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Elejor, sociedade de propósito específico da qual a Copel é a maior acionista, tinha contador de Richa no Conselho de Administração. | Marcelo Elias    /    Gazeta do Povo
Elejor, sociedade de propósito específico da qual a Copel é a maior acionista, tinha contador de Richa no Conselho de Administração.| Foto: Marcelo Elias /    Gazeta do Povo

Elementos já colhidos no âmbito da Operação Rádio Patrulha revelam uma ligação entre negócios privados da família do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) e a Companhia Paranaense de Energia (Copel), maior acionista da Elejor - sociedade de propósito específico (SPE) aberta em 2001 para explorar o Complexo Energético Fundão Santa Clara. O ponto de conexão é o contador Dirceu Pupo Ferreira, que foi indicado para presidir o Conselho de Administração da Elejor em abril do ano passado pelo tucano, então governador do Paraná. 

Em ao menos três empresas, Ferreira é sócio de Fernanda Richa, ex-secretária e esposa de Beto Richa, e também dos filhos do casal, André, Rodrigo e Marcello. Ferreira chegou a ficar preso durante quatro dias na esteira da Operação Rádio Patrulha.

No final da manhã desta segunda-feira (17), a Gazeta do Povo entrou em contato com a Copel e com a Elejor para verificar a situação de Ferreira. No final da tarde, a reportagem foi informada de que o tema entrou na pauta da assembleia de acionistas da SPE e que, por unanimidade, Ferreira foi destituído da cadeira. O tema foi abordado a partir de um pedido encaminhado pela governadora do Paraná Cida Borghetti (PP) , candidata à reeleição.

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No último dia 11, locais ligados a Ferreira (residência e empresas) foram alvos de mandados de busca e apreensão pedidos tanto pela equipe da Lava Jato, que deflagrava a Operação Piloto, tanto pela Operação Rádio Patrulha.

O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal, responsáveis pela Operação Piloto, estão focados no processo de licitação da obra da PR-323, que teria sido direcionado à Odebrecht. Já o Ministério Público do Estado do Paraná (MP-PR) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), à frente da Operação Rádio Patrulha, se concentram em suposto direcionamento na licitação de lotes do programa estadual Patrulha do Campo. Nos dois casos, contudo, os investigadores acabaram chegando também em negócios privados da família Richa. Há suspeita de utilização de empresas para lavar dinheiro obtido de forma ilícita.

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Ferreira é sócio da Sagezza Administradora de Bens S/A, junto com André Vieira Richa e Rodrigo Vieira Richa. A empresa foi aberta em 22 de maio de 2017, praticamente um mês depois da indicação do contador à principal cadeira do Conselho de Administração da Elejor, em 25 de abril de 2017. Ferreira também é sócio, junto com Marcello Bernardi Vieira Richa, da Green Gold Empreendimentos Imobiliários Ltda, aberta em 2010. Já a HP Administradora de Bens e Participações Ltda foi aberta em julho de 2014. Ferreira e Fernanda Bernardi Vieira Richa integram a lista de sócios.

Ao deflagrar a Operação Piloto, a PF anotou que os locais relacionados a Ferreira possivelmente guardariam “documentos relevantes”. Ferreira também seria o contador do empresário Jorge Atherino, preso preventivamente há uma semana, por determinação do juiz federal Sergio Moro, à frente dos processos da Lava Jato. Em acordo de colaboração premiada já firmado com a equipe da Lava Jato, Nelson Leal Júnior, ex-diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), aponta Beto Richa como “sócio oculto” de Jorge Atherino.

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Na semana passada, Ferreira e outras 14 pessoas – incluindo Fernanda e Beto Richa - foram alvos de mandados de prisão na Operação Rádio Patrulha. Foram liberados na madrugada de sábado (15), beneficiados por uma decisão do ministro Gilmar Mendes , do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ferreira é suspeito de cometer crime de lavagem de dinheiro. O Gaeco também acredita que, em agosto, ao saber da existência da investigação, Ferreira procurou orientar uma das possíveis testemunhas, na tentativa de esconder provas

Outro lado

Em entrevista à Gazeta do Povo nesta segunda-feira (17), o diretor-presidente da Elejor, Julio Jacob Junior, comentou que Ferreira “tinha muito conhecimento contábil, estava sempre presente”. Jacob disse também que não sabia da relação de Ferreira com as empresas da família Richa. Questionado pela reportagem se ele via algum impasse ético na indicação, Jacob se limitou a dizer que considerava que “o assunto está resolvido”, em referência à destituição de Ferreira na tarde desta segunda-feira (17).

Gazeta do Povo fez o mesmo questionamento para a Copel, mas a companhia de energia se limitou a informar as datas de entrada e saída de Ferreira da cadeira de presidente do Conselho de Administração da Elejor. À reportagem, a assessoria de imprensa de Beto Richa informou que Ferreira foi indicado porque “possui formação profissional e qualificação técnica para exercer a função de conselheiro” e “não há nenhum impedimento legal”.

Em nota à imprensa distribuída no último domingo (16), o advogado de Ferreira, Gustavo Alberine Pereira, sustentou que os atos praticados por seu cliente “em nome da família Richa” foram “legais e serão devidamente esclarecidos”.

Acrescentou também que Ferreira “jamais buscou atrapalhar as investigações”. “Não orientou qualquer testemunha sobre o que deveria ou não testemunhar e juntará documentos comprovando o alegado”, escreveu o advogado. Nesta segunda-feira (17), a Gazeta do Povo tentou um novo contato com a defesa de Ferreira, para tratar do caso Elejor, mas não houve retorno.

 

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