• Carregando...
Colégio profissionalizante em Campo Largo teria sofrido com fraudes nas medições das obras. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Colégio profissionalizante em Campo Largo teria sofrido com fraudes nas medições das obras.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O conjunto de prédios que sediaria o Colégio Estadual de Educação Profissional (Ceep) de Campo Largo deveria ter sido entregue há dois anos e meio – em fevereiro de 2015 – mas, por enquanto, só os esqueletos das edificações estão em pé. E, pior, se deteriorando com o tempo. Orçada em mais de R$ 7 milhões, a obra foi paralisada há um ano, por determinação do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR). O órgão apontou fraudes nas medições das obras – irregularidades similares às apuradas na Operação Quadro Negro. Se tivesse sido inaugurado, o Ceep ofereceria cursos profissionalizantes a 1,2 mil jovens.

IMAGENS: Veja galeria de fotos da obra parada, que deveria ter sido entregue em fevereiro de 2015

Até agora, R$ 2,854 milhões, entre recursos estaduais e federais, foram repassados à Construtora Machado Valente, que era responsável pela obra. Mas o dinheiro foi impugnado pelo TCE-PR e a empresa terá que devolver os valores aos cofres públicos. O governo do Paraná deve fazer uma nova licitação para concluir a construção.

Enquanto isso, o cenário no canteiro de obras do Ceep de Campo Largo é de completo abandono. Os tapumes de metal foram derrubados, expondo os três prédios que se deterioram sem uso, enquanto o mato começa a crescer em volta. Manilhas, pilhas de tijolo, escadas de madeira e carrinhos-de-mão jazem pelos cantos, enquanto paredes e vigas inacabadas expõem vergalhões enferrujados, tudo dando a impressão de que os serviços foram interrompidos de uma hora para outra.

Logo à entrada, se estende o primeiro e maior dos prédios que comporiam o complexo do Ceep. Trata-se de um bloco de dois pavimentos, com dezenas de salas e que ocupa uma área do tamanho aproximado de um campo de futebol. A edificação se liga a dois anexos: uma espécie de anfiteatro e uma provável área administrativa. Além de limbo, algumas paredes já apresentam pichações – em uma das quais é possível se ler “respeito é pra quem tem”.

Ao fundo do terreno, há outros dois blocos, menores que o primeiro, mas grandes o suficiente para abrigar mais de uma dezena de salas cada um. Na lateral do terreno, permanecem erguidos um alojamento e um refeitório de madeira, que serviam aos operários que trabalhavam na construção. Ao fundo, uma valeta represa água podre e parada, na qual boiam ripas e pedaços de madeira.

Construtora citada na delação

A Construtora Machado Valente foi citada na delação premiada de Eduardo Lopes de Souza, dono da empreiteira Valor, principal foco de irregularidades apuradas na Operação Quadro Negro. O delator revelou que dinheiro liberado para a construção de escolas era desviado para a campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB). O esquema se dava por meio de medições fraudulentas no andamento das obras.

“O [Maurício] Fanini [que era da Superintendência de Educação] comentou comigo que um esquema semelhante ao meu ocorria também com as empresas Talento, M.I. e Machado Valente, em relação às quais também teria havido medições antecipadas e repasses de recursos destinados à campanha do governador Beto Richa à reeleição”, disse Lopes de Souza, na delação.

“Nunca participei de esquema nenhum”, diz dono de construtora

Um dos sócios da Machado Valente, o empresário Jairo Machado, disse que ao longo de 20 anos que atua como construtor nunca tinha tido uma obra embargada. Ele nega que tenha havido irregularidades nas medições das obras do Ceep em Campo Largo e se disse surpreso ao ser informado pela reportagem que Lopes de Souza havia mencionado a Machado Valente em sua delação.

“Uma das obras que a Valor perdeu na concorrência foi essa de Campo Largo, que perdeu para mim. Ele deixou de faturar nessa obra, porque ele não ia conseguir fazer o esquema lá”, disse Machado.

O empresário disse que o esquema que girava em torno da Valor Construtora acabou penalizando outras construtoras que, segundo ele, nada tinham a ver com as irregularidades. Ele atribuiu isso às sanções impostas pelo TCE-PR.

“Eu vou deixar bem claro que não conheço esse rapaz da Valor [Eduardo Lopes de Souza], eu nunca tive nada com o Fanini, nunca recebi pagamento por fora, nada disso. Ao contrário da Valor, nunca botei ‘laranjas’, nunca deixei de terminar obras. Não participei de esquema nenhum”, afirmou. “Eu e outras empresas estamos sendo penalizados por causa da Valor e da Quadro Negro.”

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]