Segunda maior acionista da Sanepar, a Copel anunciou aos investidores na última sexta-feira (17) a conversão das 44,3 milhões de ações que detém da companhia de saneamento em cerca de 8,9 milhões de Units. A manobra, que já era esperada pelo mercado, dá força à estratégia da Sanepar de reduzir a ingerência estatal sobre a empresa e, ao mesmo tempo, ganhar liquidez. De quebra, o governo Beto Richa (PSDB) projeta arrecadar em torno de R$ 500 milhões com a medida. “É uma relação ganha-ganha”, explica um analista ouvido pela Gazeta do Povo.
Anunciada como fato relevante pela Sanepar no final de outubro, a movimentação pretende mudar o perfil dos papéis da empresa negociados na Bolsa de Valores. Em linhas gerais, cada Unit vai combinar uma ação ordinária e quatro preferenciais. A jogada é dar mais liquidez às ordinárias, que têm direito a voto, mas não contam com preferência na distribuição de lucros. Portanto, ao agrupá-las às preferenciais, a negociação dos papéis torna-se mais atrativa.
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“Não é regra que as ações ordinárias tenham baixa liquidez, mas é bastante comum em companhias estatais, já que quase todo o poder de decisão está nas mãos do governo. Na prática, como os preferencialistas é que têm direito a prêmios por meio dos dividendos, ter ações ordinárias nas mãos não faz diferença quase que nenhuma”, analisa Adeodato Volpi Neto, estrategista-chefe da Eleven Financial, que monitora a movimentação de mercado da Sanepar. “Por isso, as Units te permitem compensar financeiramente tua posição minoritária. A expectativa é que essa decisão da Copel se repita em outros detentores de ações ordinárias, com uma migração massiva e um grande volume negociado de Units.”
Além do viés financeiro, a nova composição de ações vem acompanhada de uma série de compromissos anunciados ao mercado na tentativa da Sanepar de se apresentar como uma empresa com melhores práticas corporativas. Uma delas dá direito a veto aos preferencialistas. Ou seja, quem comprar ações do tipo preferencial, mesmo não tendo direito a voto, terá a possibilidade de se posicionar contra decisões que prejudiquem a rentabilidade da empresa. Um exemplo disso ocorreu em março, quando a Agência Reguladora do Paraná (Agepar) decidiu escalonar em oito anos a revisão de 25,6% da tarifa de água – e não em quatro, como o mercado previa.
Para Volpi Neto, o lançamento das Units passa aos investidores justamente a leitura de “quanto menos governo, melhor”. “A mensagem que fica é que está havendo melhorias significativas na governança e no compromisso de dar sequência na gestão de controle a ingerências na empresa. E isso é ótimo”, afirma. “É óbvio que todos vão dizer: ‘Lá vai o Beto Richa achar outro jeito de botar dinheiro no bolso’. Mas, bem ou mal, o governo está utilizando essa frente de recursos para dar liquidez à empresa. É uma relação ganha-ganha: a governança da companhia melhora, o caixa melhora, as ações ganham liquidez.”
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Índice Ibovespa
Outro reflexo do lançamento das Units é que as ações da Sanepar podem passar a integrar o índice Ibovespa ainda no primeiro trimestre do ano que vem. Atualmente, cerca de 450 ações diferentes são negociadas na Bolsa de Valores brasileira, mas apenas 58 ativos compõem o índice, que agrega os papéis mais representativos do mercado brasileiro.
“O significado é que cada investidor, de qualquer lugar do mundo, que comprar um pedaço do índice Ibovespa acabará levando um pouquinho da Sanepar. Isso gera uma compra passiva: o investidor não vai comprar nem 1% da empresa por exemplo, mas o volume negociado é tão grande que faz diferença na precificação da ação. E isso é excelente para a companhia”, avalia Volpi Neto.
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