O professor Eduardo Gobbi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem em seu currículo um longo histórico de estudos oceânicos. Em 2013, como coordenador da área socioambiental da Secretaria de Infraestrutura e Logística do Paraná, Gobbi liderou o projeto de engorda da praia de Matinhos. A obra não saiu do papel desde então, mas agora servirá de base para a nova proposta do governo Beto Richa (PSDB). Hoje, fora do governo, ele ainda aposta que a obra pode ser um sucesso.
Por que a engorda da praia de Matinhos é prometida há tempo e nunca saiu do papel?
É um projeto complexo, uma obra cara. Nós fizemos um projeto robusto, que criou certa polêmica, que não era unanimidade na época, que enfrentava resistência de alguns setores da sociedade. Em 2013 também não havia recursos disponíveis nem um alinhamento político entre os governos federal e estadual. Além disso, havia uma discussão na época se realmente a obra era necessária, se não seria melhor fazer outra coisa com o dinheiro.
Hoje o cenário é outro?
Até hoje tem gente que questiona se a obra é necessária. Mas eu acho que agora, com um projeto menor e, se realmente o governo estiver em situação financeira melhor, é possível que a obra seja levada em frente.
Quando o projeto começou a ser elaborado?
A partir do final de 1993 eu comecei a me envolver e a fazer as contas, o que ainda não havia sido feito. Comecei a calcular o transporte de sedimento, quanto de areia seria necessário para a engorda da praia. Fiz as contas durante o meu projeto de doutorado. Como as contas demonstravam ser muito interessantes, eu fui convidado para ir à Dinamarca por um centro de pesquisa que se interessava por esse tema. Lá nós refizemos todas as contas e os números demonstraram ser propícios para fazer o engordamento.
Por que problema da erosão em Matinhos tem se agravado?
Houve uma ocupação inadequada não só do trecho do litoral paranaense, mas de toda a região que vai até praticamente Piçarras, em Santa Catarina. Houve muita interferência na costa e essas interferências acabam se refletindo no litoral paranaense.
Quais são os exemplos de sucesso desse tipo de obra?
Vários países têm experiência nisso. A Espanha é um bom exemplo, os Estados Unidos também refazem praias. Em Santa Catarina houve engordamento da praia de Piçarras e foi uma obra de relativo sucesso. A praia lá tinha sido praticamente eliminada. Eles engordaram e deu certo. O caso mais emblemático, melhor sucedido no Brasil e no mundo é Copacabana. No final dos anos de 1960 e início dos 1970 foi feito o alargamento da faixa de areia. Eu tenho fotos do mar batendo na calçada naquela época. Depois da obra o problema desapareceu. E nunca mais foi preciso repor areia.
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Em Matinhos também seria resolvido definitivamente?
Essa não será a realidade aqui no Paraná, que periodicamente terá que ter reposição de areia. Se fizermos estruturas muito longas para segurar a areia, correremos o risco de causar erosão futuramente ao norte do litoral, na Praia de Leste, por exemplo. Então, ocasionalmente teremos de repor areia, não é uma obra que faz e esquece. O monitoramento terá de ser permanentemente.
O que torna necessário esse monitoramento e reposição de areia?
Diferentemente do que ocorreu em Copacabana, que não perde areia nem depende de areia que vem de fora, aqui no Paraná vai depender da areia que vem do sul para cá. A praia de Matinhos poderá continuar perdendo areia depois da obra, apesar de ser em ritmo bem menor.
Em quanto tempo seria possível concluir a obra?
Vai depender de como serão injetados os recursos, que vão ditar o ritmo da obra. É um projeto que exige obras complementares de proteção costeira, de revitalização, de urbanização. Eu acredito que pode demorar até um ano, dependendo de como ela será atacada pela engenharia. Nós não temos no Brasil muitas dragas disponíveis. Se estivéssemos na Europa, lá existem muitas dragas para fazer esse tipo de trabalho, mas é muito caro trazer dragas para cá. Provavelmente vão trazer uma draga só e tudo vai depender da capacidade dessa draga.
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