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Poluição acompanha o Rio Iguaçu, da nascente à foz. | Daniel Dereveck/Arquivo Gazeta do Povo
Poluição acompanha o Rio Iguaçu, da nascente à foz.| Foto: Daniel Dereveck/Arquivo Gazeta do Povo

Uma avaliação minuciosa, da nascente à foz, mostrou como está a qualidade da água no principal rio do Paraná, o Iguaçu. O trabalho foi feito pela Fundação SOS Mata Atlântica, ao coletar amostras durante 10 dias de expedição. Dos 20 pontos, três foram considerados ruins – a maior parte fica em áreas urbanas.

A porção mais poluída está no trecho inicial, em Curitiba e região, mas cerca de 70% da extensão do rio foi considerada ruim ou regular. A iniciativa faz parte do projeto Observando os Rios, da ONG, focado nos mais importantes corpos hídricos do Brasil. No caso do Paraná, o alvo foi o Iguaçu principalmente por cortar áreas do Parque Nacional do Iguaçu – inclusive o estudo mostrou que estão entre os pontos mais preservados e menos poluídos. Veja o que dizem as autoridades

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Onde foram feitas as coletas

Malu Ribeiro, coordenadora do programa, conta que as amostras foram coletadas a cada 40 quilômetros, seguindo os parâmetros da resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) do Índice de Qualidade de Água (IQA). Foram mensurados 20 indicadores, como oxigênio, PH, turbidez, coliformes, presença de produtos químicos e metais pesados, além de microrganismos. Ela comenta que a expedição acabou sendo feita em um momento chuvoso, que dilui a poluição e a contaminação. Assim, os indicadores podem ser muito piores.

Os números mais preocupantes, segundo a coordenadora, são referentes a bactérias causadoras de doenças – de diarreia a hepatite. Os seres unicelulares estariam se proliferando em razão da presença de fertilizantes agrícolas na água. Em alguns pontos, o rio estaria morto (sem condições mínimas para a presença de vida). O local que reuniu os piores indicadores foi em Araucária, na Grande Curitiba, inclusive com ilhas de lixo flutuante.

Onde ficam os melhores pontos e as causas da contaminação

Os dois melhores pontos ficam dentro da área preservada do Parque Nacional do Iguaçu. Mesmo na foz, o rio está muito contaminado, logo após a região cercada por vegetação nativa. O Iguaçu ainda tem um aspecto bonito, mas mesmo em locais de água cristalina, há contaminação alta.

De acordo com Malu, o principal fator que influencia nas condições é o desmatamento, especialmente da vegetação das margens, que serviria de barreira. Em segundo lugar estaria a presença de agrotóxicos e fertilizantes, carreados das atividades agropecuárias.

O terceiro causador de poluição é o despejo de esgoto, tanto por ligações residenciais irregulares quanto pela própria companhia de saneamento, diz a coordenadora. Um dos pontos de coleta foi 700 metros abaixo da estação de esgoto da Sanepar, perto do aeroporto de São José dos Pinhais, que indicou condições regulares. Em 2012, a empresa foi acusada pela Polícia Federal e pelo Ibama de ser a principal poluidora do Iguaçu. O processo judicial foi arquivado. Já com relação às multas ambientais, a Sanepar admitiu parte das irregularidades e fez um acordo para investir em projetos de recuperação.

Comparação com o Tietê

Malu também compara o Iguaçu com o rio Tietê, destacando que ambos têm a mesma extensão (1,1 mil quilômetros) e nascem em regiões metropolitanas. No rio paulista há trechos mortos, por mais 100 quilômetros, mas foram encontrados 12 pontos considerados bons – ou seja, bem mais do que os dois no Paraná. Além disso, o Tietê serve como fonte de abastecimento de água para várias cidades e para produção de pescados.

Com o relatório sobre o Iguaçu em mãos, a Fundação SOS Mata Atlântica pretende entregar os dados para autoridades e para organizações ambientais, com o objetivo de fazer um alerta. A entidade também defende que o rio não seja alterado para a classe 4, que permite o despejo de efluentes em parâmetros bem menos rigorosos. Além disso, pretende propor normas transfronteiriças, para o Mercosul, considerando que a poluição de alguns rios brasileiros interfere na realidade de países vizinhos.

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O que dizem a Sanepar e órgãos ambientais

A Sanepar informou que, sem ter acesso aos dados técnicos, como os parâmetros, as condições do dia e o local exato da coleta, não seria possível comentar o resultado. Além disso, destacou que faz tratamento do esgoto doméstico e protege o meio ambiente com esse serviço, evitando, assim, que esse esgoto chegue sem tratamento aos corpos hídricos.

Segundo órgão, as estações de tratamento de esgoto da Sanepar seguem licenças operacionais e outorgas, emitidas por órgãos ambientais, realizando, constantemente, análises de seus efluentes, nas saídas das estações e a 100 metros de distância delas, com monitoramento à juzante e à montante, conforme legislação pertinente. Os resultados das análises são informados periodicamente para os órgãos ambientais.

O IAP declarou que monitora a qualidade da água do Rio Iguaçu por parâmetros e métodos certificados, e que atua em ações de melhoria, em conjunto com outros órgãos do governo (Águas Paraná, Sanepar e prefeituras), além de trabalhar em cooperação com a Agência Nacional de Águas.

Segundo o levantamento feito pelo órgão governamental, o rio estaria poluído em sua porção inicial e moderadamente poluído no restante. Os principais causadores de problemas seriam os despejos de esgoto doméstico e industriais, mais evidentes e centralizados na região metropolitana de Curitiba, devido à grande ocupação da área. O IAP também considera preocupantes o desmatamento da mata ciliar, favorecendo o carreamento de agrotóxicos utilizados na agricultura.

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