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À frente do Balé Teatro Guaíra, Bongiovanni pretende ampliar o diálogo com o público e desenvolver novos talentos.
À frente do Balé Teatro Guaíra, Bongiovanni pretende ampliar o diálogo com o público e desenvolver novos talentos.| Foto: Priscilla Fiedler/ Gazeta do Povo

A terceira companhia mais antiga do país tem nova direção. O bailarino e coreógrafo Luiz Fernando Bongiovanni, que já realizou grandes projetos à frente do grupo, agora assume a direção do Balé Teatro Guaíra e conta com exclusividade à Pinó sobre os projetos para o novo ciclo. “Eu aceitei essa empreitada de dirigir o Balé Guaíra por um tempo porque eu acho que a gente pode fazer um trabalho muito bonito, que é fruto dessas produções que eu já fiz na casa”, destaca Bongiovanni.

O primeiro trabalho realizado no Teatro Guaíra foi ainda em 2005, com o espetáculo “Caixa de Cores”. Contudo, foram três grandes produções com sucesso de recepção que selaram a passagem marcante como coreógrafo da companhia, com os clássicos “Romeu e Julieta” (2008), “Carmen” (2016) e o “Lago dos Cisnes” (2018), o trabalho mais recente com o grupo. É o que o diretor chamou de “trilogia do amor trágico”.

As obras selecionadas atravessam gerações no inconsciente coletivo, e se reatualizam através do tempo por ainda mobilizarem questões sociais importantes. Essa perspectiva de reflexão da vida a partir da arte segue como uma proposta importante no trabalho do coreógrafo, agora como diretor. "Trabalhar em uma companhia oficial tem um papel importante em trazer essas questões, fazer a gente pensar na vida. Na arte encontramos forças para transformar a sociedade”.

Primeiras ações no Balé Guaíra

O primeiro espetáculo sob comando de Buongiovanni será a produção Vica, assinada pela coreógrafa, bailarina e diretora da Tentáculo Dança, Liliane Grammont.
O primeiro espetáculo sob comando de Buongiovanni será a produção Vica, assinada pela coreógrafa, bailarina e diretora da Tentáculo Dança, Liliane Grammont.| Priscilla Fiedler/ Gazeta do Povo

Nesse sentido, a proposta inicial de Bongiovanni à frente da companhia parte por refletir sobre o processo, desafiador em tantos aspectos, vivenciado pela pandemia do coronavírus, mas, sobretudo, sobre a renovação das esperanças no retorno à normalidade. Assim, por meio do repertório de espetáculos previstos, o diretor propõe a reflexão de como a arte pode confortar diante do luto, das dificuldades e aprendizados deixados por esse momento social, e como pode nos conduzir para dias melhores.

O primeiro programa, Vica, é assinado pela coreógrafa, bailarina e diretora da Tentáculo Dança, Liliane Grammont. A estreia está marcada para o dia 4 de dezembro no Guairinha. A música do espetáculo é composta pelo arranjador e compositor Ed Côrtes, reconhecido por trabalhos como a trilha sonora do filme Cidade de Deus (2002). “A temática tem a ver com essa sensação da clausura, a saída, e as energias que podem nos animar quando pulsamos vida. Como uma maneira simbólica de reafirmar que as coisas sejam mais luminosas e melhores”, explica Bongiovanni.

Diálogo com o público e novos talentos

À frente do Balé Teatro Guaíra, Bongiovanni pretende também dar sequência a algumas políticas que já vinham como foco da instituição, como ampliar o diálogo com o público. Para isso, o coreógrafo destaca a importância de reinvenção diante do cenário que se estabeleceu durante a pandemia. Nesse sentido, aposta em dar continuidade a ações de modelo híbrido e valorização do suporte audiovisual, que ganhou destaque nesse período. Além disso, pretende aumentar o número de apresentações anuais, em diferentes regiões de Curitiba e no estado, e trazer diversos coreógrafos em cada temporada. O objetivo é levar a arte a um número cada vez maior de pessoas. “Acho que o Balé Guaíra tem que ser a vitrine de uma excelente política pública, onde o dinheiro investido realmente chega na população”, afirma o diretor.

Além disso, Bongiovanni destaca a vontade de desenvolver novos talentos paranaenses no balé. Para isso, propõe uma aproximação da companhia com a Escola de Dança Teatro Guaíra, para estimular o contato dos alunos com o repertório profissional. Outra ação é desenvolver os bailarinos paranaenses com grupos de reflexão, com o objetivo de criar novos talentos coreográficos.

Do interior de São Paulo para o mundo

Luiz Fernando Bongiovanni começou na dança aos 17 anos na cidade onde cresceu, Presidente Prudente, interior de São Paulo. Logo se destacou como bailarino e conquistou espaço junto a grandes coreógrafos e companhias. Quando se mudou para a capital paulista entrou para o Balé da Cidade de São Paulo, no Theatro Municipal, à época dirigido pelo coreógrafo e bailarino argentino, Ismael Guiser.

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Como bailarino e coreógrafo, Bongiovanni trabalhou em companhias oficiais no Brasil e no exterior| Priscilla Fiedler/Gazeta do Povo

Logo depois, em três anos, se mudou para a Europa, onde atuou como bailarino durante dez anos em diferentes instituições, como Cullberg Ballet e Ballet da Ópera de Gotemburgo, na Suécia; Scapino Ballet, na Holanda; e no Ballet da Ópera de Zurique, na Suíça. “Trabalhei em companhias que eram bastante importantes na cena europeia e tive a chance de trabalhar com os melhores coreógrafos do mundo nessa fase”, destaca, como Mats Ek, William Forsythe, Jiri Kylian, Ohad Naharin e Nacho Duato.

Nesse cenário, Bongiovanni desenvolveu experiência, repertório profissional e reflexão sobre o trabalho coreográfico. Para ele, a coreografia passa por um desenvolvimento colaborativo, onde o bailarino é provocado à criação e ao desenvolvimento intelectual sobre as artes além da técnica.

Retorno ao Brasil

Em 2004 retornou ao Brasil, e desde então trabalha como coreógrafo e produtor cultural em companhias como Balé da Cidade de São Paulo, São Paulo Companhia de Dança, Balé Municipal do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e Balé Teatro Guaíra. Além do trabalho para as companhias oficiais, buscou desenvolver uma linguagem autoral. Nesse sentido, criou o Núcleo de Pesquisas Mercearia de Ideias, dedicado à investigação em dança e artes cênicas. Ainda, o diretor é formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), e pós-graduado em Artes da Cena pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atrás dos palcos, onde a arte da vida toma forma, também é pai do Vinícius e do Francisco.

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