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O ex-deputado Tony Garcia deu detalhes ao Ministério Público de como funcionaria o esquema de propinas de Beto Richa. | Divulgação/Facebook
O ex-deputado Tony Garcia deu detalhes ao Ministério Público de como funcionaria o esquema de propinas de Beto Richa.| Foto: Divulgação/Facebook

Nas 56 páginas do acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público e já homologado pela Justiça, Tony Garcia revela todos detalhes de como foi arquitetado e como funcionou na prática o esquema de desvio no programa “Patrulha do Campo”. Em um dos trechos, o ex-deputado afirma ter levado R$ 220 mil em envelopes, dentro de uma sacola de plástico, à casa do ex-governador Beto Richa (PSDB) . O tucano está preso desde terça-feira (11) no âmbito da Operação Rádio Patrulha - ele e os demais citados negam a acusação.

Ao dar detalhes do acordo entre empresários e integrantes do governo para direcionar parte do dinheiro ilícito – 8% sobre o faturamento bruto dos contratos ou 10% sobre o líquido − à campanha de reeleição de Richa, em 2014, Tony contou episódios de entrega de recursos aos arrecadadores indicados pelo tucano. E com uma dessa figuras, o “primo distante” do ex-governador, Luiz Abi, o ex-parlamentar disse ter tido “desavenças muito grandes”. Segundo ele, “Abi queria ter o monopólio do Beto pra fazer as coisas, pra arrecadar dinheiro, pra fazer tudo”.

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Tony contou que Abi “começou a fazer fofoca de tudo quanto é lado” e disse a Richa que ele teria “pegado” US$ 500 mil dólares do esquema. “O Beto tava achando que eu tava roubando ele”, afirmou ao MP. Após fazer uma “confusão” na casa do tucano por causa da acusação, ficou esclarecido que se tratava, na verdade, de R$ 50 mil e US$ 50 mil, e Abi teria dito que se confundiu. Desde então, o delator “não mexia mais com ele [Abi]”. “Você tá com bronca com o Luis Abi? Entregue pro Ezequias [Moreira]”, foi a orientação recebida de Richa a partir de então.

A troca, porém, não evitou uma segunda “confusão”, em setembro de 2014. Tony combinou com Ezequias de entregar a ele R$ 220 mil num hotel, no bairro Batel, em Curitiba. O dinheiro havia sido repassado pelo empresário Celso Frare, da Ouro Verde. Mas, quando os dois foram pegar a sacola no porta-malas do carro de Tony, Ezequias, que estaria “meio bêbado”, disse que não iria pegar o pacote. “Depois esse Luis Abi vai falar o que fez com você, vai fazer comigo também. Vai falar que eu peguei”, foi a justificativa. Como o ex-deputado ameaçou jogar o pacote dentro do carro de Ezequias e ir embora, o arrecadador de Richa afirmou: “Pode jogar. Eu jogo na rua. Eu não vou ficar”.

Com medo de ser assaltado, Tony Garcia, então, ligou para Richa e foi até a casa dele por volta das 20 horas. Ao entregar a sacola ao tucano e comunicar que era dinheiro do esquema, o então governador se assustou: “Mas tá louco, você vai trazer esse dinheiro aqui em casa? A Fernanda tá aí”. “Beto, eu não vou andar com o dinheiro no carro. Ou você me fala o que é pra fazer ou eu não vou ficar com esse dinheiro no meu carro. Vai ficar aqui, vou virar as costas, vou entrar no elevador e vou embora”, foi a resposta. Diante do imbróglio, Richa o orientou a entregar o dinheiro ao irmão dele, Pepe.

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“Ó, o Ezequias era pra te entregar, mas refugou. O Beto ficou puto da cara que ele tá bêbado, eu não vou ficar com isso no carro. Tá aí”, disse Tony ao chegar à casa do irmão do ex-governador. Ele contou ter colocado os envelopes dentro de uma “malinha de botar coisa de clube, material de jogar tênis” por ter medo de que a mulher de Pepe, que é juíza do Trabalho, descobrisse. “Peguei e vazei”, afirmou o ex-parlamentar. Também com receio da esposa, Pepe disse que iria pedir que Luis Abi mandasse alguém pegar o dinheiro.

Aos poucos, Richa teria começado “a jogar direto” com os empresários e Tony disse que passou “a fazer papel de bobo”. Depois de ser cobrado pelos US$ 500 mil dólares que não teria repassado ao caixa do esquema, ele gravou uma conversa com o ex-governador para se proteger – aquela em que o tucano menciona o termo “tico-tico”. “Aí eu já vi o seguinte, não tinha mais o meu amigo Beto. Não tinha mais a pessoa que eu confiava e que confiava em mim. Ali tinha uma pessoa que tinha vendido a alma. O negócio era grana. Daqui um pouquinho eu seria o ‘amigo ultradistante’ que faria as coisas, que tinha roubado, que teria sido ladrão, que teria feito os malfeitos que ele não sabia.”

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Benefício total

No acordo de delação premiada, Tony Garcia recebe o “perdão” de todos os crimes dos quais participou em relação ao Patrulha do Campo e que revelou aos promotores. Além disso, o MP também se compromete com ele a não oferecer denúncia sobre qualquer outra irregularidade cometida antes da celebração do acordo e que ainda não é alvo de investigação.

Para ter direito ao benefício, o ex-deputado teve de entregar todas as provas que possuía; identificar todos os participantes do esquema; apontar a hierarquia e divisão de tarefas da organização criminosa; auxiliar na prevenção dos crimes envolvendo o caso; e ajudar na recuperação total ou parcial dos recursos desviados dos cofres públicos. Outra exigência é de que ele se afaste de “atividades delituosas”.

Outro lado

A defesa do ex-governador Beto Richa informa que não há razão para o procedimento desta terça-feira (11), especialmente em período eleitoral, segundo a advogada Antônia Lélia Neves Sanches. Ela completa que Richa está sereno e sempre esteve à disposição para esclarecimentos. De acordo com a advogada, não há vedação de prisão por conta do período eleitoral, “mas há oportunismo”. A defesa, que também representa Fernanda Richa, já ingressou com pedido de habeas corpus na Justiça.

A defesa de Luiz Abi disse que não irá se manifestar.

A reportagem ligou para o escritório do advogado de Ezequias Moreira, mas não conseguiu contato direto com o profissional. Uma pessoa da equipe do escritório avisou que entraria em contato com o advogado, mas a reportagem ainda não teve retorno.

Ao portal G1, a defesa de Pepe Richa informou que só vai se manifestar nos autos. 

A Ouro verde informou que “prestou serviços de locação de máquinas e equipamentos pesados ao Estado do Paraná durante o período de abril de 2013 a julho de 2015 após se sagrar vencedora em processo licitatório público e que cumpriu todas as suas obrigações legais no âmbito de tal contratação, inclusive havendo atualmente cobrança judicial contra o Estado por valores não pagos, apesar dos serviços prestados”. A empresa ressalta que em 45 anos de história “jamais se envolveu e nega qualquer envolvimento com relação a qualquer ato ilícito, e tem plena convicção de que demonstrará isso de forma cabal às autoridades competentes”.

 

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