Música

Única orquestra de saxofone do Brasil, grupo curitibano Ensax lança EP produzido na pandemia

Flávia Alves, especial para a Pinó
12/06/2021 18:54
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As gravações foram todas feitas individualmente e depois mixadas, resultando em um trabalho inédito para o grupo: o primeiro EP em sete anos de orquestra. | Caca Weber Fotografias

Em uma atividade em que a presença física é tão importante, diversos músicos mundo afora tiveram que se reinventar e redescobrir formas de continuar seu trabalho durante a pandemia. Para os integrantes da Ensax Orquestra, única orquestra de saxofonistas do país, o desafio foi ainda maior.
“Estávamos trabalhando em um projeto aprovado pelo edital da Fundação Cultural de Curitiba, com shows já agendados, quando veio a pandemia”, conta Paulo Campos, líder do grupo curitibano, que comanda a formação criada em 2015. Para o grupo, as lives no Instagram que se tornaram tão populares não eram uma opção, fosse pela quantidade de músicos envolvidos (são nove saxofonistas e outros quatro
instrumentistas) ou pela natureza de seus instrumentos. “Por questões de segurança entendemos que, mesmo no formato de streaming, não seria prudente nos reunirmos. Além da quantidade de pessoas
para fazer o show, precisaríamos de ensaio, pelo menos um dia antes, para preparar tudo”, diz Campos.
“Sem falar que quando a gente pensa em um grupo de outros instrumentistas, conseguimos visualizar praticamente todos tocando de máscara. Mas no caso do sax, que é um instrumento de sopro, isso é impossível!”
Ele conta que mesmo os ensaios foram comprometidos, já que o delay não permitia que eles se reunissem virtualmente com uma qualidade satisfatória. Foi quando, em agosto de 2020, eles começaram a ver uma solução para voltar à ativa. “O nosso técnico de som, o Valderval de Oliveira, propôs um formato em que cada um pudesse gravar em vídeo e que depois este material pudesse ser reunido”, conta.
“Quando a gente encontrou este caminho e começou a ver os resultados, foi tudo muito estimulante! Todo mundo voltou a ter vontade de ensaiar e estudar.”

Novos desafios

O estudo, aliás, passou a ser não apenas sobre os arranjos que seriam apresentados, mas também ampliados a um novo mundo que se abria para os músicos. “Além de gravar, os músicos tiveram que lidar com a questão do vídeo. No palco tem tensão natural, mas há uma descontração. Em casa, cada um teve que aprender a lidar com a tecnologia disponível”, conta.
Para driblar as dificuldades, as informações técnicas foram organizadas em um guia, trazendo valiosas dicas como, por exemplo, a posição certa do celular ou qual figurino usar. “Foi um grande aprendizado, a gente teve que sair da zona de conforto e abrir espaço para o novo." Além de reunir os 13 músicos fixos da Ensax, o projeto possibilitou também a participação de músicos de fora, como o renomado acordeonista e compositor Toninho Ferragutti (presença que já era prevista no projeto aprovado pela Fundação Cultural), Roberto Sion, Rodolfo Vilela e Cacá Malaquias, integrante da célebre Banda Mantiqueira, uma das mais importantes para a música instrumental brasileira. “O que aconteceu neste processo era algo que já estava sendo apontado, a globalização, o acesso a um mundo todo a qualquer momento. E isso ampliou, com certeza, o alcance do nosso trabalho.
O grupo espera se<br>reunir presencialmente<br>para se apresentar ainda<br>em 2021, mesmo que sem plateia física.
O grupo espera se<br>reunir presencialmente<br>para se apresentar ainda<br>em 2021, mesmo que sem plateia física.
Inclusive nesta questão, em que gravamos com pessoas que não precisaram vir até Curitiba. Começamos a enxergar outras possibilidades que já sabíamos que existiam, mas não tínhamos certeza de como poderíamos fazer”, revela.

Trabalho inédito da Ensax

As gravações foram feitas individualmente e depois mixadas de forma conjunta, resultando em um trabalho inédito para o grupo: seu primeiro EP em sete anos de orquestra. O álbum conta com músicas de Chico Buarque, Baden Powell, Roberto Menescal, Heitor Villa Lobos e Luiz Gonzaga, além de uma faixa composta por Ferragutti que tem grande significado no momento atual: a QuarenTEMA 01. “O Toninho começou a compor uma série de temas durante a pandemia, que ele chamou de QuarenTEMAS. Quando começamos a nos movimentar para gravar, propus a ele que fizesse o arranjo de um dos temas e ele topou. Assim, incluímos a QuarenTEMA 01 ao repertório, uma música escrita para o acordeon e com arranjos de sax que traz diferentes sentimentos da quarentena de forma instrumental.”

Planos de retomada

E mesmo com toda experiência e boas novidades em um tempo tão incerto - como por exemplo a chance de divulgar seu trabalho para toda América Latina com a participação remota em um evento argentino - a
Ensax espera ansiosamente a retomada presencial. “Temos planos para o final do ano, de fazer um show que era pra ter acontecido no ano passado, mas como tudo ainda é muito incerto, talvez seja sem público, em forma de live”, revela Campos.
“A gente não vê a hora de poder tocar juntos de novo. A música é um acontecimento social, fazer música é um ato coletivo em que as pessoas interagem por meio do som e toda essa dinâmica que se exige na execução de uma peça, antes e durante, só possível quando se está junto”, reflete.
A Ensax é formada pelos saxofonistas Paulo Campos e Patrick Meloi “Melo” (sax-soprano), Cinthia Oyama (sax-barítono), Antônio Sousa, Gabriel Gonçalves e Bruno Wladeck (sax-tenor), Fran Bariviera, DecoLuppi e Paulo Silva (sax-alto). Compõem a banda: Shirley Granato (bateria), Nando Lemos (percussão), Hermes Drechsel (piano), Anderson Dias (contrabaixo). Músico convidado: Toninho Ferragutti (acordeon). Captação de áudio, mixagem e masterização: Valderval de Oliveira Filho.
Para saber mais sobre a formação, acesse o @ensax_orquestra no Instagram no Facebook (facebook.com/
ensaxorquestra)
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