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Richa e Greca comemoram a vitória na eleição para prefeito de Curitiba, em 2016. | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Richa e Greca comemoram a vitória na eleição para prefeito de Curitiba, em 2016.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

O sócio da Gestor Político de Sistemas, Eduardo Carmona, afirmou que a empresa trabalhou com a disseminação de notícias falsas – as chamadas fake news – para beneficiar campanhas do ex-governador Beto Richa (PSDB) e do prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN). A informação consta de conversa gravada e divulgada pelo programa Agora é com Datena, da Band TV. O empresário cita ainda que deputados paranaenses também contrataram os serviços – que ele chama de “Plano B” – ,cujo pacote mais barato custa R$ 5 mil por mês. Richa e Greca negam que tenham contratado os serviços da empresa, que tem sede em Curitiba.

“Já participei de algumas [eleições] majoritárias, onde elegemos o Beto Richa, governador duas vezes; elegemos o atual prefeito Rafael Greca. Então, temos na carteira alguns clientes, alguns deputados estaduais e federais”, diz Carmona, ao conversar com um jornalista da Band, que se passava por alguém interessado em contratar o serviço de fake news nestas eleições. “Palanque, falar bonito, santinho, todo mundo faz. Mas a desconstrução do adversário é o que traz o voto do indeciso”, afirma.

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Um levantamento feito pela Gazeta do Povo aponta que nos três primeiros anos da atual legislatura, entre 2015 e 2017, a Gestor Político Sistemas recebeu um total de R$ 454 mil em verbas a que cada deputado estadual do Paraná tem direito para custear o mandato mensalmente. Foram emitidas 871 notas de pagamento à empresa, que variam de R$ 50 a R$ 8,6 mil. No total, 36 parlamentares de 14 partidos contrataram a Gestor Político. No site da empresa, há o depoimento de deputados do Paraná elogiando os serviços da empresa.

Na prestação de contas oficiais das campanhas de Richa e de Greca à Justiça Eleitoral, em 2014 e 2016 respectivamente, não há registro de pagamentos à Gestor Político.

“Plano B”

Na conversa gravada com uma câmera escondida, Carmona detalha como funciona o “Plano B” – disseminação de conteúdo falso e ataques a concorrentes. O empresário explica que a empresa “trabalha” basicamente com páginas de Facebook e a viralização de conteúdo por meio do WhatsApp. Todo o material é desenvolvido estrategicamente, de acordo com o público-alvo definido pelo contratante.

“Eu quero demolir o ‘candidato A’. O que você tem de conteúdo pra desconstrução? Então, eu vou produzir memes, vídeos. Funciona muito bem esses videozinhos com cara de denúncia. A gente põe uma música meio de suspense”, exemplifica. “Ganha a eleição quem tem maior fogo contra o inimigo.”

O empresário diz ainda que o “Plano B” é deflagrado a partir perfis falsos, acessados e elaborados por meio de celulares ativados com chips de celular pré-pago, habilitados com CPFs de laranjas que nem sabem do esquema. “A ativação deles é feita com CPF que a gente acha no Nordeste, na internet”, resume. Carmona afirma ainda que a empresa conta com “parceiros” que têm servidores fora do Brasil, o que, segundo ele, praticamente impossibilita que os autores das fake news sejam rastreados.

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“No Facebook, a gente cria páginas, faz uma logística de forma que eu possa entregar as fake news para o público alvo que você determinar e você não vai ter vínculo ou lastro nenhum que possa te identificar”, explica. “Não é rastreável, não é identificável. Traz toda uma segurança de que você não vai se expor mediante essa ação ‘Lado B’”, reforça.

Ele, inclusive, chega a minimizar os riscos de essas ações serem derrubadas por adversários via judicial. “Mediante o jurídico do adversário, pode derrubar rápido ou pode demorar pra derrubar. Quando a gente bate num senador, aí pode cair muito rápido. [Mas] leva de 5 dias a 3 semanas, e às vezes nem derruba [a página do Facebook]. Então, se você pega um jurídico que não tem a manha ou que não tem um canal pra acionar o administrativo do Facebook em São Paulo, a página fica por tempo indeterminado.”

Carmona destaca ainda que os pacotes “Plano B” têm preço a partir de R$ 5 mil por mês, mas que o valor vai aumentando conforme o número de “ações” demandadas pelo político. “Você tem de avaliar dentro do teu planejamento de campanha, o poder de fogo [financeiro] que você tem. O céu é o limite, tudo vai do tamanho do tiro que você dá”, destaca.

Já no site da empresa, o valor dos serviços para as eleições deste ano é oferecido a um preço fechado de R$ 2 mil.

Outro lado

A Gazeta do Povo tentou ouvir Carmona, mas ele não atendeu à ligação feita ao celular dele. A reportagem também telefonou à empresa Gestor Político, mas o atendente informou que Carmona não estava e que só ele poderia responder às questões.

O prefeito Rafael Greca emitiu nota, em que afirma que sua campanha “jamais teve qualquer tipo de contato ou ligação com este senhor”. O PSDB, por sua vez, disse que “o senhor Eduardo Carmona não trabalhou ou prestou serviço à campanha do ex-governador Beto Richa”.

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