Cotidiano de Antigamente

Paulo José da Costa

O tempo dourado da ferrovia paranaense

Paulo José da Costa
04/10/2021 10:00
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O primeiro trem chegou a Curitiba em 1884, vindo de Paranaguá e, em 1894, já chegava a Ponta Grossa. No ano seguinte, Rio Negro estava ligada à capital e sucessivamente outras cidades foram se unindo à malha ferroviária. Ferrovia era desbravamento, o apito de locomotivas que levava o progresso a lugares antes inóspitos.
Naqueles tempos, você entrava num comboio e fazia uma viagem confortável de algumas horas, com direito a um bom vagão-restaurante e até a uma noite de sono nos dormitórios, chegando ao seu destino pronto para um dia de trabalho. Havia passagens na primeira classe com relativo luxo e conforto. Nas paradas em estações pelo caminho, como a de Serrinha ou do Marumby, você descia e dava uma caminhada pelas redondezas, envolto no bulício dos habitantes do local, ansiosos por vender bugigangas e comidinhas típicas.
Havia linhas de trens ligando Curitiba a São Paulo, Rio Grande do Sul, litoral catarinense, Ponta Grossa, Guarapuava… Em 1935 só a Rede de Viação Paraná-Santa Catarina tinha mais de 2 mil km de ferrovias levando passageiros e cargas por toda parte.
A estação de Pinhais nos anos 1940.
A estação de Pinhais nos anos 1940.
A estação de Piraquara.
A estação de Piraquara.
A velha estação do Pico Marumby no final dos anos 1920.
A velha estação do Pico Marumby no final dos anos 1920.
Infelizmente, políticas equivocadas levaram à troca do transporte ferroviário por rodovias, principalmente a partir do final dos anos 1950, no governo Juscelino, situação que os governos militares não quiseram reverter, privilegiando sempre o transporte de cargas e passageiros por caminhões e ônibus.
As ferrovias foram sucateadas e o que hoje vemos é um desastre econômico e ambiental. Foge ao escopo de nossa matéria, mas é necessário dizer que o país lucraria muito com a adoção de políticas de transporte que unissem a rede hidrográfica com a ferroviária, ambas muito mais baratas e seguras do que milhões de caminhões poluindo nosso ar e matando milhares de pessoas em acidentes todos os anos.
O fotógrafo Arthur Wischral, contrariamente ao que muitos pensam, não era funcionário da ferrovia, mas sim contratado especificamente para registrar as obras de engenharia de estações, pontes e linhas que iam sendo construídas, além de enviar fotografias para os relatórios anuais e publicações de divulgação.
A locomotiva e os funcionários.
A locomotiva e os funcionários.
Grupo de empregados da ferrovia.
Grupo de empregados da ferrovia.
Ele tinha passe livre nos trens das companhias e aproveitava para registrar os pontos turísticos, as belezas naturais, as cidades, os passageiros, os habitantes dos lugares… Ninguém melhor do que ele para nos mostrar um pouco da vida ferroviária dos tempos idos.
Vagão-restaurante parado em alguma estação, anos 1920.
Vagão-restaurante parado em alguma estação, anos 1920.
A primeira imagem nos mostra a estação de Pinhais num momento em que os funcionários aguardavam a composição que vinha do litoral com destino a Curitiba. Pinhais era a última estação antes da capital.
Um pouco antes, o trem passava por Piraquara, como vemos na foto 2. Na foto, vê-se um carro de linha, usado por funcionários para transporte e que deve ter levado o nosso fotógrafo até a estação. A foto seguinte, de número 3, é magnífica ao nos mostrar os tipos humanos que compunham o quadro de empregados da RVPSC, formidável ao dar emprego a brasileiros de todos as origens.
As escolas ferroviárias eram modelos de aprendizado e de formação, um dos pilares da política social e trabalhista de Getúlio Vargas, e aqui no Paraná se destacou principalmente a Escola Ferroviária Tibúrcio Cavalcanti, em Ponta Grossa, além da Escola Durival de Britto, em Curitiba, criada em 1944.
Três potentes locomotivas e os orgulhosos funcionários, nos anos 1930.
Três potentes locomotivas e os orgulhosos funcionários, nos anos 1930.
Nas estações, era possível o contato entre os passageiros e as populações locais, geralmente num choque cultural e social flagrante, como vemos na fotografia 4, do final dos anos 1920. Chega a nos comover o contraste entre os passageiros no vagão- restaurante e os caboclos rústicos e possivelmente carentes junto a ele. Os dois brasis que se encontram ainda hoje.
O mesmo contraste encontramos na imagem seguinte, desta vez na estação do Pico Marumby, a segunda construída, toda em madeira de imbuia, no ano de 1913. Nos anos 1940 foi derrubada e um novo e belo edifício no estilo padrão da ferrovia, em alvenaria, tomou seu lugar.
As fotografias seguintes, de números 6,7 e 8 são registros de empregados locais e pessoal burocrático, de escritório e chefias da ferrovia, orgulhosos e seguros, com a consciência de um trabalho bem feito e a profissão garantida. Tempos que se foram e que as fotografias bem guardadas e agora disponibilizadas nos ajudam a mostrar. Até a próxima viagem.