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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Poucos assuntos ganharam tanto destaque no debate da Band desta quinta-feira (16) quanto a herança do ex-governador Beto Richa (PSDB) e o 29 de abril de 2015. Ele foi citado nominalmente (sempre pelos candidatos de oposição) e chegou a ser alvo de uma brincadeira do Dr. Rosinha (PT) com Ratinho Jr. (PSD) pela maneira como o deputado estadual licenciado apresenta suas propostas.

Nas redes sociais o PT foi até mais longe e sugeriu que o candidato do PSD e Cida Borghetti (PP) são “mais do mesmo” dos anos do tucano no Palácio Iguaçu. João Arruda (MDB) e Professor Piva (PSol) também tentaram colar no ex-secretário de Desenvolvimento Urbano e na governadora a imagem da Batalha do Centro Cívico e das investigações do Ministério Público - principalmente a Quadro Negro.

Para três cientistas políticos ouvidos pela Gazeta do Povo nesta sexta (17), as tentativas de ligação serviram como aperitivo para o desenrolar da campanha e foram, de certa maneira, naturais. A Batalha do Centro Cívico aconteceu na atual gestão e aparece pela primeira vez em eleições gerais no Paraná.

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“O Alvaro Dias (presidenciável pelo Podemos) carrega essa marca até hoje (ele era governador no episódio de agosto de 1988, quando professores foram agredidos pela cavalaria da PM). É um tema para toda a campanha. É possível que ele leve esse símbolo”, afirma Emerson Cervi, professor de pós-graduação da UFPR e especialista em comunicação política. “Também tem o peso de um governo de oito anos que está terminando em meio a uma série de dúvidas sobre o real legado administrativo, alguns temas espinhosos como o 29 de abril, as denúncias de corrupção”.

Mário Sérgio Lepre, professor da PUCPR de Londrina e autor do livro Caos Partidário Paranaense, diz que os candidatos que participaram de alguma maneira no governo de Beto Richa devem receber o saldo negativo da gestão. Ele defende que Cida Borgheti e Ratinho Jr. são alvos porque realmente participaram das decisões do governo. “Os dois são vinculados à política que já existe, ao passo que as pesquisas mostram que eleitor quer algo diferente. Por isso eles não tentam vincular o nome ao ex-governador”.

Ratinho Jr. se apresentou no debate como candidato de fora das “famílias tradicionais” e Cida afirmou que não participou de decisões polêmicas como o 29 de abril e que “retomou o diálogo” pelo reajuste nos salários dos servidores do Executivo estadual.

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Esse cenário, segundo Lepre, leva em consideração pesquisas internas das duas equipes. “Lógico que os dois foram vinculados ao governador. É fato. Mas as estratégias dependem da seguinte questão: será que vale a pena se atrelar? Se as pesquisas indicam que não, então o discurso é de ruptura, da tentativa de mostrar algo novo. Eles vão se pautar por aquilo que parece ser o sentimento da sociedade a partir de percepções internas. A Cida vai explorar, por exemplo, o fato de ser governo apenas agora, uma proposta de ‘seguir daqui para frente’. O Ratinho participa do jogo político há muito tempo, tem bancada na Assembleia Legislativa, trabalha fisiologicamente, nada de diferente. Mas o discurso de ruptura vai pela percepção de se apresentar como novo”.

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Segundo Luiz Domingos Costa, professor do Centro Universitário Uninter e pesquisador de elites políticas, a marca de Beto pode colar mais em Cida Borghetti. “Ela tem ele como aliado formal na coligação, mas ele não deve aparecer na campanha. Agora a Cida vai tentar mostrar o que fez no governo. E tem uma diferença muito clara também. O Beto não vai aparecer nas campanhas de TV e rádio da Cida, mas ele pode participar da campanha de rua, principalmente no interior, onde o ex-governador tem contato com as prefeituras. Na região metropolitana de Curitiba essa aproximação pode jogar o nome dela para baixo”, argumenta.

Costa enxerga Ratinho Jr. com margem maior para descolar o nome do ex-governador. “A contar pelo que aconteceu no debate, a tendência de trazer o nome do Beto Richa para a discussão vai se repetir. Mas acho que a forma de Ratinho avaliar isso pode ser um pouco mais distante, embora ele tenha pertencido ao governo, votasse com o governo, mas nunca foi um cara orgânico. E ele sabe demonstrar isso com certa habilidade. O fato do Ratinho Jr. ter tido uma relação mais intermitente entre a Secretaria e a Assembleia ajuda para mostrar que de alguma maneira ele estava competindo com o governo, ajuda a construir a figura dele como um candidato natural”.

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Cervi completa que as condutas dos dois candidatos como vidraças da oposição ainda vão se estabelecer ao longo da campanha. “Quem vai medir essa relação é o eleitor. O debate tem como função mostrar as posições entre eles, as posturas, ataque ou defesa. O Ratinho não parece que vai adotar postura de confronto. Ele não citou nenhuma vez o governo nas suas respostas, citou apenas a passagem pela Secretaria e logo pulava para falar das suas propostas. A Cida também evitou isso”, aponta.

“Ao contrário do João Arruda, que teve postura de confronto”, explica. Cervi lembra que os demais candidatos tentaram colar no deputado federal o apoio ao presidente Michel Temer (MDB) em Brasília, e que essa também pode ser uma tônica dos próximos debates.

Os candidatos com plataformas de esquerda reputaram ao parlamentar certa incoerência com as votações favoráveis na reforma trabalhista, PEC do teto de gastos e no impeachment de Dilma Rousseff (PT). Arruda se defendeu dizendo que seu partido é “o MDB do Paraná”, buscando se descolar do presidente e voltar para o tio, Roberto Requião (MDB).

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