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A degradada praia de Matinhos | Daniel Castellano /Gazeta do Povo/Arquivo
A degradada praia de Matinhos| Foto: Daniel Castellano /Gazeta do Povo/Arquivo

Reza a cartilha da política brasileira que em período de eleição os projetos de obras de grande impacto econômico e social pipocam e os recursos começaram a aparecer, sejam reais ou fictícios. O governo do Paraná, seguindo a tradição, lançou uma série de obras nos últimos meses em vários setores. Muitos desses projetos são propostas antigas, anunciados por vários governadores, mas que nunca saíram do papel. A chamada engorda da praia de Matinhos é um desses casos de promessas que já duram 30 anos.

Depois de ter anunciado a construção de uma Faixa de Infraestrutura no litoral e a tão badalada ponte de Guaratuba, o governador Beto Richa (PSDB) anunciou na sexta-feira (26) um pacote de obras para Matinhos, sendo a maior delas a alargamento da faixa de areia numa extensão de cerca de 3 quilômetros da praia. O custo do projeto é estimado em R$ 300 milhões. Também foi anunciada a duplicação da avenida JK, conhecida como Contorno de Matinhos, ao custo de R$ 32 milhões.

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O secretário estadual de Infraestrutura e Logística, José Richa Filho, diz que a situação financeira do governo mudou no ano passado, o que vai permitir fazer o investimento. “O governo fez o ajuste fiscal, colocou as finanças em ordem. Por isso agora podemos realizar essas obras, que não dependem de recursos de fora”, afirma.

Críticas

O anúncio causou alvoroço na seara da oposição. “Faz parte da pré-campanha eleitoral. É para criar arquivo para a campanha na internet, no rádio e na tevê. Esse governo não tem compromisso com a realização das obras, está no fim de mandato”, dispara o deputado Requião Filho (PMDB).

Richa Filho diz que desta vez será diferente das outras em que a engorda da praia foi anunciada, mas não saiu do papel. “E um projeto grande, que envolve valores maiores, mas será iniciada ainda neste ano”, prevê. Para o secretário, o prazo vai depender da adequação do projeto que foi elaborado em 2013 e que será adaptado.

O presidente do Instituto das Águas do Paraná, Iram de Rezende, procura ser mais enfático diante das críticas de que o anúncio é eleitoreiro. “Vamos trabalhar para concluir a parte do edital até o mês de abril. As obras devem começar até junho ou no mais tardar julho. Temos o dinheiro reservado para isso”, afirma em tom otimista.

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Para Rezende, depois de iniciada, a obra não tem como ser paralisada. “Quando a obra atingir um certo porcentual de interferência, não pode mais parar. Não tem mais como interromper. Iremos deixar a execução bem adiantada do projeto e qualquer que for o governo que assumir depois terá que concluir.”

O presidente do Instituto das Águas repete os argumentos do governador e do secretário Richa Filho de que o ajuste nas contas feito pelo governo permite fazer o investimento de R$ 300 milhões para a engorda da praia. “O orçamento tem R$ 8 bilhões para investimento, que não disputa com gastos corriqueiros da máquina. O governador Beto Richa vai deixar o orçamento para a obra dentro do Instituto das Águas ou dentro do DER. Ainda está sendo estudado quem vai licitar. O dinheiro vai ser transferido do tesouro do estado para o órgão que vai tocar a obra. Isso significa que o dinheiro está garantido para todo o cronograma da obra. É uma decisão de governo, não é um discurso de a no eleitoral”, diz em tom de resposta às críticas.

Velha promessa

A engorda da praia de Matinhos está no rol de promessas de obras para o litoral que a cada novo governo é renovada. No dia 1º de fevereiro de 2013, por exemplo, o próprio governo Richa realizou uma cerimônia no auditório do Sesc Caiobá para apresentar à população o projeto que incluía a revitalização e requalificação urbana da orla. A proposta, porém, mais uma vez foi engavetada.

Esse projeto de 2013 era bem mais amplo que o anunciado agora e será reaproveitado, segundo o governo. Pela proposta atual, a engorda da praia será de pouco mais de três quilômetros, e não sete quilômetros como previa ao projeto anterior.

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Para fazer o alargamento da faixa de areia, que poderá variar de 50 metros a 100 metros, dependendo da maré, será necessário o transporte de 1,7 milhão de metros cúbicos de areia de jazida distante cerca de quatro quilômetros da praia.

“Para que essa areia não seja levada embora depois e permaneça no local, teremos de construir ao longo da orla, que são elevações que interferem no movimento da maré. Haverá também a construções de guias, que permitirão que a água de córregos, rios e canais será jogada mais distante da praia, o que permitirá melhores condições de balneabilidade”, detalha Iram de Rezende.

A proposta inicial é que esses espigões sirvam de mirante para os veranistas. As pessoas poderão caminhar sobre as construções e adentrar um pouco no mar. Completam o pacote a modernização do calçadão, com paisagismo e equipamentos de lazer.

Quanto à avenida JK, o governo diz que será inteiramente revitalizada. O projeto prevê obras em 2,4 quilômetros, com dragagem e canalização do Rio do Drago, contornos, rotatória, ciclovias e calçadas, passagens elevadas e implantação de semáforo e de sinalização.

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por Ricardo Prado

A cada ano cresce a pressão de comerciantes, empresários do setor de turismo e moradores de Matinhos por melhoria na praia, o que inclui o alargamento da faixa de areia. Agora, com o novo anúncio do governo, a comunidade local se uniu em torno do projeto.

“Depois das chuvas, essa foi a melhor notícia para nós. Estávamos esperando há anos esses projetos. A engorda da praia trará novamente os clientes. Os investidores vão voltar e as construtoras estão animadas”, diz Adriano Ribeiro, proprietário de uma imobiliária.

“Nosso comércio já vem sofrendo há 20, 30 anos. Temos estrutura para atender. Temos construtoras, temos comércio, imobiliárias, locação diária. Nosso litoral já chegou a receber 1 milhão de pessoas. Temos condições. O que falta é ter um verão mais longo. Com certeza, com essa estrutura que é prometida, virão muitos investidores de fora. Já ouvimos pessoas de fora querendo montar shopping, construir lojas, alugar ponto comercial, enfim, fixar seu comércio na cidade”, prevê Ribeiro.

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O clima de otimismo também contagiou o presidente da Associação Comercial Empresarial de Matinhos (Acima), Helinson Pampuch. “Lógico que as expectativas são as melhores. Matinhos dará um salto de 30 anos em termos de visibilidade e infraestrutura. Essas reformas são o ponto chave para que Matinhos deixe de ser uma cidade pequena e passe a ser uma cidade grande. Mas isso é uma expectativa. Temos que ver primeiro as obras acontecerem”, diz em tom de comemoração ao mesmo tempo em que alerta para a possibilidade de mais uma vez ficar no papel.

Quando à duplicação da avenida JK, Pampuch considera a obra essencial. “Sabemos que falta muita coisa para ser feita na entrada da cidade. Hoje temos o movimento de muitos caminhões que transitam por ali, que vêm de Guaratuba, que vão até o Porto de Paranaguá. Sabemos que só aquele pedaço não resolverá. E com a ideia da ponte de Guaratuba, o governo vai ter que estudar uma nova entrada para Matinhos, uma via de acesso para o ferryboat. Mas a duplicação da JK saindo, melhorará a situação para todo o comércio.”

Para o prefeito de Matinhos, Ruy Hauer, a faixa de areia da praia hoje é muito pequena e a obra pode mudar a cara do litoral paranaenses. “As ressacas de muitos anos vêm destruindo as praias. Foi feita a primeira etapa de revitalização, que não contemplava os gabiões e o “engordamento”. E agora o governo se comprometeu a fazer a segunda etapa da revitalização, que contemplará os gabiões e o engordamento da areia e mais a macrodrenagem. Segundo pesquisa da Airbnb, Matinhos está entre os destinos turísticos mais procurados. Então, isso certamente melhorará muito mais, porque a primeira etapa da revitalização ficou excelente”, diz.

O secretário de Turismo, Esportes e Desenvolvimento Econômico de Matinhos, Ivo Hauer, ressalta a questão do saneamento ambiental. “Com esse mato todo que cresce dentro do canal, a água fica estagnada, aparecem criadouros de mosquito. Aqui não tivemos casos de dengue, mas infelizmente podemos chegar a ter. A obra, com certeza, evitará esse tipo de problema”, afirma.

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