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O governador eleito não é investigado pelo Gaeco | Albari Rosa/Gazeta do Povo
O governador eleito não é investigado pelo Gaeco| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

A operação Mustela, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na última segunda-feira (10), prendeu 12 pessoas e cumpriu 44 mandados de busca e apreensão em dez cidades do estado. Entre os presos temporariamente está Lourival Aparecido Pavão, ex-assessor do governador eleito, Ratinho Junior (PSD), e considerado pelos investigadores como “um dos agentes mais envolvidos na intermediação e nos agendamentos de consultas e cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mediante pagamento de quantias”.

Vale ressaltar que Ratinho não é um dos investigados. “Não temos nada que evidencie qualquer participação ou envolvimento do então deputado”, disse o coordenador do Gaeco, Leonir Batisti, a respeito de Ratinho na segunda-feira (10). O governador eleito afirma que não tinha conhecimento da conduta de Lourival Pavão, que ele já foi desligado e que desaprova o comportamento do ex-assessor. Veja o posicionamento completo abaixo.

A atuação do ex-assessor

Pavão, como é chamado nos diálogos captados pelo Gaeco, foi assessor de Ratinho e funcionário da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) ao menos desde 2015, tendo sido desligado das funções em setembro. A assessoria do governador eleito confirma que Pavão era próximo de Ratinho, do ponto de vista profissional, já que era responsável por “ações assistenciais, que todo deputado faz”.

Com salário por volta de R$ 15 mil como assessor na Alep, Pavão permaneceu na Casa mesmo quando Ratinho assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, durante a gestão de Beto Richa (PSDB). De acordo com as investigações, ele passaria o dia encaminhando pacientes para o Hospital São Lucas, em Campo Largo, por meio do esquema.

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O ex-assessor teria, inclusive, utilizado o telefone do diretório do Partido Social Cristão (PSC) para a prática criminosa. Por causa disso, um dos mandados de busca e apreensão realizados na última segunda-feira (10) foi cumprido na sede do partido, em Curitiba. Procurado, o presidente estadual do PSC, deputado federal Hidekazu Takayama, não quis comentar o assunto.

Ainda segundo o Gaeco, o encaminhamento acontecia por meio do pagamento de valores, que variavam entre R$ 2 mil e R$ 8 mil, fazendo com que os pacientes fossem passados na frente dos demais na fila do SUS.

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Conversa entre Ratinho e Pavão

As apurações do Gaeco também indicam que Pavão atuaria como “preposto de fato” da empresa Solumedi. Para os investigadores, há indícios de que a empresa seria utilizada como uma forma de profissionalizar o esquema que burlava a fila do SUS.

O processo corre em segredo de Justiça. Em uma das conversas interceptadas pelas investigações, à qual a reportagem teve acesso, o ex-assessor procura Ratinho para obter informações sobre a Solumedi. O objetivo, segundo os investigadores, seria encaminhar mais pacientes para o Hospital São Lucas. A participação de Ratinho no diálogo foi confirmada por sua assessoria, que afirmou que não vê “nenhuma irregularidade” na conversa.

Veja a transcrição da conversa, em que o novo governador é chamado de “Juninho”:

“ - Pavão: Deixa eu perguntar uma coisa para você. A Solumedi agora tá com a Tatiane de volta?

- Juninho: Tá com a Tati.

- Pavão: Então posso mexer com ela lá?

- Juninho: Pode.

- Pavão: É que o Volnei pediu pra mim [sic] aumentar, ver se eu aumentava um pouco as cirurgias.

- Juninho: Aham.

- Pavão: Daí eu estou tentando passar. Vou passar para ela, entendeu?

- Juninho: Beleza, pode mandar bala.

- Pavão: Pra fazer pela Solumedi.

- Juninho: Tá bom.”

Volnei José Guareschi, médico e sócio do Hospital São Lucas, também foi preso pelo Gaeco.

A Solumedi

Em entrevista coletiva após a deflagração da operação Mustela, o coordenador do Gaeco, Leonir Batisti, confirmou que a Solumedi tem ligação com a família do governador eleito. A reportagem apurou que o irmão de Ratinho Junior, Gabriel Martinez Massa, teria sido um dos sócios administradores da empresa. Em seu programa de televisão, o apresentador Ratinho já fez propaganda da Solumedi.

Batisti, porém, ressaltou que nem Gabriel nem qualquer outro parente do governador são investigados. “A empresa trabalha com franquias. Temos indicação de que franquiados fizeram esses contatos com médicos, mas isso ainda é objeto de investigação”, explicou.

A assessoria de Ratinho Junior, por sua vez, confirmou que Gabriel foi sócio da empresa, mas disse que a participação foi encerrada em julho deste ano.

Outro lado

Ratinho Junior

A assessoria do governador eleito admitiu que houve a conversa com Lourival Pavão gravada pelos investigadores, mas disse que “não vê nenhuma irregularidade” no diálogo. Além disso, afirmou que “não há o que esconder, já que o governador não está passando qualquer orientação. Ele apenas respondeu perguntas”. Sobre a conduta de Lourival, a assessoria disse que o novo governador “ficou sabendo da notícia na segunda-feira (10), que não tinha conhecimento do comportamento dele e desaprova qualquer irregularidade”. Afirmou, ainda, que hoje o ex-assessor não tem qualquer vínculo com Ratinho.

Sobre a Solumedi, a assessoria de Ratinho informou que Gabriel Massa não é mais sócio da empresa. Disse, ainda, que Gabriel tinha participação na Solumedi por meio da empresa Gralha Azul, mas decidiu sair da sociedade “por motivos empresariais” em julho deste ano. Além disso, afirmou que nenhuma outra pessoa próxima ao novo governador tem relação com a Solumedi.

Sobre a ligação do apresentador Ratinho à empresa, a assessoria informou que a propaganda para a Solumedi “não significa nada, já que ele é garoto-propaganda de muitas empresas”.

Lourival Pavão

A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Lourival Pavão. Ao G1 Paraná, o advogado do ex-assessor informou, na segunda-feira (10), que estava estudando o processo e que só se manifestaria quando tivesse ciência de toda a situação. O espaço segue aberto para a manifestação dos advogados.

PSC

A reportagem fez várias ligações ao diretório do partido, mas não obteve sucesso. Pelo telefone, o presidente da legenda, deputado federal Hidekazu Takayama, disse que não falaria à Gazeta do Povo e que não queria se posicionar.

Solumedi

A Solumedi se manifestou por meio de nota, reproduzida na íntegra:

Tendo em vista a deflagração de Operação oriunda do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado – Gaeco, a empresa Solumedi Franquias e Consultoria Ltda, esclarece que:

1. É sociedade empresarial, devidamente constituída nos órgãos competentes, que tem como escopo prestar serviços administrativos e agendamentos de consultas médicas, exames laboratoriais e outros procedimentos.

2. Foi erroneamente veiculado que a empresa Solumedi seria de propriedade da família do apresentador de televisão Ratinho, o que não corresponde à realidade. A imagem do referido apresentador é apenas utilizada para campanhas publicitárias, outdoors e divulgação da empresa no mercado.

3. A empresa Solumedi nega, de maneira veemente, a sua participação em ilícitos de qualquer natureza. Jamais participou de qualquer tipo de acordo entre médicos, empresários e agentes públicos destinado a “furar a fila” do Sistema Único de Saúde. Neste ponto, importante destacar que nenhum dos investigados tem qualquer tipo de relação com a empresa.

4. Todas as suas atividades empresariais são devidamente registradas, com regular e criteriosa prestação de contas à Receita Federal, bem como todos os procedimentos internos obedecem a rigorosos padrões de ética e conduta.

5. Por fim, a empresa Solumedi, por meio de seus prepostos, esclarece que está à disposição das autoridades competentes para prestar qualquer esclarecimento e que está certa da mais absoluta inocência nos lamentáveis fatos apurador pela Justiça e amplamente divulgados pelos meios de comunicação.

Hospital São Lucas

O Hospital São Lucas se limitou a ressaltar que os fatos ainda estão em apuração e que a instituição colabora com as investigações.

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