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Ele está preso desde setembro de 2017 | Reprodução/RPC
Ele está preso desde setembro de 2017| Foto: Reprodução/RPC

A proposta de delação premiada de Maurício Fanini, réu na Operação Quadro Negro, aponta para o vazamento de informações e para a interferência do ex-governador Beto Richa (PSDB) em processos de investigação envolvendo membros do Executivo estadual. As informações foram divulgadas com exclusividade pelo Paraná TV , da RPC, na edição desta terça-feira (5). Vale ressaltar que o acordo de colaboração ainda não foi fechado com a Procuradoria-Geral da República (PGR), tampouco homologado pela Justiça.

Fanini, que foi diretor de Engenharia, Projetos e Orçamentos da Secretaria de Educação entre 2011 e 2014, afirma que, no mesmo dia em que a secretaria foi inquirida pelo Ministério Público (MP-PR) a respeito de uma denúncia de que o réu receberia dinheiro de empreiteiras, foi ao Palácio Iguaçu para conversar com Richa, que “estava desesperado”. O tucano estava apagando mensagens e fotografias de seu celular, e pediu que Fanini fizesse o mesmo, para eliminar imagens e trocas de conversas entre os dois e também com Luiz Abi, parente de Richa, que também foi preso na esteira de investigações de desvio de dinheiro público.O então governador teria dito que havia passado o final de semana inteiro apagando materiais em que os dois apareciam juntos. O pretenso delator disse que não apagou fotos e conversas que tirou ou teve com Richa e Abi.

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Fanini também relatou que ainda foi chamado para uma reunião com o então chefe de Gabinete de Richa, Deonílson Roldo, e que foi cobrado para resolver o atraso nas obras de escolas investigado pela Quadro Negro, caso contrário haveria um escândalo que seria “uma flecha no coração” do tucano. E que a partir daí começou a ser cobrado diariamente até sua exoneração do cargo de diretor da Secretaria de Educação.

Em seu relato aos investigadores, Fanini conta que foi avisado de que seria preso, em julho de 2015, pelo ex-procurador-geral do Estado Sérgio Botto de Lacerda (2003-2007). No aviso, Lacerda teria orientado Fanini a eliminar provas que o ligassem a Richa, como dados em computadores, mensagens, dinheiro vivo e fotografias. Nessa primeira ocasião, o réu ficou preso por dez dias.

Em setembro de 2017, o ex-diretor voltou a ser preso no âmbito da Quadro Negro. Em maio deste ano ele foi transferido para Brasília por questões de segurança.

Além disso, segundo Fanini, Richa teria atuado para livrar Ezequias Moreira da prisão no processo em que ele era acusado de desviar dinheiro da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). O pretenso delator afirmou que a nomeação de Ezequias como secretário especial do Cerimonial e Relações Internacionais teria sido uma forma de protegê-lo da Justiça, com o foro privilegiado que acompanha o cargo. O processo contra o pivô do caso “sogra fantasma” passou a tramitar no Tribunal de Justiça (TJ-PR) e, eventualmente, ele foi condenado, mas não cumpriu pena alguma, pois o crime prescreveu.

Após a renúncia de Richa, Ezequias permaneceu no primeiro escalão do governo de Cida Borghetti (PP) até a semana passada, quando pediu exoneração. De acordo com Fanini, em agosto de 2014 ele teria pedido para que o ex-diretor providenciasse dinheiro de propina para abastecer a campanha de Richa para a reeleição.

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Em outro trecho, Fanini sustenta que Beto Richa ficou sabendo antecipadamente da prisão de Luiz Abi, seu parente e apontado como um dos pivôs do esquema de desvios na Receita Estadual, investigado pela Operação Publicano.

Outro lado

Ao G1 Paraná, o ex-governador Beto Richa disse que a delação foi vazada de forma criminosa e que trata-se de uma “manobra arquitetada às vésperas do período eleitoral”. Ainda de acordo com o tucano, Fanini “mente descaradamente”. Confira a nota na íntegra abaixo.

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À RPC, Ezequias Moreira disse que as informações são mentirosas e que jamais pediu a Fanini para que arrecadasse dinheiro ilícito. Ele afirma que o ex-diretor da Secretaria de Educação busca “terceirizar suas atitudes inescrupulosas e criminosas com o único intuito de buscar uma redução de pena”. Diz, além disso, que são falsas e levianas as acusações de que Richa teria interferido em seu julgamento.

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Já Sérgio Botto de Lacerda afirmou ao G1 Paraná que já esclareceu o assunto com o Ministério Público do Paraná. Ele nega que tenha alertado Fanini sobre a sua prisão.

Nota do ex-governador Beto Richa

“A proposta de acordo de colaboração premiada de Maurício Fanini ainda se encontra sob sigilo e mais uma vez foi vazada criminosamente.

Esta forma ilícita de agir parece ser uma manobra arquitetada às vésperas do período eleitoral, na tentativa de nivelar todos os políticos por baixo.

Não faço parte desta cena deplorável, onde criminosos confessos buscam envolver pessoas inocentes em crimes que somente eles praticaram.

O que esses criminosos pretendem? Ora, a resposta é muito simples! Pretendem conseguir a redução das penas a que certamente serão condenados pelos crimes cometidos e já confessados à Justiça, mesmo que para isso tenham que envolver pessoas honestas.

No caso de Maurício Fanini, a condenação pelos crimes praticados e por ele próprio confessados chegará a 50 (CINQUENTA) anos de prisão!

Portanto, está mais do que explicado porque Fanini tenta delatar tudo e todos, sem, no entanto, apresentar quaisquer indícios de provas.

Qual a razão de dar credibilidade a um criminoso que realizou 870 depósitos em dinheiro vivo, em sua própria conta corrente, pagou cartões de crédito em dinheiro vivo e formou um patrimônio incompatível com sua renda?

É uma tentativa desesperada de delação, que pela ausência de provas, não será aceita pela Justiça. São acusações criminosas, com o objetivo de envolver pessoas inocentes, retirando o foco das fraudes por ele cometidas.

E para isso, mente descaradamente. Nem eu, nem qualquer membro da minha família, recebeu dinheiro desviado dos cofres públicos.

A compra do apartamento do meu filho Marcello foi realizada de forma regular, com recursos próprios e transferência bancária, sem a utilização de dinheiro vivo, o que foi esclarecido também pelo vendedor do apartamento, que foi ouvido duas vezes pelo Ministério Público Estadual.

Igualmente é criminosa a afirmação de que minha mulher teria solicitado 1.000 dólares para uma viagem de meu filho André ao Peru. Quem nos conhece sabe que não precisamos disso e a afirmação beira o absurdo.

Repito: é uma delação criminosa, sem provas, que busca apenas confundir as pessoas. Espero que a Justiça apure e esclareça rapidamente essa questão, para que os culpados sejam punidos de forma exemplar.”

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