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Enchente no bairro Boqueirão, em Curitiba | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo/Arquivo
Enchente no bairro Boqueirão, em Curitiba| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo/Arquivo

O professor e pesquisador do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Roberto Fendrich passou mais de 30 anos estudando e desenvolvendo soluções que minimizem os impactos das enchentes nas cidades paranaenses.

Para o professor, as obras convencionais de drenagem e os serviços de manutenção, assim como a criação de parques e áreas verdes às margens dos rios e córregos, são importantes, mas tornaram-se insuficientes diante das grandes áreas de impermeabilização nas cidades. A solução só virá, de acordo com seus estudos, com novas técnicas compensatórias às áreas impermeabilizadas, como os microrreservatórios.

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Por que o problema das enchentes em Curitiba parece não ter solução?

As áreas impermeáveis das bacias hidrográficas do município estão ficando cada vez maiores. Para se ter uma ideia, da área de 88 quilômetros quadrados da bacia do Rio Belém, atualmente cerca de 85% está impermeabilizada. Curitiba abrange seis bacias hidrográficas, que são as dos rios Atuba, Iraí, Belém, Barigui, Passaúna e Ribeirão dos Padilhas, e todas enfrentam o mesmo problema.

Faltam obras para resolver problemas de assoreamento?

Na Região Sul tem que ter pelo menos uma sequência de dois anos de obras de desassoreamento dos rios, já que essa região é de planície de inundação. Não é uma operação barata. Tem também outros locais onde, além do desassoreamento, devem ser construídos canais de macrodrenagem para ter melhor condução das águas. E muitos lugares ainda estão carentes de redes de microdrenagem.

Existem alternativas às obras convencionais?

Além das obras convencionais, deve haver a detenção local da água. A solução só virá com a instalação de microreservatórios nas residências, nos edifícios, nos estabelecimentos públicos, nas empresas, para compensar a impermeabilização, ou seja, retardar o escoamento das águas. Se em cada construção tivesse um pequeno reservatório para reter a água do telhado e calçamento, os problemas nos sistemas de drenagem seriam menores.

A solução só virá com a instalação de microreservatórios nas residências, nos edifícios, nos estabelecimentos públicos, nas empresas, para compensar a impermeabilização, ou seja, retardar o escoamento das águas. Se em cada construção tivesse um pequeno reservatório para reter a água do telhado e calçamento, os problemas nos sistemas de drenagem seriam menores

Os parques não têm essa função?

Os parques têm desenvolvido função importante para conter as águas, mas são insuficientes. Os reservatórios de retenção que existem nos parques fazem o abatimento de cheias, mas logo eles ficam cheios e não impedem as enchentes.

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Como resolver os problemas mais urgentes?

São necessários serviços de manutenção, com o desassoreamento dos rios, limpeza das bocas de lobo, dos bueiros, além da construção de reservatórios de detenção locais. Poderia se construir reservatórios de detenção sob as praças Tiradentes, Nossa Senhora da Salete e Osório, por exemplo. Não estou falando em piscinões, como em São Paulo. Piscinões não resolve. Além do assoreamento, eles criam problemas com esgoto sanitário e lixo, que são vetores de doença.

A gestão pública é falha?

Está faltando planejamento integrado nos níveis municipal, estadual e federal para drenagem, para o lixo, o esgoto e pavimentação. No saneamento são quadro pilares: abastecimento público de água, coleta e tratamento dos esgotos, coleta e tratamento do lixo e microdrenagem. Órgãos públicos, como Sanepar e Secretaria Municipal de Obras, têm que conversar. Não é porque um é do partido A e outro de partido B que não pode haver planejamento integrado.

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