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Casa de Custódia de Curitiba: rebelião mais longa desde o início dos anos 2000.  | Gerson Klaina/Tribuna do Paraná
Casa de Custódia de Curitiba: rebelião mais longa desde o início dos anos 2000. | Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

A rebelião deflagrada na última semana na Casa de Custódia de Curitiba (CCC) revelou a existência de uma nova facção criminosa, que até então não havia dado demonstrações de força e permanecia oculta: a Máfia Paranaense. Segundo agentes penitenciários e policiais do serviço de inteligência consultados pela Gazeta do Povo, a organização é um braço do Comando Vermelho, grupo criminoso surgido no Rio de Janeiro e que começa a cavar espaço no Paraná. Trata-se de uma tentativa de se contrapor ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção paulista que domina os presídios paranaenses.

Dentro das penitenciárias, a Máfia Paranaense se restringe à Casa de Custódia de Curitiba. Os integrantes da facção estão detidos em uma ala do chamado “seguro”, onde ficam os presos ameaçados de morte, como ex-policiais e detentos condenados por crimes sexuais e contra crianças. Segundo os agentes e os policiais, a Máfia começou a ser organizar a partir de presos que se recusaram a aderir ao PCC e acabaram sofrendo ameaças em razão disso.

“A Casa de Custódia [CCC] reúne os ‘inimigos do PCC’. Eles começaram a se organizar. O Comando Vermelho, que está nessa briga com o PCC, se aproveitou e viu a oportunidade de, com isso, entrar no Paraná”, disse um agente penitenciário, sob condição de não ser identificado. “Eles são o braço do CV aqui”, sintetizou um policial.

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Apesar disso, as forças de segurança apontam que o poder da Máfia Paranaense ainda é incipiente e que o PCC continua “a dar as cartas” nos presídios do estado. “O PCC está em todos os presídios, menos na Casa de Custódia. São eles quem mandam”, observou um agente. “Em um escala de 0 a 10, a força da Máfia Paranaense é 1”, destacou o policial.

Ainda assim, a nova facção criminosa deu mostras de radicalidade ao longo do motim. Os rebelados obrigaram os reféns a gravar vídeos, implorando pela vida. Segundo o Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sindarspen), eles sofreram tortura psicológica contínua. “Foram ameaçados o tempo todo, com os presos dizendo que iam matá-los”, disse o presidente da entidade, Ricardo Miranda. Foram mais de 85 horas de rebelião: a mais longa desde o início dos anos 2000.

Onda de rebeliões

Oficialmente, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e o Departamento Penitenciário do Paraná (Depen) não comentam a atuação da nova facção. Integrantes das forças de segurança do estado, no entanto, apontaram que o serviço de inteligência está de prontidão, diante da possibilidade de uma nova onda de rebeliões. Segundo um policial, há expectativa de que o PCC queira responder a rebelião promovida pela Máfia Paranaense.

“O pensamento é: se o governo cedeu pra Máfia, vai ceder pro PCC também”, disse o agente de segurança. “É uma espiral”, completou.

“O sistema penitenciário oscila. Tem épocas em que os presos demonstram uma insatisfação mais acirrada, em outras épocas se consegue desafogar essa panela de pressão. Mas de uma coisa a gente tem certeza: se o preso quiser, ele vai fazer [a rebelião]”, apontou Miranda.

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Um ponto considerado complicador são as recentes mudanças na gestão do sistema penitenciário. Além da criação da Secretaria Especial de Administração Penitenciária, houve uma série de mudanças dentro do próprio Depen. As fontes apontam a saída de Cezinando Paredes da direção do departamento como um possível complicador na interlocução com os presos. “Ele tinha uma interlocução muito boa com os detentos, construída em muitos anos”, avaliou o policial.

Outro aspecto mencionado pelo Sindarspen é a precarização das condições das penitenciárias. O sindicato aponta que, nos últimos cinco anos, a massa carcerária cresceu, sem a construção de novos presídios. As únicas vagas criadas recentemente foram viabilizadas a partir da implantação de shelters – as celas-contêineres.

“Se os direitos dos presos se restringem, a insatisfação aumenta. As facções criminosas se valem disso. Vão suprir uma necessidade, mas, em troca, vão cobrar um preço”, apontou Miranda.

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