espera você voltar, tem uma outra velocidade.”
Serviço
O que:
Exposição L U G A R, de André Mendes
Quando:
Abertura: 10 de julho (sábado), das 11h às 17h
De 12 a 31 de julho, das 9h30 às 18h30
Onde: Galeria Zilda Fraletti – Avenida do Batel, 1750 – Batel
Entrada: gratuita