Ginástica artística

O baile de Rhony Ferreira, o curitibano responsável pelas coreografias de Rebeca Andrade em Tóquio

Jaqueline Dubas, especial para Pinó
25/01/2022 10:00
Thumbnail

Rhony Ferreira criou a coreografia ao som de Baile de Favela para Rebeca Andrade. | Reprodução/Instagram

Em 2021 a ginasta Rebeca Andrade encantou os brasileiros ao se apresentar ao som de “Baile da Favela”, de MC João, durante os Jogos Olímpicos de Tóquio. O que nem todos sabem é que por trás desse funk carioca tem a mão de um curitibano:  Rhony Ferreira.
Coreógrafo da Seleção Brasileira de Ginástica e responsável pela coreografia apresentada por Rebeca, ele coleciona vitórias em seu currículo. É dele também a não menos conhecida coreografia embalada pela música “Brasileirinho”, de Daiane dos Santos.
Rhony Ferreira e Rebeca Andrade.
Rhony Ferreira e Rebeca Andrade.
Na fase mais madura de sua carreira até o momento, ele acaba de aceitar o convite recente da Federação de Ginástica dos Estados Unidos, a U.S Gymnastic, para coreografar algumas apresentações de ginastas americanas. Diretamente da terra do Tio Sam, ele conversou com a Pinó sobre sua trajetória e planos.

O começo

Tudo começou na Praça Oswaldo Cruz em Curitiba. Com apenas seis anos, Rhony Ferreira já mostrava sua elasticidade nas aulas de ginástica. Sua profissão foi definida por essa paixão, que o levou a cursar Educação Física na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Logo em seguida, se especializou em ginástica rítmica e artística.
Escolhas fizeram novamente o aficionado por dança reencontrar a Praça Oswaldo Cruz quando recebeu a oportunidade da Professora Lucélia Pissaia para dar aula enquanto se formava. Logo se tornou treinador de ginástica na Escola Paranaense de Ginástica, referência do esporte em Curitiba no fim do século passado. Com entusiasmo, Rhony recorda o tempo de bailarino na Sociedade Ucraniana Brasileira, que lhe trouxe experiência com músicas eslavas, dança folclórica ucraniana e todo o encanto do balé clássico.

Carreira sólida

Essa trajetória fez com que Rhony Ferreira construísse uma carreira na ginástica brasileira e os resultados começaram a chegar já no início dos anos 2000.  Foi coreógrafo de grandes ginastas brasileiras, como a pequena-gigante Daiane dos Santos, nove vezes campeã mundial e participante de três olimpíadas (Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012). Rhony marcou seu nome ao coreografar a apresentação icônica de Daiane dos Santos ao som do “Brasileirinho”, o choro de Waldir Azevedo.
Nesse gingado, a ginasta conquistou seu primeiro mundial em 2003 nos Estados Unidos e realizou pela primeira vez em competições o duplo twist carpado. Com a pitada da ginga de Rhony, a apresentação abriu as portas para popularizar o ritmo brasileiro nos tablados. Até então, apenas músicas clássicas e estrangeiras faziam parte das coreografias.
Rhony Ferreira está nos EUA treinando as americanas.
Rhony Ferreira está nos EUA treinando as americanas.
Esteve também envolvido em grandes conquistas com Jade Barbosa, Flávia Saraiva, Carolyne Pedro. Recentemente, fez Rebeca Andrade brilhar nos Jogos de Tóquio ao som de “Baile da Favela”, de MC João. “Quando temos um campeonato de alto nível, como o mundial, pan e olimpíadas, essa é a nossa chance de mostrar ao mundo a nossa cultura”, diz o curitibano que é um entusiasta do carnaval carioca.

Conquistando o mundo

Com o sucesso de Rebeca Andrade em solo japonês, os holofotes também iluminaram a competência de Rhony, o que chamou a atenção do mundo, especialmente da maior potência do esporte, os Estados Unidos. Recentemente, no fim de 2021, ele recebeu um convite da Federação de Ginástica dos Estados Unidos, a U.S Gymnastic, para coreografar algumas apresentações de ginastas americanas. “Estou muito lisonjeado com essa oportunidade, pois isso mostra que a ginástica brasileira já está se tornando referência para grandes potências.”
Já em terra estrangeira, Rhony Ferreira leva agora um pouco do Brasil para o mundo, e conta que até as ginastas canadenses estão tentando fazer samba atualmente, e as americanas já se animam ao som do funk. “Nossa música é energética, é para cima, temos um gingado diferente.”

 Inspirações

As inspirações, contudo, vão além do samba e do funk. “Nós temos um potencial nas danças regionais, uma grande diversidade de ritmos em todo o Brasil  e nossa cultura já influencia o mundo”, afirma o coreógrafo, que bebe da fonte de grandes nomes da arte para consolidar seu estilo.
Entre eles o estadunidense William Forsythe, coreógrafo e dançarino conhecido internacionalmente pelo seu trabalho com o Ballet de Frankfurt. No Brasil, inspira-se em Octávio Nassur, produtor cultural e diretor do Dance Concept Brasil desde 1998, que também já foi jurado da “Dança dos famosos”. Por fim, no estado do Paraná ele cita como maior  influência Luiz Fernando Bongiovanni, diretor do Balé Teatro Guaíra, uma das maiores companhias de danças do Brasil.

Futuro

Na correria da nova rotina nos EUA, ele também falou dos planos para os próximos meses e anos. “Estou nos Estados Unidos, numa correria, cheguei para montar coreografias para algumas ginastas americanas, mas logo estarei voltando para o Brasil. Porque o trabalho para Paris 2024 já começou”, diz ele, referindo-se à próxima edição dos Jogos Olímpicos. “Montar uma coreografia exige regras, pois há movimentos obrigatórios, então precisamos ter estratégia”, conta.
Rhony Ferreira
Rhony Ferreira
Por fim, perguntado sobre o próximo ritmo que deverá embalar as atletas - e toda a nação brasileira - na Olimpíada, ele estrategicamente desconversa, esconde o ouro. Alguém arrisca?