Mostra Literatura Paraná

Literatura na periferia: projeto incentiva leitura e valoriza autores locais

Heloisa Nichele, especial para Pinó
12/04/2021 12:41
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Transferida para o ambiente virtual, a programação da Mostra foi direcionada para conteúdos sobre diferentes expressões artísticas da periferia. | StayFlow/Divulgação

Formar jovens leitores em vulnerabilidade social por meio da arte e valorização de autores paranaenses. Essa é a proposta da Mostra Literatura Paraná, produzida por meio da lei de incentivo municipal, que chega a sua segunda edição com o desafio de transferir o projeto para o ambiente virtual, sem abandonar o protagonismo de comunidades periféricas em Curitiba. Durante quatro semanas, de 29 de março a 23 de abril, a programação reúne apresentações de música e teatro, conversa com escritores, contação de histórias, oficinas e diferentes manifestações artísticas.
Uma das escritoras presentes nessa edição é a curitibana Giovana Madalosso, que figura entre os nomes mais importantes da literatura brasileira contemporânea com o seu último lançamento, “Suíte Tóquio”. Também participam os escritores Otávio Linhares, Rogério Pereira e Ricardo Pozzo, além da poeta e slammer paulistana Mel Duarte.

Do centro à periferia

Com o propósito de deslocar a cultura do centro para a periferia, são os artistas marginais os grandes protagonistas de quase um mês de atividades. Em razão da pandemia, o projeto, idealmente concebido para levar escritores locais a diferentes comunidades, como aconteceu em sua primeira edição, em 2017, teve de ser adaptado para o ambiente digital.
Segundo o idealizador do evento e produtor cultural, Kenni Rogers, a Mostra vem em boa hora. “Nesse momento em que a gente precisa de um respiro, tenho certeza de que vai ter muita emoção, muita verdade”. Mas como garantir o protagonismo da periferia, que outrora recebeu escritores como Miguel Sanches Neto, Luci Collin e Luís Henrique Pellanda nas escolas, ruas e quadras de areia das comunidades, considerando as barreiras que o online proporciona em termos de acessibilidade e aproximação com pessoas em vulnerabilidade econômica e social?
Kenni Rogers é o idealizador e produtor da Mostra Literatura Paraná.
Kenni Rogers é o idealizador e produtor da Mostra Literatura Paraná.
Se não é possível desenvolver o encontro nas ruas, as ruas se encontram nas redes. A solução elaborada por Kenni foi promover toda a programação com conteúdos de expressão da periferia e apresentações de artistas periféricos. Os vídeos, lançados diariamente pelo YouTube da Mostra, abordam temáticas como teatro de animação, serigrafia e grafite, além de declamação de poesias, contação de histórias sobre o contexto de vida das comunidades, apresentações de rap e indicações de leituras e escritores que são referências para a trajetória dos artistas. “A cultura da periferia, seja do grafite, do hip hop, da batalha de rimas que está no bate- -papo com os escritores, está no cenário de ambientação e conteúdo dos vídeos”, explica o produtor.

Inclusão e acessibilidade

Ao todo, a mostra mobiliza cerca de 70 profissionais, de Curitiba e região metropolitana. Conta com a participação de talentos mirins como Serginho Smith e Liah Vitória, de 13 e 8 anos, transformadores sociais que inspiram outras crianças em suas comunidades e expressam suas experiências de vida na periferia por meio da arte. “A gente entende a leitura como esse lugar de expressão, comunicação, transformação social, então falamos de leitura mas também de diversas outras coisas”, defende Kenni. Pensando na literatura também para quem não tem uma alfabetização oralizada, a programação conta com presença da poeta, surda e atriz, Negabi, e todos os conteúdos com tradução em libras.
A programação conta com a participação de artistas mirins, como a cantora de rap Liah Vitória, de 8 anos.
A programação conta com a participação de artistas mirins, como a cantora de rap Liah Vitória, de 8 anos.

Legado da Mostra Literatura Paraná

Na última semana do festival, Kenni desenvolve uma oficina de formação de leitores para professores da rede estadual, com a problemática de como aproximar o universo do livro de uma forma prazerosa para o jovem que está em vulnerabilidade. “Como fazer o jovem acreditar no livro, para que ele se comunique melhor, entenda mais da vida, passeie por outros mundos, tenha outros registros que não só aquele do dia a dia que vê na realidade na periferia”, explica.
A mostra deixa ainda um legado artístico para uma das comunidades envolvidas no festival, a Vila Torres, um painel de grafite com a contribuição de diversos artistas. Toda a programação online está disponível no Youtube (www.youtube.com/c/MostraLiteraturaParaná) e Instagram @mostraliteraturaparana.

Livros

Confira algumas obras de autores presentes na Mostra Literatura Paraná deste ano, passando por poemas, contos e romance!
  • CIDADE INDUSTRIAL, DE RICARDO POZZO.
    Kotter Editorial.
Sinopse: “Suponha que os poemas aqui enfeixados estivessem nas paredes de uma exposição fotográfica. Você entraria na sala e, diante do formato inesperado das ‘fotos’, começaria a se preparar, talvez com enfado, para alguma nova sacadinha. Depois de ler alguns desses textos, porém, perceberia que as imagens estavam se revelando em sua mente, construídas com cenas deste repertório de abandono, violência e descaso que escondemos de nós mesmos em algum desvão da memória. Assim, suscitadas pelas palavras, quase vivas à sua frente lá estariam elas:
– A mendiga despertando sob a indiferença inclemente do sol, coberta de jornais que noticiam as “meias verdades” do mundo patrimonialista que a regurgitou nas calçadas, junto a outros fantasmas da civilização;
– A população miserável do bairro industrial tantalizada pelas telas da alienação virtual, enquanto à sua volta as fábricas, como um Vulcano tecnocrata, forjam as armas com que a elite a domina, empobrece e acabrunha;
– Dois jovens armados correndo atrás de um outro, que começa a tombar com “medalhas de chumbo / nas costas”, a correria “olímpica” dos três de tal forma borrada pelo motion blur irônico do fotógrafo que você não sabe quem é branco quem é preto, e assim por diante”.
VALOR: R$29,90, no site da Kotter Editorial.
  • COLMEIA, DE MEL DUARTE.
    Revista Philos.
Sinopse: “O livro Colmeia apresenta poemas da obra de Mel Duarte escritos de 2012 a 2020, reunidos em três capítulos: O primeiro capítulo, Pólen, apresenta textos dos dois primeiros livros da autora, 'Fragmentos dispersos' e 'Negra Nua Crua'; o segundo capítulo, Favo, apresenta textos que viralizaram nas redes de Mel desde 2016; e o último capítulo, Néctar, apresenta textos escritos a partir de 2020 e poemas inéditos. Os capítulos são apresentados por Ryane Leão, Emicida e Preta Ferreira. O prefácio é assinado pela grande Elizandra Souza. Com ilustrações inéditas de Luna Bastos, o projeto gráfico é assinado pela Casa Philos em um esquema de cores e estética afrofuturista”.
VALOR: R$62, no site da Revista Philos.
  • SUÍTE TÓQUIO, DE GIOVANA MADALOSSO.
    Todavia.
Sinopse: “É uma manhã qualquer quando Maju atravessa a praça ao lado de Cora. Puxando a garota pelo braço, ela passa sorrateiramente pelo exército branco, sobe a avenida, pega um ônibus e desaparece. Exército branco foi o nome que Fernanda, mãe de Cora, deu às babás que todos os dias lotam a praça daquele bairro de classe alta com as crianças de seus patrões. Nos últimos tempos, no entanto, a babá e a filha parecem tão anônimas para Fernanda quanto as outras. Afundada numa crise pessoal, ela demora a perceber que Maju e Cora sumiram sem dar notícias”.
VALOR: R$59,90, no site da Todavia.
  • O CÃO MENTECAPTO, DE OTÁVIO LINHARES.
    Arte & Letra.
Sinopse: “‘O cão mentecapto’, terceiro livro de Otávio Linhares, traz 16 contos que imprimem ritmo acelerado e causam constante tensão ao leitor. A narrativa, impregnada de gírias curitibanas, apresenta personagens que vivem em ambientes agressivos, seja no âmbito social ou escolar, e que são frutos de estruturas familiares falidas. A obra encerra a 'Trilogia da Turbulência', iniciada em 2013 com a novela 'Pancrácio', sua estreia na literatura, passando pela poesia e prosa de ‘O esculpidor de nuvens' em 2015".
VALOR: R$25,20, no site da Amazon.