Aniversário de Curitiba

Pesquisa Pinó revela hábitos e comportamentos do curitibano

Monique Portela, especial para a Pinó
26/03/2021 15:49
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Abaixo aos títulos únicos, a Curitiba que emerge em 2021 é uma cidade múltipla que se constrói a partir de diversos olhares.

Pensar a identidade de uma cidade é reconhecer o dinamismo que implica a coletividade. Há tantas formas de pensar Curitiba quanto habitantes que nela residem. A cidade que o Centro nos mostra não é a mesma da pequena Vila Izabel ou da gigante Cidade Industrial. Mas, ao mesmo tempo, às vezes sentimos que Curitiba nunca deixou de ser a pacata vila erguida às margens do Rio Atuba, em 1649. Curitiba é um ovo, a gente diz por aqui. E é desse lampejo de unidade que surge a identidade curitibana.
Afinal, o que é essa identidade? Aliás, é possível falar em identidade curitibana? Há quem acredite que tudo se resuma a estereótipos descolados da realidade. Mas vale lembrar que mesmo os estereótipos não surgem de lugar nenhum. Em sua origem podem estar histórias ancestrais de nossa cidade, como você verá nas próximas páginas. Também podemos encontrar o reflexo de preconceitos arraigados, que limitam a nossa percepção e prejudicam uma compreensão mais plena (e saudável) da cidade. De toda forma, a identidade passa pelos estereótipos — e cabe a nós, cidadãos curitibanos, saber interpretá- -los e recriá-los, caso desejemos. “O estereótipo traz a desvantagem do preconceito, da ilusão, mas tem a vantagem de criar uma consciência coletiva”, aponta Jelson Roberto de Oliveira, professor de filosofia da PUC-PR, que em suas pesquisas sobre ética, foca o olhar para as cidades. “A ideia de uma consciência coletiva não é má, faz parte do movimento de construção de relações com a cidade. Pensar que o curitibano é assim ou assado pode ter o benefício de refletir: ‘qual é este lugar comum ao qual nos referimos ao falar de Curitiba?’. Isso pode ser útil para a gente se identificar. Eu vivo em uma cidade que eu compreendo, e para isso preciso de conceitos comuns, coletivos, de cidade.”
O ônibus Expresso  é o símbolo que  melhor representa  a cidade, de acordo com nossa pesquisa. O  primeiro modelo de ônibus expresso  curitibano data da década de 1970.
O ônibus Expresso é o símbolo que melhor representa a cidade, de acordo com nossa pesquisa. O primeiro modelo de ônibus expresso curitibano data da década de 1970.
Se a identidade é coletiva, essa reportagem não poderia ser feita sem a sua participação, caro leitor. Por isso, entre os dias 10 e 26 de fevereiro, a Pinó — junto com Bom Gourmet, HAUS, GazzConecta, Sempre Família, Gazeta do Povo, Clube Gazeta, Tribuna do Paraná e o apoio dos portais Reinaldo Bessa e O que fazer Curitiba – colocou no ar uma pesquisa, cujo resultado na íntegra voce confere aqui, com 30 perguntas que brincam com o imaginário daqueles que vivem por aqui. Em pouco mais de 15 dias, somamos 2.473 respostas que nos ajudaram, de maneira informal e despretensiosa, a responder à pergunta: qual é a atual identidade curitibana? As perguntas abarcam os três pilares que compõem aquilo que entendemos por identidade: as pessoas que aqui habitam, com seus hábitos e costumes; o espaço físico, que são as construções, os atrativos naturais, sua arquitetura e urbanismo; e a relação entre pessoas e espaço, que nada mais é do que a percepção que temos sobre Curitiba e suas curitibanices. A maior parte dos respondentes foram pessoas entre 21 e 59 anos (77,6%) que nasceram e moram na cidade (52,9%) e pessoas que nasceram em outra cidade, mas moram em Curitiba (37,6%). Para nós, todos são curitibanos.
Quanto aos limites desta pesquisa, é verdade: talvez você não se identifique com todas as perguntas e respostas que se seguem. Não poderia ser diferente – o DNA curitibano está sempre em transformação. Neste mesmo segundo, nosso imaginário está sendo confrontado por novos movimentos que pintam a cidade com outras cores. Esperamos que elas sejam vibrantes e promovam, a cada novo aniversário, uma percepção ainda mais positiva da nossa Curitiba.

Quem é o Curitibano?

Qual a característica mais marcante do curitibano? Para esta pergunta, a gente sabe, não tem mistério. Mais da metade dos respondentes (52,7%) acredita que nossa fama de “reservado” transcende os séculos e continua a ser a marca de nosso povo. Há quem evoque o clima, chuvoso e nublado, que faria dos curitibanos naturalmente mais introvertidos. Mas pesquisadores como Balhana, Machado e Westphalen, que escreveram o livro “História do Paraná” (1969), fazem um curioso apontamento. De acordo com os autores, essa fama data dos tempos em que imigrantes de mais de 12 países diferentes, entre eles Alemanha, Polônia, Japão, Ucrânia e Itália, além dos povos ameríndios e africanos, chegaram à Curitiba. E, naturalmente, a diferença na língua e nos costumes causava certa dificuldade na interação. Ainda que não impedisse a boa convivência, criou barreiras para o diálogo. “Surge então a imagem do curitibano fechado e frio”, pontuam.
Se formos usar a mesma linha de raciocínio, nosso mito fundador também revela a vocação curitibana para receber bem – afinal, estamos acostumados com a diversidade. Quem comenta é Marcia S. M. Nakatani, professora do departamento de Turismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), cujo grupo de pesquisa realizou, há alguns anos, uma pesquisa sobre a relação entre os elementos identitários da cidade e o turismo. “Na associação do atrativo com a personalidade do curitibano, [os respondentes falaram] que o curitibano é uma pessoa introspectiva, mas que recebe bem”. Essa foi a opinião de 42% dos respondentes. Se isso tem relação ou não com nossas origens, é outra história: mas o que temos hoje é uma Curitiba preparada para acolher o turista.
Quem sabe seja hora de resgatar o título de Cidade Sorriso, popular por aqui até os anos 1980 — título este, inclusive, que começou nas páginas da Gazeta do Povo, quando o jornalista e caricaturista sergipano Hermes Fontes passou pela cidade e escreveu um elogioso artigo no jornal, em fevereiro de 1929. Sim, precisamos admitir que o sorriso não sai fácil (aliás, a resposta menos votada foi “simpático”, com 1,3% das respostas). Mas quando julgamos que ele vale a pena, o sorriso vem. De acordo com nossos leitores, ser “exigente” é a segunda característica típica dos curitibanos, com 22% dos votos.
Abaixo aos títulos únicos: a Curitiba<br>que emerge em 2021 é uma cidade múltipla, que se constrói a partir de diversos olhares.
Abaixo aos títulos únicos: a Curitiba<br>que emerge em 2021 é uma cidade múltipla, que se constrói a partir de diversos olhares.

Clima

Outra característica que marca a identidade curitibana é o clima. Quem usa o ônibus expresso e passa pelo Centro conhece o clássico de Alvaro Posselt: “Curitiba não nos poupa, ontem tomei sorvete, hoje tomo sopa”. A amplitude térmica que ocasiona mudanças bruscas de temperatura, muitas vezes em um mesmo dia, se sobrepõe até mesmo à fama de “chuvitiba”, dada a crise hídrica que nos assolou. E isso se reflete em nossa pesquisa. De acordo com os respondentes, a vestimenta ideal para encarar o clima curitibano é versátil: camiseta, para os picos de calor, mas aquela blusa esperta para acionar pela manhã e ao fim da tarde (45,2%).
Outra fama que levamos é de estarmos constantemente insatisfeitos com o clima. Para o curitibano típico, ou está muito frio, ou muito calor, ou muito chuvoso ou muito seco, e por aí vai. A cada estação encontramos um problema: e mesmo assim… Gostamos de todas. É o que mostra nossa pesquisa, que traz um equilíbrio quase perfeito entre as respostas para a pergunta: “qual sua estação do ano favorita?”. É preciso pontuar que, apesar da diferença ser mínima, a estação vencedora é o verão, seguida da primavera. E, assim, concluímos que preferimos o sorvete à sopa.
Some o clima instável à nossa característica de povo reservado e temos mais um dado que reflete o curitibano. À pergunta “aos fins de semana, o que você gosta de fazer?”, a resposta campeã, com 27,7% dos votos é: ficar em casa. Muito adequado ao momento que vivemos, no qual impera o isolamento social. Mas sabemos que essa realidade vai além do contexto atual. A casa do curitibano é seu templo, seu refúgio, e de lá, só mesmo o sol para nos levar para fora.

A cidade e o morar

E se a casa é tão importante para os curitibanos, perguntamos para os leitores: qual estilo de moradia mais nos representa? A resposta é: somos mesmos piás de prédio. Com 31,4% dos votos, os apartamentos venceram. Mas foi por pouco. Na cola estão os sobrados (28%) e as casas de rua (27,7%).
Além de ficar em casa, o curitibano afirma que gosta (muito) de ir aos parques (25,2%). Eles são os locais favoritos para a prática de exercícios físicos (33,2%). São, junto aos demais pontos turísticos, motivo de orgulho para a população (46,4%) e tem no Parque Barigui o seu grande representante. Ele foi eleito o favorito da cidade com 43,5% dos votos, seguido do Tanguá (15,3%) e do Jardim Botânico (12%).
E é da cidade também que tiramos os nossos maiores símbolos. Entre as construções históricas, destaca-se o prédio da Universidade Federal do Paraná, eleita a favorita com 50,2% dos votos. Mas pensando no imaginário de Curitiba como um todo, é mesmo o ônibus expresso quem ganha o título de símbolo da cidade (28,5%), poucos votos na frente das nossas araucárias (27%), o Pinheiro do Paraná.
Entre os parques da cidade, o Barigui foi eleito disparadamente o favorito, com 43,5%<br>dos votos, seguido do Tanguá (15,3%) e do Jardim Botânico (12%).
Entre os parques da cidade, o Barigui foi eleito disparadamente o favorito, com 43,5%<br>dos votos, seguido do Tanguá (15,3%) e do Jardim Botânico (12%).

Cultura

Quando pensamos em cultura, o lugar que nos vêm à mente é o Largo da Ordem (35%), seguido do Teatro Guaíra (32,8%) e do Museu Oscar Niemeyer (24,6%) – mesmo que o teatro e o museu não sejam os produtos culturais mais consumidos pelo público respondente, com 2,8% e 6% das respostas, respectivamente. Os grandes vencedores são os livros (40,7%) e os shows (37,4%). Em consonância com nossas preferências culturais, está a figura de Paulo Leminski, consagrado como a personalidade do cenário artístico que melhor representa a cidade, com 173 votos (apenas 13 à frente do Oil Man, é preciso pontuar). Poeta e compositor, sua figura representa com fidedignidade as preferências culturais que emergiram na pesquisa.

Gastronomia

Ainda que Curitiba seja chamada de capital vegetariana, por conta da quantidade de restaurantes que surgiram principalmente a partir de 2014, nossa pesquisa revela que o curitibano típico tem a carne como comida favorita (31,5%). Mas para ser justa, o jogo é bastante acirrado: 25,2% preferem massas; 19,6%, lanches, como pizza, hambúrguer e cachorro-quente e 16,9% curtem pratos mais elaborados. O fato é que gostamos de variedade (assim como é o nosso povo e o nosso clima). Mas também gostamos de qualidade, é claro, porque como você já viu, somos muito exigentes!
Falando sobre o imaginário gastronômico da cidade, o pinhão foi eleito o grande representante da cultura curitibana (35,4%). Era de se esperar – o símbolo se expande para além do prato. Está no petit-pavê, nos quiosques, nos logos oficiais da cidade e por aí vai. Em segundo lugar, elegemos a carne de onça (27,6%), declarada patrimônio Falando sobre o imaginário gastronômico da cidade, o pinhão foi eleito o grande representante da cultura curitibana (35,4%). Era de se esperar – o símbolo se expande para além do prato. Está no petit-pavê, nos quiosques, nos logos oficiais da cidade e por aí vai. Em segundo lugar, elegemos a carne de onça (27,6%), declarada patrimônio oficial de Curitiba em 2016. Inspirada no hackepeter alemão, leva carne magra, crua e moída, servida sobre uma broa preta e úmida. Carne de boi e não de onça, é bom pontuar.
Para fechar, perguntamos sobre qual bebida representaria o curitibano. Esquecemos de colocar o café entre as opções, falha nossa, já que a cidade é conhecida por valorizar o café especial. Mas entre cervejas artesanais (20,2%), vinhos de Santa Felicidade (16,4%), quentão das feirinhas (16,5%) e mate (7,7%), ficamos com a gasosa (39,2%). Com certeza os sabores gengibirra e framboesa estão presente na memória afetiva de muitos curitibanos e na mesa de tantos outros.
A gasosa foi eleita como a bebida mais característica de Curitiba. Na foto, linha de produção de gasosa sabor framboesa, da  paranaense Cini Bebidas.
A gasosa foi eleita como a bebida mais característica de Curitiba. Na foto, linha de produção de gasosa sabor framboesa, da paranaense Cini Bebidas.

Inovação

O curitibano é inovador? Para 68% a resposta inequívoca é: sim! E se você já deu uma olhada na seção de notas desta revista, sabe que temos provas a nosso favor. Somos a única cidade da América do Sul no ranking 2021 da Intelligent Community Forum (ICF), que elenca as cidades mais inteligentes do mundo. Já no campo regional, Curitiba é a cidade com mais startups em todo o estado, concentrando 29,42% delas. Vale lembrar também que os dois unicórnios do Sul do Brasil são nossos: Ebanx e MadeiraMadeira. Para 20,9% dos respondentes, a inovação é a principal característica empreendedora dos curitibanos, perdendo apenas para a disciplina, com 35,1% dos votos. Você concorda?

Cidade Múltipla

Tudo isso nos leva à pergunta: qual título melhor representa a Curitiba de 2021? Para a maior parte dos respondentes, Curitiba continua a ser bem representada pelo título de “cidade ecológica” (38,1%). Mas tivemos um bom percentual de votos para todos os títulos: “cidade da inovação” (24,6%), “cidade da gastronomia” (15,5%), “cidade da cultura” (12,9%) e “cidade da arquitetura e do design” (9%).
Independentemente das respostas, de uma coisa nós sabemos: Curitiba há muito deixou de ostentar apenas um título. Somos a cidade da inovação, da gastronomia, da arquitetura, do design e de muitas outras áreas que aqui encontraram espaço para crescer e se desenvolver. A diversidade é nossa riqueza e, cada vez mais, precisamos enfatizá-la. Por outro lado, é preciso fazer com que os títulos não ocultem os problemas que cada uma dessas áreas também encontra. “Todos nos elogiam por ser uma capital ecológica, por termos muitos parques, por exemplo. Mas por um momento eu preciso pensar que também temos um rio que atravessa a cidade, um rio absolutamente poluído, que é o rio Belém. Essas questões também deveriam entrar em pauta quando pensamos sobre a identidade curitibana”, aponta o professor Jelson. Vale a reflexão.
A sede central da Universidade Federal do Paraná é a construção histórica que melhor representa a cidade. Em<br>2001, a construção recebeu o título de “Local Símbolo da Cidade de Curitiba”<br>pela Lei nº 10.236
A sede central da Universidade Federal do Paraná é a construção histórica que melhor representa a cidade. Em<br>2001, a construção recebeu o título de “Local Símbolo da Cidade de Curitiba”<br>pela Lei nº 10.236

Se você fosse dar um presente para o aniversário da cidade, o que seria?

Em 29 de março,<br>o berço das araucárias<br>celebra 328 de história.
Em 29 de março,<br>o berço das araucárias<br>celebra 328 de história.
Esta foi a última pergunta da pesquisa “Como você enxerga Curitiba?”, realizada pela Pinó em fevereiro de 2021. Organizamos as 1.760 respostas abertas em grupos temáticos e agora você pode conferir o “top 4 presentes mais desejados” para nossa cidade:
  • 1) VACINA: O que o curitibano (e todo o mundo) quer é voltar a circular pelas ruas com tranquilidade. Se dependesse das respostas dessa pesquisa, todo os moradores da cidade já estariam vacinados!
  • 2) SISTEMA INOVADOR DE TRANSPORTE: Um novo sistema de transporte foi a aposta de vários respondentes. E as opções são variadas: metrô, VLT (veículo leve sobre trilhos), trem ou ônibus elétricos entraram na lista de presentes.
  • 3) PLANTIO DE ÁRVORES: Para que Curitiba continue a ostentar o título de cidade ecológica e cidade das araucárias, os residentes propuseram o plantio de muitas Araucaria angustifolia, árvore-símbolo da nossa cidade, bem como de outras espécies frutíferas.
  • 4) ABRAÇOS, AGRADECIMENTOS, SORRISOS E FLORES: Homenagens de todos os tipos seriam prestadas à cidade em seu aniversário. Entre tantos gestos de carinho, como dizer que o curitibano não é gentil?
http://bit.ly/resultado_pesquisapino