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“Sala da propina” funcionava no edifício Curitiba Business Center, no Centro de Curitiba | André Rodrigues/Gazeta do Povo
“Sala da propina” funcionava no edifício Curitiba Business Center, no Centro de Curitiba| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Concessionárias de pedágio que operam no Paraná mantinham uma sala em um edifício comercial de Curitiba especificamente para operar dinheiro captado ilicitamente a partir do esquema investigado na Operação Integração II – 55ª fase da Lava Jato. Segundo as apurações, o principal arrecadador de propina era o diretor da Associação Brasileira de Concessões Rodoviárias (ABCR-PR), João Chiminazzo Neto, que está preso preventivamente. Além dele, a operação emitiu mandado de prisão para 18 pessoas, entre as quais, o ex-secretário Pepe Richa, irmão do ex-governador Beto Richa (PSDB).

A sala em questão fica no conjunto 1501, do Curitiba Business Center, localizado no Centro da capital. Segundo as investigações, o imóvel havia sido alugado por Ruy Giublin, que também está preso e que era, então, diretor da concessionária Caminhos do Paraná. Trata-se de uma sala pequena, sem qualquer placa de identificação e que passava despercebida de quem frequentava o edifício comercial.

Segundo o depoimento de Hugo Ono – ex-contador da concessionária Triunfo Econorte e que firmou acordo de colaboração premiada –, “esta sala tinha única e exclusivamente finalidade de receber valores de propinas”. Não havia telefone, computadores ou cadeiras. A decoração se restringia a um móvel e um armário de aço, onde o dinheiro em espécie era guardado. Posteriormente, os operadores de propina providenciaram uma máquina de contar cédulas.

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O delator disse ter recebido orientação de Hélio Ogama – ex-presidente da concessionária Econorte e que também fechou acordo de colaboração premiada – de fazer o repasse de propina sempre naquela sala. Ono afirmou ter sido sempre recebido por Beatriz Assini, apontada como secretária de Chiminazzo e que também foi presa. Segundo o depoimento de Ono, “Beatriz recebia o dinheiro e guardava no armário de aço”.

De acordo com Ono, a propina era destinada a pagar deputados que integravam a CPI dos Pedágios, instaurada pela Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) e que foi concluída em 2014 sem indiciar ninguém. O delator não soube apontar que parlamentares foram beneficiados pelos pagamentos, mas ele mencionou ainda outros pagamentos mensais de R$ 7 mil a R$ 8 mil, destinados a “outros agentes públicos”. Os recursos também teriam bancado propina a membros do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR).

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A sala também é mencionada no depoimento de Ogama, que ressaltou Chiminazzo como “captador” de propina e Beatriz, como “coletora do dinheiro em espécie”. Segundo o ex-presidente da Econorte, Chiminazzo era remunerado por meio de contratos fraudulentos firmados entre as concessionárias e a empresa Chiminazzo e Associados Consultoria Empresarial em Marketing e Comunicação.

As investigações contam ainda com a análise de portaria do Curitiba Business Center e apontam outros prováveis “carregadores de dinheiro”. Entre eles, Claudio José Machado Soares (diretor da Rodonorte), Cezar Xavier Silva (funcionário da Ecovia Mário), que também estão presos. Também são citados como operadores de propina um homem apontado como funcionário da Caminhos do Paraná, um ex-funcionário comissionado da Alep e dois homens apontados como quem ajudava “na ocultação de valores provenientes de crime”.

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Acima de qualquer suspeitas

A “sala da propina” continua sem qualquer identificação. A Gazeta do Povo esteve no Curitiba Business Center na tarde desta quarta-feira e, entre frequentadores e quem trabalha no prédio, não havia quem desconfiasse da finalidade do conjunto 1501. Segundo o porteiro do prédio, a sala estaria desocupada há pelo menos três anos.

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Outro lado

A ABCR informou que está contribuindo com as autoridades e fornecendo todas as informações necessárias.

A Caminhos do Paraná disse lamentar o ocorrido e considerar a prisão desnecessária, pois “tem prestado os esclarecimentos necessários e jamais negou colaboração”. A empresa defendeu José Julião Terbai Junior e Ruy Sergio Giublin, presos na operação, apontando que “possuem reputação ilibada ao longo de mais de 30 anos de atuação no setor de engenharia, no Brasil e no exterior. A Caminhos do Paraná também disse estar colaborando com as investigações.

A Triunfo Participações e Investimentos reiterou em nota que sempre “contribuiu de forma transparente com as investigações ligadas à Companhia e suas controladas.

A Ecovia e a Ecocataratas informam que “estão colaborando plenamente com as autoridades”. As concessionárias apontaram que têm “compromisso com a transparência e a ética em todas as suas relações profissionais.

A defesa de José Richa Filho informa que o investigado nunca foi chamado pela Polícia Federal para esclarecer quaisquer fatos atinentes à operação realizada na data de hoje. O processo tramita sob sigilo na 23ª Vara Federal e, apesar de requerido pela defesa, até o momento, não se obteve acesso aos autos. “O ex-secretário seguirá colaborando com a Justiça e confia que sua inocência restará provada na conclusão do processo.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Chiminazzo e de Beatriz.

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