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Deputado estadual Plauto Miró (DEM) é um dos investigados na Operação Quadro Negro. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Deputado estadual Plauto Miró (DEM) é um dos investigados na Operação Quadro Negro.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O dono da Construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, e um secretário municipal de Ponta Grossa recorreram ao deputado estadual Plauto Miró (DEM) para liberar pagamentos em obras de escolas que, posteriormente, passaram a ser investigadas pela Operação Quadro Negro. Em maio, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) instaurou um inquérito criminal para apurar a eventual participação do parlamentar no esquema. Até agora, as investigações já apontaram que mais de R$ 20 milhões foram desviados da construção e reforma de colégios.

Os indícios constam do laudo realizado no iPhone de Lopes de Souza, apreendido pelas autoridades. Em 4 de fevereiro de 2014, o dono da Valor conversava pelo WhatsApp com o secretário de Administração de Ponta Grossa, João Nei Marçal Júnior. A empreiteira mantinha contratos para executar três obras na cidade: duas escolas municipais e uma estadual. Na troca de mensagens, eles falam sobre pagamentos à construtora e mencionam Plauto – que tem naquele município um de seus principais redutos eleitorais.

Lopes de Souza: “Olá!! Tudo bem??? Alguma novidade de pagamento??

Marçal Júnior: “Nada. Temos que pressionar”.

Lopes de Souza: “Vc liga para Plauto?” .

Marçal Júnior: “Vou falar sobre isso”.

No fim do mês seguinte, em 26 de março, o secretário de Ponta Grossa envia uma mensagem a Lopes de Souza, avisando: “Finalmente, chegou o recurso – primeira parte. Vamos em frente”. Não há menções diretas ao deputado, nesta conversa específica.

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Delação aponta como a negociação era feita

Em sua delação homologada pela Justiça, Lopes de Souza fala sobre essas obras e menciona o deputado Plauto Miró. Ele relatou que foi com o chefe de gabinete do parlamentar a Ponta Grossa, onde se reuniram com o secretário de Administração e combinaram o direcionamento de licitações à Valor.

“Conversamos com ele, o chefe de gabinete do Plauto disse: ‘Viemos aqui acertar a obra do Plauto para a Valor’. O combinado foi que eles afastariam os outros participantes e eu concorreria sozinho. Algum tempo depois o João Nei [Marçal Júnior] me contou que não teria conseguido afastar os outros concorrentes e que a solução seria eu dar dinheiro a cada um dos outros participantes para que deixassem de concorrer”. Na maior licitação em Ponta Grossa, a Valor concorreu sozinha.

Encontros na Assembleia

Além disso, as mensagens recuperadas do celular de Lopes de Souza apontam que o empresário costumava se encontrar com Plauto na Assembleia. A reunião mais recente ocorreu em 24 de abril de 2015 – quatro meses antes de a Quadro Negro ter sido deflagrada. Conversas de WhatsApp mostram o dono da Valor agendando o encontro e, posteriormente, avisando o deputado que estava na Assembleia.

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Os dados do iPhone de Lopes de Souza revelam ligações constantes ao gabinete de Plauto na Assembleia Legislativa e ao chefe de gabinete do parlamentar, José Alci de Oliveira. Só entre 12 e 23 de junho de 2015 – um mês antes da Quadro Negro –, o dono da Valor ligou 17 vezes ao celular do assessor de Plauto. O histórico de chamadas também aponta três ligações feitas diretamente ao deputado e outras nove ao gabinete.

As escolas prejudicadas pelos desvios da Quadro Negro

Entre as três obras que eram executadas pela Valor em Ponta Grossa, o caso mais emblemático é o da construção da nova sede Escola Estadual Francisco Pires Machado, no bairro Cará-Cará. A obra estava orçada em R$ 4,7 milhões, mas a construtora abandonou o empreendimento em setembro de 2015, três meses após a eclosão da Quadro Negro. Deste total, efetivamente R$ 1,5 milhão havia sido repassado à Valor.

Em dezembro do ano passado, Gazeta do Povo visitou a escola e constatou o estado de abandono da obra.

Os outros colégios de Ponta Grossa que tinham intervenções sob responsabilidade da Valor são o Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Sophia Adamowickz e a Escola Municipal Kamal Tebcherani. No caso do CMEI Sophia, 31,5% das obras foram executadas, até que a Valor abandonasse os trabalhos. A Kamal teve 32,6% dos serviços realizados. O Grupo de Atuação na Proteção ao Patrimônio (Gepatria), do MP-PR, instaurou inquéritos civis para apurar os respectivos casos.

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Inquéritos criminais

Em maio, o procurador-geral de Justiça, Ivonei Sfoggia, instaurou inquérito para apurar a eventual prática de crimes por parte de Plauto no âmbito da Quadro Negro. A abertura do inquérito foi baseada, principalmente, pela delação de Eduardo Lopes de Souza, que apontou que o deputado teria recebido R$ 600 mil em propina, desviados das obras de escolas estaduais. Em troca, o parlamentar – que é primeiro secretário da mesa executiva da Assembleia – teria agilizado a devolução de recursos da Casa ao Executivo. Esse dinheiro teria sido usado para pagar aditivos de contratos a construtoras do esquema.

Além de Plauto, o MP-PR também instaurou inquérito criminal contra o presidente da Assembleia, Ademar Traiano (PSDB). Na semana passada, a Gazeta do Povo mostrou que conversas entre Lopes de Souza e Traiano indicam que o parlamentar tinha ingerência sobre a liberação de pagamentos às empreiteiras.

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Outro lado

Por meio de sua assessoria de comunicação, o deputado Plauto Miró “reforça que já fez todos os esclarecimentos sobre o assunto ao Ministério Público, e que por isso não vai comentar detalhes que inquérito que corre em sigilo. O Deputado reforça que o inquérito servirá para mostrar a inverdade dos fatos que foram atribuídos a sua pessoa”.

A Gazeta do Povo tentou ouvir o ex-secretário de Administração de Ponta Grossa, João Nei Marçal Júnior, mas não conseguiu contato. A reportagem telefonou para o número de celular por meio do qual o ex-agente público conversou com Lopes de Souza, mas as ligações não foram atendidas.

A defesa de Lopes de Souza disse que não vai se manifestar, porque o processo está sob segredo de justiça.

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