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Curitiba possui murais e painéis artísticos espalhados pela cidade.
O mural acompanha uma carta escrita pelo então reitor da Universidade Positivo, professor Oriovisto Guimarães, que encomendou a obra a Ferro.| Foto: Leo Flores/Gazeta do Povo

Junto a prédios, araucárias e biarticulados, grandes painéis e esculturas compõem a paisagem urbana de Curitiba. E eles se somam aos grafites, às colagens e à arquitetura, criando um cenário artístico que nos interpela ali mesmo, em uma esquina qualquer — e por isso mesmo, nem sempre arranca um olhar mais delongado, uma leitura mais atenta do transeunte.

Se a rotina por vezes opaca a beleza ao redor, as capas da Pinó de 2022 buscam reacender o interesse pela arte que permeia o cotidiano do curitibano. Através das lentes do fotógrafo Leo Flores, você poderá conhecer ou relembrar obras artísticas que fazem parte do acervo de rua da cidade. “O convite para fazer as capas da Pinó vai ao encontro do meu conceito de fotografia, que é justamente mostrar a beleza que está no cotidiano, no dia a dia, no caminho para o trabalho, que muitas vezes não é percebida”, aponta o fotógrafo.

Natural de Curitiba, Leo Flores faz da capital paranaense seu principal cenário. Flores trabalha sobretudo com símbolos da cidade, como petit-pavês, cerejeiras, ipês e pontos turísticos vistos em detalhes ou sob um novo ângulo. É um exemplo a série “Reflexos”, que traz cenários conhecidos a partir do reflexo de poças d’água. Sua obra pode ser conferida no Instagram @leofloresfotografia, @leoflores_galeria – e, agora, também nas capas da Pinó.

Saber, Ética, Trabalho e Progresso

Mural de Sérgio Ferro em Curitiba.
O mural de Sérgio Ferro fica localizado na fachada posterior do Teatro Positivo, no Ecoville, em Curitiba.| Leo Flores/Gazeta do Povo

Para a primeira edição do ano, a obra escolhida é “Saber, Ética, Trabalho e Progresso”, concebida pelo curitibano Sérgio Ferro, em 2009, e inaugurada em março do ano seguinte, na fachada posterior do Teatro Positivo. A obra remete aos quatro conceitos norteadores da instituição que, através dos olhos de Ferro, foram traduzidos em uma colagem de inspiração renascentista, barroca e mais. A execução do mural foi desenvolvida ao longo de seis meses pelos artistas plásticos Marina Helena Saparolli e Elvo Benito Damo, também curitibanos. Conta com 4,2 mil peças em cerâmica, compondo um painel de 170 m².

A concepção da obra parte de quatro fontes principais: Rafael, Michelangelo, Velázquez e as colagens de Braque e Picasso, realizadas entre 1912 e 1914, como explica o artista em entrevista à Pinó. “Faço variações, transposições, inversões, simplificações etc. De Braque e Picasso, adoto sobretudo a noção de colagens no seu sentido técnico: plano no qual ‘colo’ figuras, formas geométricas, às vezes mesmo coisas. Nada deve destruir o plano — mesmo imagens que tenham profundidade.”

Murais: arte acessível em Curitiba

Além de “Saber, Ética, Trabalho e Progresso”, Ferro assina outros dois murais na capital: o primeiro, comemorativo aos 300 anos de fundação de Curitiba (1993) e outro que remete aos 500 anos do descobrimento do Brasil (2000), ambos acessíveis no Memorial de Curitiba. A partir desses trabalhos, todos repletos de elementos simbólicos, Ferro traz contornos modernos à arte erudita e, principalmente, a populariza. “Ferro traz o muralismo como vocação social, leva em conta o local e pressupõe o tipo de público, tem consciência, orienta e estimula a reflexão”, comenta o arquiteto Guilherme Klock, curador da exposição em homenagem à Ferro realizada em 2019. “Para Curitiba, a importância dos murais é perpetuar a história, a memória e cultura por gerações, democratizar o acesso à arte e seus encantos, sensações, sentimentos e questionamentos.”

“Saber, Ética, Trabalho e Progresso”

Mural de Sérgio Ferro ilustra a capa da primeira edição da Pinó, que em 2022 trará obras curitibanas para você (re) descobrir.
Mural de Sérgio Ferro ilustra a capa da primeira edição da Pinó, que em 2022 trará obras curitibanas para você (re) descobrir.| Leo Flores/Gazeta do Povo

Em entrevista à Pinó, Sérgio Ferro explica as referências por trás dos elementos do mural. Confira:

  • “No ‘Saber’, parti da ‘Escola de Atenas’, o maravilhoso mural de Rafael no Vaticano, adaptando tanto sua homenagem a Michelangelo quanto o grupo em volta de Euclides.”
  • “Na ‘Ética’ usei o tema das Três Graças (dar, receber, retribuir) em referência à figura de Adão do ‘Juízo Final’ de Michelangelo, ao qual acrescentei um carneiro transformando o personagem em símbolo da generosidade.”
  • “No ‘Trabalho’ utilizei sobretudo Velázquez, excelente em pintar cenas de produção. O homem serrando vem do seu quadro ‘A forja de Vulcano’ e a mulher fiando, do quadro ‘As fiandeiras’.”
  • “No ‘Progresso’ me servi do S. Sebastião do ‘Juízo Final’. Fiz uma variação da mãe e filho do ‘Dilúvio’ e da mão de Deus da ‘Criação de Adão’, todos de Michelangelo na Sistina.”
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