Realização de um sonho

Conhecendo a dama da noite

Mônica Berlitz*
19/03/2022 13:00
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Sonho de infância realizado: enfim, conhecendo a aurora boreal. | Marco Brotto

Era uma vez uma garotinha que sonhava em fazer mágicas. Um belo dia, assistindo TV com o pai, ela viu pela primeira vez a aurora boreal na telinha. Naquele momento, se apaixonou perdidamente pelo que chamou de magia do céu. Seu pai tentou, em vão, explicar que se tratava apenas de um fenômeno da natureza e não algum tipo de feitiçaria como a garotinha insistia em chamar.
Muitos anos se passaram e o sonho da garotinha continuava o mesmo. Ela queria ver de perto a aurora boreal e provar para o seu pai que os dois estavam certos: a dama da noite era sim o mais belo fenômeno da natureza, mas também existia junto toda a magia envolvida para que ela se mostrasse aos caçadores que a procuravam em busca de seu espetáculo exclusivo.
A garotinha do texto sou eu e confesso que nem nos meus melhores sonhos imaginei que o meu encontro com a aurora seria tão mágico e inesquecível.
Estou escrevendo direto da Islândia para te inspirar a viver um conto de fadas como o meu, em um país onde trolls transformam-se em pedra à luz do dia e a cultura local alimenta a crença de criaturas míticas. Afinal de contas, 54% da população da Islândia acredita em elfos.
Nas noites bem escuras, especialmente entre os meses de setembro e abril, eles podem ser presenteados com um espetáculo de tirar o fôlego.
Na minha história não tem uma fada madrinha e, sim, um mago caçador que nos guiou pelo universo fascinante das luzes que se formam quando os ventos solares atingem o campo magnético da terra. O nome dele é Marco Brotto. Curitibano, sagitariano, viajante, fotógrafo autodidata, empresário e caçador de destinos, Marco Brotto não precisa de pó de pirlimpimpim para nos levar para o seu universo mágico. Tudo acontece de forma muito natural. “Eu respiro a aurora boreal. É algo tão mágico”, cita Brotto.
Há mais de dez anos levando garotinhas e garotinhos de todas as idades para realizarem os seus sonhos, Marco coleciona elogios pelo profissionalismo quanto aos detalhes, surpresas e segurança em suas viagens. Ele e sua equipe se preocupam muito para que cada um de seus viajantes sonhadores tenham suas expectativas superadas e se orgulha de que todos, até hoje, tenham visto a aurora boreal.
E olhem que estamos neste momento na sua expedição de número 94. É muita gente sonhadora. Principalmente, levando em conta que a aurora é um fenômeno natural e seu aparecimento depende da atividade das fulgurações solares.
“Meu propósito e de toda minha equipe ultrapassa vender uma viagem, guiar ou acompanhar você na busca pelo seu sonho. Somos apaixonados pela aurora e faremos todo o possível para que você também se apaixone. Em nossos roteiros estão inclusos: atenção, carinho e profissionalismo em todos os detalhes para que sua viagem seja muito além da expectativa.”
Segundo Marco Brotto, toda a região da Islândia é favorável para encontrar o fenômeno, mas ele também leva grupos para caçadas em outros destinos como o Alaska, a Finlândia, a Lapônia e em 2023, para a inóspita Groenlândia.
“O que é mais desafiador aqui na Islândia é o clima, com muito vento e frio, o que pode causar uma dificuldade pelo misto de neve e céu fechado”, confessa Marco.
Já deu para perceber que tem muito amor envolvido por aqui. Mas não é que essa paixão começou por uma frustração? Em uma viagem para a Califórnia com alguns amigos, um deles comentou sobre as luzes verdes dançantes da aurora boreal e isso não saiu da cabeça do Marco, que voltou para o Brasil e ficou fascinado quando começou a pesquisar mais sobre o assunto.
Ele descobriu que o fenômeno da natureza não era uma atração turística comprando um pacote de navio para o Alaska, onde imaginava que poderia ver a dama da noite da forma mais simples possível: passeando.
Marco já havia pesquisado algumas informações sobre as luzes verdes quando surgiu um daqueles pacotes imperdíveis de viagem e decidiu, literalmente, pagar pra ver. Foram dez dias de navio sem conseguir ver linha alguma, nem ao menos um risco esverdeado no céu. “Foi um fracasso total”, resumiu.
Segundo as informações de seu site e do que estamos vivendo ao vivo por aqui, a frustração se transformou em uma paixão compulsiva. Após a primeira experiência frustrada ele nunca mais errou e se você estiver animado para uma caçada à aurora boreal, Marco Brotto é o cara. O profissional já guiou muitas pessoas neste desafio e posso garantir que elas se sentem encantadas com a experiência.
Nosso grupo é bem diverso e tem 17 pessoas vindas de diferentes pontos do Brasil, todos atraídos pelas redes sociais do Marco (@marcobrotto e @marcobrotto_auroraboreal).
A inóspita Islândia é um lugar ideal para sair em busca da dama da noite.
A inóspita Islândia é um lugar ideal para sair em busca da dama da noite.
O advogado alagoano Marcio Valenca é um dos meus colegas de viagem mais animados. Podemos dizer até que é o veterano, pois está fazendo a caçada com o Marco pela segunda vez. “Eu e minha esposa, Marcela Jardim, temos como principal lazer viajar e fotografar o mundo. Temos um Instagram chamado  @marcionomundo que funciona como microblog das nossas viagens e hoje conta com mais de 660 mil seguidores”, relata.
O viajante não estava acostumado a fazer seus passeios em grupo, mas até essa preferência parece ter se alterado após a primeira ida à Islândia. “Há dois anos estive na Lapônia com o Marco e a Islândia era um dos destinos que eu queria muito conhecer. Viajar com ele se torna fascinante quando descobrimos o amor e a paixão que o Marco tem por suas expedições e sua incansável busca pela dama da noite. Confesso que não sou muito fã de excursões em grupo, mas as duas viagens que fiz com o Marco mudaram a minha ideia.”
Marcio, inclusive, me confidenciou que já está planejando a próxima viagem. Agora ele quer ver a aurora no Alaska. É, parece que essa tal caçada vicia as pessoas mesmo.
E não é que no meio desta viagem descobri outra história de pai e filha relacionada à aurora boreal no nosso grupo? A goiana Paula Quirino está viajando com a mãe e mais duas amigas em busca da realização do sonho de seu pai que era um apaixonado pelo mundo, mas não teve a oportunidade de viajar.
“Meu pai conhecia o mundo pelos documentários e sempre me falava que tinha dois sonhos de viagem: ver de perto a aurora boreal e cruzar os Estados Unidos de motorhome. Eu sempre fiquei com isso na cabeça e conheci a ‘tal aurora’ por causa dele. Meu pai teve uma morte muito sofrida e lamentei demais por ele ter partido sem ter realizado esses sonhos. Eu só despertei pra aurora por causa dele e, quando ele morreu, pensei: preciso fazer essa viagem que meu pai tanto queria.”
Paula, como a maioria do nosso grupo, começou pesquisando e lendo relatos na internet sobre viagens de muitas pessoas que viajaram para longe e não conseguiram ver o tão esperado fenômeno.
Nas suas buscas por uma agência especializada, encontrou o Marco e suas expectativas de viagem foram superadas. “Quando vi a aurora pela primeira vez, e logo na primeira noite da viagem, só pensei em como meu pai reagiria. Tenho certeza de que ele ficaria em êxtase, abismado e paralisado por horas só olhando em silêncio”, me confessou uma Paula emocionada por estar realizando o sonho do grande amor de sua vida, que foi o seu pai.
O grupo liderado por Marco Brotto em mais uma “caçada” bem-sucedida.
O grupo liderado por Marco Brotto em mais uma “caçada” bem-sucedida.
Imagino como o Marco deve se sentir realizado ao ouvir depoimentos como o do Marcio, da Paulinha e da garotinha aqui. Logo a viagem vai acabar, mas tenho certeza de que os dias que passamos por aqui serão inesquecíveis.
Confesso que embarquei nessa viagem em busca da aurora boreal e irei embora apaixonada por tudo que encontrei aqui na Islândia. Mas isso já é assunto para uma próxima matéria.
*Mônica Berlitz é colunista da Revista Pinó