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| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

“A campanha eleitoral é igual a um vestibular. Alguns chegam muito melhor preparados, com cursinho e aula particular nas costas, muitos recursos disponíveis. Outros têm só a bagagem da escola pública”. Esse é o tom do discurso de Professor Seleme (PRTB), 56 anos, que fez apenas 33 votos na disputa pela Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). O partido de Geonísio Marinho, candidato ao governo, lançou 51 candidatos ao cargo e conseguiu eleger apenas um: Boca Aberta Júnior, com 39.495 votos.

Outros 16 candidatos à Alep não alcançaram a marca de 50 votos ao Legislativo estadual nesse ano, o que representa 0,38% do candidato que se elegeu com menos votos -- Subtenente Everton (PSL) foi eleito com cerca de 13 mil votos pelo quociente eleitoral da coligação na esteira do recordista de votos, Fernando Francischini (PSL).

Além dos 17 impopulares da disputa de deputado estadual, na disputa para deputado federal cinco candidatos tiveram menos de 50 votos. Somadas as duas concorrências, são 22 nanicos e outros 24 candidatos que fizeram entre 50 e 99 votos.

Os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam ainda 64 candidatos zerados entre os 1.207 concorrentes (47 entre deputados estaduais e 17 entre federais), mas todos tiveram problemas para formalizar a candidatura e aparecem com registros nas situações “indeferido”, “indeferido com recurso” ou “renúncia”.

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De acordo com a Justiça Eleitoral, eles podem ter sido lembrados, mas os números ficam armazenados em uma “gaveta” e só são liberados após uma decisão favorável do recurso do registro de candidatura. Os 64 excluídos pertencem a 22 partidos diferentes: PMN, PRTB, PATRI, PODE, PTC, PSL, PSD, DC, MDB, DEM, PV, REDE, PSDB, PPS, PCO, PROS, AVANTE, PSC, PPL, PT, PCdoB e PDT. São 7 mulheres e 10 homens entre deputados federais e 17 mulheres e 30 homens entre os deputados estaduais.

Legislativo

Apenas postulantes a cargos no Legislativo tiveram votações inexpressivas. Juraci Cover Custódio da Luz (PRP) e Marili (PODE), que disputavam cadeiras da Alep, foram as duas piores, com apenas 8 e 9 votos, respectivamente.

Juraci Cover Custódio da Luz (PRP) fez 8 votos na disputa por uma cadeira na Alep Reprodução

Os 17 candidatos que não alcançaram a marca de 50 votos entre os deputados estaduais pertencem a oito partidos diferentes: PMN, PRTB, PRP, PSB, PODE, PPL, PV e PATRI. Apenas PRP e PATRI não elegeram ao menos um deputado estadual para a legislatura 2019-2022.

Os principais problemas apontados pelos candidatos ouvidos pela Gazeta do Povo foram a concentração de recursos nas mãos dos caciques dos partidos, falta de apoio institucional e acidentes de destino.

Entre os 17, apenas Veviane Darodda (PSB) e Sandra Sales (PRTB) registraram algum nível de investimento nas prestações de contas disponibilizadas no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR). A primeira recebeu R$ 30 mil do diretório estadual do PSB, enquanto Alexandre Curi (PSB), Romanelli (PSB) e Tiago Amaral (PSB), que aparecem entre os seis mais votados das eleições 2018, somaram R$ 400 mil. Já Sandra recebeu R$ 50 de uma doação de pessoa física.

Pouco investimento: Sandra Sales (PRTB) recebeu R%$ 50 em doações na campanha pela Alep

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A maioria do bonde dos nanicos é ocupada por mulheres. Entre os 17 havia 14 mulheres. Apenas quatro mulheres foram eleitas para a Assembleia Legislativa do Paraná.

A legislação que rege as eleições no Brasil obriga que cada coligação disponibilize, no mínimo, 30% de vagas para as mulheres nas chapas, além de distribuição nos mesmos moldes dos recursos do fundo público eleitoral e de tempo de rádio e TV.

A mesma impressão foi registrada entre os candidatos a deputado federal. Cinco postulantes não alcançaram 50 votos (3 mulheres e 2 homens). A maioria pertence ao PRTB (Max Ferreira, 44 votos; Daniele Mara de Oliveira, 31 votos; e Valdir Januário dos Santos, 12 votos), mas há ainda candidatas do espectro da esquerda — Zení Metzger (PSOL), 26 votos — e da direita — Soraya Heloisa (PPL), 46 votos. Os três partidos (PRTB, PSol e PPL) não elegeram nenhum deputado federal.

Valdir Januário dos Santos (PRTB) computou 12 votos na disputa pela Câmara dos Deputados Reprodução

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Os candidatos do PRTB não receberam nenhum recurso do partido para impulsionar publicações no Facebook, imprimir santinhos ou bandeirar pelas ruas. Já Zení e Soraya obtiveram algum tipo de recurso, segundo o TRE-PR. Zení recebeu R$ 2.714,52 do fundo partidário do PSol e Soraya, R$ 2,5 mil do PPL.

Depoimentos

Dinheiro não foi a única reclamação dos candidatos. Soraya Heloísa, 50 anos, é empresária do ramo de cursos profissionalizantes e diz que se decepcionou com a política porque não teve ajuda nenhuma do partido ao longo da campanha. “O partido não auxiliou em nada. Foram vários problemas, teve material impresso errado que foi para o lixo. Foi a minha primeira vez na disputa, eu não tinha experiência nenhuma, e mesmo assim não tive apoio, logístico ou jurídico”, aponta.

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“Fui convidada pelo próprio partido e tudo o que haviam prometido antes das eleições não fizeram. Percebi abertamente que foi só para compor os 30% da cota feminina”, completa.

Apesar disso, faz balanço positivo de sua participação. “Foi muito interessante, aprendi muitas coisas. Foi um crescimento em todos os sentidos, apesar das complicações. Foi uma campanha muito curta, os candidatos novatos nem puderam se apresentar”.

A advogada Francielle Góes (PPL), 37 anos, fez apenas 39 votos na disputa para a Assembleia Legislativa. Ela disse que não participou ativamente da campanha e também enfrentou a perda do marido durante o último mês. “Acabei contribuindo com o partido na questão dos 30%, apesar de ser contra esse modelo. Mas não fui chamada para isso. Eu realmente não pedi votos. Não contei para ninguém que era candidata. Foram votos espontâneos”, conta. Góes também não recebeu recursos do partido.

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Daniele Mara de Oliveira (PRTB), 35 anos, mora em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, e diz que apesar de constar nas urnas, também não pediu voto. Um problema de saúde na família prejudicou a campanha. “Não fiz divulgação nenhuma, apenas pela internet. Mas foi a primeira vez, vamos ver nas próximas”, conta. Mara pretende se candidatar a vereadora da cidade em 2020.

Daniele Mara de Oliveira (PRTB) fez 31 votos na campanha para deputada federal Reprodução

Os menos votados para deputado estadual

Branca (PMN) - 48 votos

Mery (PRTB) - 48

Simone Braga (PRP) - 45

Veviane Darodda (PSB) - 45

Ciça dos Anjos (PODE) - 39

Francielle Góes (PPL) - 39

Juliane de Abreu Veiga (PV) - 36

Professor Seleme (PRTB) - 33

Juliana Araújo (PMN) - 32

Sheila Novais (PRTB) - 27

Solange Terebinto (PATRI) - 25

Nara Cristina (PV) - 22

Sandra Sales (PRTB) - 19

Célia Estúdio Sachas (PRTB) -13

Salete (PMN) - 11

Marili (PODE) - 9

Juraci Cover Custódio da Luz (PRP) - 8

Os menos votados para deputado federal

Soraya Heloisa (PPL) - 46

Max Ferreira (PRTB) - 44

Daniele Mara de Oliveira (PRTB) - 31

Zení Metzger (PSol) - 26

Valdir Januário dos Santos (PRTB)- 12

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