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Christiane Yared  acompanhou a perícia e reconstituição realizadas na quinta-feira (12) | Giuliano Gomes/Tribuna do Paraná
Christiane Yared acompanhou a perícia e reconstituição realizadas na quinta-feira (12)| Foto: Giuliano Gomes/Tribuna do Paraná

A reconstituição simulada e a perícia realizadas na última quinta-feira (12) trouxeram à tona um processo contra o ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho que até então não havia sido revelado. Trata-se de uma ação ajuizada pela família de uma das vítimas, a Yared, na esfera cível, e que pede que Carli Filho seja condenado a pagar indenização por danos morais. Ele é réu em uma ação criminal pela colisão de trânsito ocorrida em 2009 e que matou Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo de Almeida, que, na época, tinham 26 e 20 anos, respectivamente.

A ação tramita há cinco anos – desde 2012 – na 20.ª Vara Cível de Curitiba. Além de Carli Filho, o processo tem como alvo a empresa a quem pertencia o Passat que o ex-deputado dirigia bem como seus sócios – entre os quais, estão os pais de Carli Filho. Parte da ação tramita sob segredo de Justiça, o que, em partes, explica os motivos pelos quais o processo não tenha vindo a público.

Uma das autoras da ação, a deputada federal Christiane Yared – mãe de um dos jovens mortos – disse que a ação na esfera cível é uma forma de responsabilizar publicamente o ex-deputado. Além disso, ela aposta no caráter educativo que uma eventual condenação possa gerar: contribuir com a redução da sensação de impunidade e incentivar outras famílias que tenham perdido entes para a violência no trânsito a também buscar reparação.

“[O principal] é que fique a leitura de que ninguém está acima da lei. Os culpados têm que pagar pelos crimes”, disse Yared. “Esse povo precisa sentir no bolso. O dinheiro da indenização vai ser aplicado em ações de educação no trânsito, do Instituto Paz no Trânsito [criado por ela, após a morte do filho]”, completou.

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“Compensar a dor”

A linha de argumentação dos autores da ação é de que Carli Filho deve ser condenado a indenizar a família Yared como forma de “compensação da dor” provocada pela morte de Gilmar Rafael. Além disso, o advogado da família aponta que uma eventual condenação teria efeito educativo, inibindo pessoas que tenham bebido a assumir o volante.

“Na ação, nós tentamos mostrar à Justiça o peso desses dois elementos e demonstrar o que é mais que evidente: que a família precisa ser reparada”, disse o advogado André Portugal. “Já são cinco anos de tramitação. Está bastante demorado.”

O escritório do advogado René Dotti, que representa Carli Filho, informou na quinta-feira (12) que não iria comentar o caso porque o processo tramita em segredo de justiça.

A reconstituição

A perícia e reconstituição simulada da colisão foram realizadas na última quinta-feira (12) no local em que ocorreu o fato em 2009, na Rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi, esquina com a Rua Paulo Gorski, no bairro Mossunguê, em Curitiba.

Perícia e reconstituição simulada da colisão foram realizadas na última quinta-feira (12).Giuliano Gomes/Tribuna do Paraná

Os procedimentos foram realizados a pedido da defesa de Carli Filho. Em dois horários – à tarde e à noite – peritos indicados pelo juiz reproduziram e registraram passo a passo como teria ocorrido a colisão entre o Passat conduzido por Carli Filho e a lateral do Honda Fit, onde estavam Gilmar Rafael e Carlos Murilo. O ex-deputado não compareceu à reconstituição.

Entenda o caso

A colisão que matou Gilmar Rafael e Carlos Murilo ocorreu na madrugada de 7 de maio de 2009. Carli Filho ficou ferido no desastre e chegou a ser hospitalizado. Um exame feito a partir de material colhido no hospital em que ele foi atendido apontou que o então deputado estava embriagado – tinha 7,8 decigramas de álcool por litro de sangue. O resultado, no entanto, foi desconsiderado como prova pela Justiça porque Carli Filho estava desacordado no instante em que o exame foi feito.

Além disso, laudos do Instituto de Criminalística comprovaram que, no instante da colisão, o Passat dirigido por Carli Filho estava a uma velocidade entre 161 Km/h e 173 Km/h. O ex-deputado também estava com a carteira de habilitação vencida e sequer poderia estar dirigindo.

A defesa do réu tem apostado na tese de que a culpa pela colisão é dos jovens mortos. Segundo os advogados de Carli, o Honda Fit não respeitou a preferencial – que era a via por onde o carro do ex-deputado trafegava. No instante da colisão, o semáforo estava desligado.

Em fevereiro de 2014, a 1.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) entendeu que havia indícios de que Carli Filho assumiu o risco de matar ao dirigir em alta velocidade e depois de ingerir bebida alcoólica. O júri popular ainda não foi marcado porque restam recursos interpostos pela defesa que ainda não foram analisados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Em maio do ano passado, em mais um capítulo polêmico dessa história, Carli Filho divulgou um vídeo pedindo perdão às mães dos jovens mortos. Em resposta, Chistiane Yared reagiu imediatamente, dizendo que o ex-deputado estava “sete anos atrasado para o enterro” do filho dela e que não percebeu sinceridade no pedido de perdão.

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