A relação de humanos com cavalos é antiga. Essa união serviu por décadas como meio de transporte e é natural quando vista nos filmes de época, de faroeste ou ainda de ficção científica. Mas há quem ainda hoje utilize os cavalos para longas jornadas. É o caso de Paulo Junqueira Arantes, cavaleiro desde a infância, que já cavalgou por 17 estados brasileiros e 24 países. Nos alforjes levados no lombo dos cavalos, guarda histórias que, por certo, dariam roteiros de cinema.

Cultiva a paixão desde criança. Nas férias, passava temporada nas fazendas dos avós maternos, em São Paulo, e paternos, em Minas Gerais, que tinham cavalos de criação. Nesse período aprendeu as técnicas de montaria mas, sobretudo, cultivou um gosto pelos animais que se estenderia pelos anos da vida.
Em 2003, já trabalhando no setor do turismo, resolveu investir na paixão como fonte de renda. Criou o Caval­gadas Brasil, a primeira agência de turismo equestre do país, que oferece roteiros de viagens a cavalo em todas as regiões brasileiras. A agência tem parcerias com outras empresas do ramo no mundo. Por isso, viabiliza roteiros em mais de 40 países. Hoje, Jun­queira também é presidente da Associação Brasileira de Turismo Equestre.

A inspiração para a agência veio de viagens que fez a cavalo por empresas que ofereciam esses roteiros na Europa e nos Estados Unidos. “O Brasil tem a quarta maior quantidade de cavalos do mundo. Tem muito cavalo, muita natureza bonita e bom clima, tem tudo para oferecer. Essas agências não tinham o Brasil como destino, porque não tinha ninguém que organizasse profissionalmente. Assim, eu comecei a organizar as cavalgadas”, descreve Junqueira. No início, oferecia os roteiros apenas para o mercado internacional, mas, aos poucos, conquistou também os amantes de cavalgadas no Brasil.

Há quem viaje de carro, moto, a pé ou de bicicleta – e, por que não, a cavalo. Junqueira defende que junto com o animal se chega a lugares únicos. “A gente sempre diz que é uma grande vantagem, claro que eu sou suspeito em falar porque é em causa própria, mas o cavalo permite ir a lugares que nem de moto se chega. Às vezes você tem que atravessar rio, banhados”, conta. Além disso, a conexão com a natureza é um dos principais atrativos. “O cavalo permite observar e interagir com a natureza, você está com um ser vivo na natureza, então é um diferencial único. Essa interação é muito mágica”, destaca.

A viagem mais longa que realizou, em 2016, foi o caminho da Estrada Real, que no Brasil colonial era rota dos tropeiros para levar ouro até o litoral fluminense. Foram 45 dias e 1.780 quilômetros percorridos entre os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Realizou na companhia de um amigo e com seus dois cavalos de criação, Elmo e Garantido, companheiros há dez anos.

Junqueira destaca ainda o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, que realizou em 19 dias. E viagens inesquecíveis à Patagônia argentina para ver os glaciais, os safaris em países africanos, onde cavalgou entre grandes mamíferos, e a viagem à Mongólia, reconhecida pela cultura equestre.

Apesar de todos os destinos, é em São Luiz do Purunã, no Paraná, que escolheu fazer paragem, há dez anos. “Tem uma natureza muito bonita, um astral muito bom, e é uma região que tem muita ligação com cavalo”, explica Junqueira.

No Cavalgadas Brasil, os roteiros são destinados a grupos de 8 a 12 pessoas. A proposta é oferecer uma viagem completa, com hospedagem, alimentação e passeio de, no mínimo, dois dias. Além do local de destino, é importante notar o tipo de cavalgada. Por exemplo, em cavalgadas progressivas, os viajantes fazem uma travessia passando em diversos lugares com pernoites em locais diferentes. Já na cavalgada com base fixa, as pessoas se estabelecem em um único espaço para fazer caminhos e retornar ao mesmo lugar.

Há ainda opções indicadas para quem busca por aventuras, como um safari em países da África e no Pantanal, ou para relaxar em famílias com crianças, em praias na região de Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte. Existem roteiros construídos para todos os níveis de experiência, desde novatos na prática da cavalaria até os avançados. Segundo Junqueira, uma curiosidade interessante é que a maioria dos clientes brasileiros são mulheres, na faixa etária dos 45 anos. “Quem não conhece acha que as cavalgadas são uma coisa mais masculina”, revela. Dos internacionais, o perfil de público também se aplica.

Além disso, se engana quem pensa que os caminhos percorridos nessas viagens a cavalo são em estradas compartilhadas com outros meios de transporte. A maioria dos roteiros são planejados para se fazer especificamente a cavalo, e em contato profundo com a natureza. “Cruzando trilhas, matas, montanhas, indo a lugares mais intocados. São caminhos que foram organizados para a cavalgada”, explica Junqueira.

Seja como for, os caminhos também percorrem destinos turísticos acessados por outros meios. Por exemplo, é possível ir a cavalo até Machu Picchu, no Perú, conhecer as famosas paisagens italianas da Toscana, ou visitar os castelos e vinícolas no interior da França. “Procura-se incluir no roteiro da cavalgada os pontos turísticos. Mas a gente também privilegia muito o contato com a cultura local, então vamos em vilas, percorremos caminhos que não estão no turismo tradicional”, destaca.

Mais informações: www.cavalgadasbrasil.com.br