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Entrada do assentamento Ireno Alves dos Santos, em Rio Bonito do Iguaçu, o maior da América Latina. Foto de 2006 | Arquivo/Gazeta do Povo
Entrada do assentamento Ireno Alves dos Santos, em Rio Bonito do Iguaçu, o maior da América Latina. Foto de 2006| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

O eleitor paranaense elegeu já no primeiro turno Ratinho Junior (PSD) seu novo governador com praticamente 60% dos votos válidos. Esse mesmo eleitor elegeria Jair Bolsonaro (PSL) presidente da República também no primeiro turno, com pouco mais de 56% dos votos válidos. Mas ao se olhar o mapa político do estado dividido em seus 399 municípios, um deles se destaca no contraste. Porque no que dependesse dos eleitores de Rio Bonito do Iguaçu, pequeno município da região Sudoeste, quem seria eleito no primeiro turno seriam os candidatos do PT: Dr. Rosinha governador e Fernando Haddad presidente.

Para ser justo com Rio Bonito, é importante lembrar que não foi o único município do estado a dar boa votação a Haddad. Um total de 89 cidades paranaenses votou no petista em primeiro lugar. Em Rio Bonito, no entanto, a vitória foi acachapante. O ex-prefeito de São Paulo registrou 67,57% dos votos válidos, contra 19,87% de Bolsonaro.

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O caso de Rosinha é mais emblemático. O ex-deputado alcançou 46,53% dos votos no município, contra 34,35% de Ratinho Junior, o segundo colocado. Acontece que Rio Bonito do Iguaçu foi o único município paranaense que escolheria o candidato do PT como seu governador, desbancando não só o governador eleito como, naturalmente, seus outros adversários – Cida Borghetti (PP) ficou com 10,45% dos votos válidos e João Arruda (MDB) , com 7,88%.

A explicação para a votação anômala do PT naquele ponto do estado tem nome e sobrenome. Ou melhor, nomes e sobrenomes: assentamentos Ireno Alves dos Santos, Marcos Freire e 10 de Maio. Os três assentamentos, frutos da desapropriação da Fazenda Araupel feita em 1998, são os maiores da América Latina. Elevaram a população de Rio Bonito do Iguaçu de 5 mil pessoas no fim da década de 1990 para cerca de 20 mil habitantes hoje.

“É complicado para deputado, governador e presidente ali. Eles se unem e fazem um voto no PT”, explica o prefeito de Rio Bonito, Ademir Fagundes, mais conhecido como Gaúcho. Gaúcho, apesar de filiado ao PSDB, partido que compunha a coligação de Cida Borghetti, fez campanha para Ratinho Junior. “É uma campanha complicada. Ali, onde você vai é bandeira vermelha. O candidato do PT sempre vai ser o mais forte”, diz. “Para mim, o resultado foi uma vitória”. Ratinho Junior fez 2.784 votos no município, enquanto Rosinha foi votado por 3.771 eleitores.

Na visão de Fagundes, a explicação para a “ordem unida” do voto dos eleitores assentados diz respeito à atuação das lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no local, que forçariam um tipo de voto de cabresto. Segundo o prefeito, a ameaça é que quem é dono de lote nos assentamentos ou vota no PT ou perde o lote. “São radicais. Acham que só têm direito e obrigação nenhuma”, afirma Gaúcho.

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O protesto do prefeito, no entanto, limita-se aos líderes do MST. “O povo é bom, trabalhador”, diz, sobre as famílias assentadas. Também pudera: segundo Fagundes, nas eleições municipais a coisa muda de figura. “O PT não se cria para prefeito. O pessoal não vota em gente dali”, diz. Isso faz com que Gaúcho tenha grande confiança em sua reeleição, daqui a dois anos: “Hoje diria que tenho 99,9% de chances de ser reeleito”. A eleição municipal, diz o atual prefeito, mexe com o povo.

Apesar da confiança, Fagundes afirma que só se candidata de fato à reeleição se não conseguir cumprir com o prometido até o fim do mandato. Sua meta é asfaltar as ruas e estradas do centro do município, que tem 4,3 mil quilômetros de estradas rurais em todo seu território. “É muita estrada de chão para manter”, diz. O prefeito reconhece as dificuldades – em abril, integrantes do MST bloquearam o acesso à prefeitura de Rio Bonito por três dias reivindicando a manutenção de estradas rurais que estavam intransitáveis – e reclama da falta de recursos do governo federal: “Fomos ao Incra e ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e não nos deram nem um centavo, nem um litro de diesel para ajudar”.

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A solução não é simples. De acordo com o prefeito, o censo de 2010 registrou cerca de 11 mil habitantes em Rio Bonito do Iguaçu. Ou seja, em oito anos, a população quase dobrou no município. “Enquanto isso, o FPM (Fundo de Participação dos Municípios, uma das principais fontes de receita das prefeituras de municípios pequenos) continua o mesmo”, reclama Gaúcho.

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