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Governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), anuncia a campanha de vacinação contra a dengue no estado | Antônio More/Gazeta do Povo/Arquivo
Governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), anuncia a campanha de vacinação contra a dengue no estado| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo/Arquivo

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) cobra publicamente a interrupção da campanha de vacinação contra a dengue feita pelo governo do Paraná desde meados de 2016. Nota divulgada pela entidade no último dia 11 aponta para a existência de dúvidas em relação à efetividade da vacina, que é um produto desenvolvido pela multinacional francesa Sanofi Pasteur, chamado de “Dengvaxia”. Além disso, a Abrasco alerta que a vacina não é recomendada para quem nunca teve contato com o vírus da dengue.

Na nota, a entidade escreve que estudos feitos no âmbito da Organização Mundial da Saúde (OMS) encontraram evidências de que indivíduos que não tinham anticorpos contra a dengue antes de receberem a vacinação (ou seja, pessoas soronegativas) tinham mais chance de adquirir a forma grave da doença se, após a vacinação, fossem picados por um mosquito infectado. “No Brasil, a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] acompanhou a OMS, modificando a bula do produto e recomendando que pessoas soronegativas não deveriam tomar a vacina”, explica a entidade.

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“Desde o seu lançamento, dúvidas foram levantadas sobre a efetividade do produto, em função da sua baixa eficácia, em torno de 65%, sobre a faixa etária restrita, e sobre a adesão das pessoas às três doses, com seis meses de intervalo entre cada uma delas”, descreve a entidade. Em função disso, a Abrasco informa que foi proposta no âmbito do Ministério da Saúde uma agenda de pesquisa que subsidiasse uma decisão a respeito da incorporação ou não da vacina pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Mas, até o momento, destaca a nota, não há uma decisão. 

A despeito disso, protesta a Abrasco, “as altas autoridades da Secretaria da Saúde do Paraná decidiram promover em 2016 uma campanha de vacinação em massa com a Dengvaxia”.

Autonomia

Procurado pela Gazeta do Povo nesta terça-feira (23), o Ministério da Saúde, pasta que é comandada pelo paranaense Ricardo Barros (PP), confirma que os estudos ainda estão em andamento e que não há definição sobre a introdução da vacina contra a dengue no Sistema Único de Saúde (SUS). A pasta pondera, contudo, que estados e municípios têm “autonomia para avaliar e adquirir qualquer vacina devidamente registrada na Anvisa e realizar a vacinação da população, de acordo com as necessidades locais”.

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Outro lado

À Gazeta do Povo, a Secretaria da Saúde do governo do Paraná rebate a manifestação da Abrasco e informa que não irá suspender a campanha, prevista para ser retomada entre março e abril próximos. Até agora, já foram realizadas três etapas da campanha no Paraná, ao custo de R$ 90 milhões: agosto/setembro de 2016, março/abril de 2017 e setembro/outubro de 2017. No período, cerca de 300 mil pessoas já receberam ao menos uma dose da vacina. A ideia agora, entre março e abril, é completar o ciclo daqueles que já receberam duas doses. 

Em nota encaminhada à reportagem, a Secretaria da Saúde explica que a campanha é direcionada somente aos 30 municípios do Paraná considerados “endêmicos e epidêmicos”, ou seja, que registraram “alta circulação viral”. “São cidades que concentraram 82% dos casos confirmados, 91% dos casos graves e 87% das mortes por dengue do Estado”, cita a nota.

“Tendo em vista que cerca de 80% dos casos de primeira infecção por dengue é assintomática, ou seja, a pessoa não identifica a doença, mesmo aqueles que não tiveram o diagnóstico e vivem em cidades endêmicas podem ter tido contato com o vírus, o que reforça a decisão do Paraná em vacinar nos municípios selecionados”, continua a Secretaria da Saúde.

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Os 30 municípios que se tornaram alvos da campanha são os seguintes: Paranaguá; Foz do Iguaçu; Santa Terezinha de Itaipu; São Miguel do Iguaçu; Boa Vista da Aparecida; Tapira; Santa Izabel do Ivaí; Cruzeiro do Sul; Santa Fé; Munhoz de Melo; Marialva; Paiçandu; São Jorge do Ivaí; Maringá; Mandaguari; Sarandi; Iguaraçu; Assaí; Ibiporã; Jataizinho; Porecatu; Bela Vista do Paraíso; Cambé; Londrina; Sertanópolis; Leópolis; São Sebastião da Amoreia; Itambaracá; Cambará; e Maripá.

Também há restrição de faixa etária: as vacinas são ofertadas apenas para pessoas de 15 a 27 anos em 28 cidades, e de 9 a 44 anos em Paranaguá e Assaí.

A Secretaria da Saúde informa ainda que está monitorando todos os vacinados nos 30 municípios e que até agora não registrou nenhuma reação adversa grave: “Desde agosto de 2016, quando foi definida a campanha de vacinação contra a dengue, foram confirmados 1241 casos de dengue no Paraná e nenhuma morte pela doença, sendo que somente 40 pessoas vacinadas foram notificadas com suspeita clínica de dengue leve, sem confirmação laboratorial”.

Produção

O Paraná foi o único estado brasileiro que comprou vacina contra a dengue. As doses foram adquiridas pelo governo do estado por inexigibilidade de licitação, já que a multinacional francesa Sanofi Pasteur é a única no mundo a oferecer o produto, a “Dengvaxia”.

Na nota encaminhada à reportagem pelo Ministério da Saúde, a pasta também trata dos estudos em andamento no Brasil, para a produção de uma vacina do tipo. 

“Cabe destacar que a pasta já repassou R$ 100 milhões para custear a terceira e última fase da pesquisa clínica da vacina da dengue que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan. Essa vacina tem potencial para proteger contra os quatro vírus da dengue com uma única dose, além de poder ser aplicada em pessoas de todas as idades, inclusive em crianças e idosos, consideradas as populações mais vulneráveis”, informa o Ministério da Saúde.

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