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Professora Ida Chapaval Pimentel  trabalha com a sua equipe no combate a uma praga de morangueiros | André Rodrigues/Gazeta do Povo
Professora Ida Chapaval Pimentel trabalha com a sua equipe no combate a uma praga de morangueiros| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Um laboratório escondido no subsolo do Setor de Ciências Biológicas, no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), abriga o desenvolvimento de uma pesquisa que pode facilitar – e muito – a vida dos produtores de morango do Paraná. Os estudos dizem respeito a uma pequena lagarta, a Duponchelia fovealis Zeller, conhecida popularmente como Lagarta da Coroa. Quem vê o tamanho do bicho subestima o estrago que ele pode causar: em um morangueiro, a aparentemente inofensiva lagartinha come tudo – caule, folhas e frutos.

A infestação por essa lagarta em morangueiros reduz a produção em, no mínimo, 30%. O dano, porém, pode ser pior: em alguns casos, 50 lagartas infestam um único pé. “A planta não aguenta e morre”, explica Maria Aparecida Cassilha Zawadneak, pesquisadora da UFPR que identificou a lagarta em 2010. Naquela época, produtores levaram à universidade amostras da praga, então desconhecida. Foi a primeira notificação da ocorrência do bicho, originário da região do Mediterrâneo, na América do Sul.

DESEJOS PARA O PARANÁ: Aproximação entre universidades e iniciativa privada

Depois de identificada a praga, começou o trabalho para descobrir como combatê-la. O problema é que não existe um produto recomendado para isso. “Há urgência em encontrar uma alternativa. Hoje, 90% das áreas de plantação de morangueiro no Paraná são comprometidas com a lagarta”, diz a professora Ida Chapaval Pimentel, também da UFPR.

Combate biológico

É para resolver esse problema que as pesquisadoras e seus orientandos de iniciação científica e pós-graduação têm trabalhado. Em 2013, com apoio da Fundação Araucária e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o grupo conseguiu identificar, por meio do trabalho do pós-doutorando Alex Sandro Poltronieri, dois fungos com potencial para se tornarem inseticidas biológicos.

“No laboratório, eles já mostraram resultados satisfatórios no combate à lagarta. Agora, precisamos ver como os fungos se comportam em testes de campo, onde as condições não são controladas e há influência de outros agentes”, explica Ida. Se tudo der certo, em alguns anos a pesquisa tem potencial para se transformar em um produto necessário para os produtores de morango.

Nas mãos da pesquisadora, folha de morangueiro comida pela ação das lagartas André Rodrigues/Gazeta do Povo

Coragem para investir

Como a pesquisa das professoras da UFPR, outras vêm sendo desenvolvidas no Paraná e, se incentivadas, podem trazer frutos importantes para indústria e a agricultura do estado. A Fundação Araucária – órgão ligado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná – é uma das fontes de recursos para os pesquisadores paranaenses que desenvolvem estudos na área de inovação. O dinheiro utilizado pela Fundação para financiar projetos é parte dos 2% que o Executivo estadual deve, por lei, destinar à área de Ciência e Tecnologia.

“No caso da inovação, procuramos aplicar recursos em ideias e pessoas. O desenvolvimento econômico só vem se tivermos coragem de investir em Ciência e Tecnologia”, afirma Paulo Roberto Brofman, diretor da fundação.

Para conseguir apoiar mais projetos, a fundação tem procurado parcerias com outras entidades governamentais, como o próprio CNPq. O corte de recursos por parte do governo federal, entretanto, faz com que os pesquisadores vislumbrem um futuro de dificuldades. “Já estamos sentindo algumas mudanças. Os órgãos parceiros não deixaram de honrar nenhum compromisso, mas pediram que adiássemos alguns dos nossos projetos”, conta Brofman.

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Com a iniciativa privada

Se, por um lado, o corte de recursos públicos para a Ciência e Tecnologia está longe de ser uma medida acertada, por outro os pesquisadores buscam manter seus projetos como podem. Uma das alternativas é a parceria com empresas privadas – algo que a Fundação Araucária já vem colocando em prática há algum tempo.

Um dos projetos contemplados pelo financiamento da fundação é coordenado pelo professor Najeh Maissar Khalil, do departamento de Farmácia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). A parceria é com a empresa Prati- Donaduzzi, e envolve o uso de nanotecnologia para o desenvolvimento de um medicamento destinado ao tratamento de doenças do sistema nervoso.

DESEJOS PARA O PARANÁ: Estímulo à inovação

“Percebemos que as universidades possuem ideias muito interessantes, mas há uma dificuldade em transformar a ideia em um produto final. A indústria, por sua vez, tem o know-how para aplicar os conceitos desenvolvidos e aperfeiçoar os processos produtivos, conseguindo disponibilizar em grande escala a tecnologia desenvolvida”, afirma Liberato Brum Junior, gerente de Inovação e Pesquisa Clínica da Prati-Donaduzzi.

A experiência tem sido proveitosa para os dois lados.“É a primeira vez que trabalhamos diretamente com a empresa, e tem sido muito bom. Estamos aprendendo muito e vivendo o outro lado, de desenvolver algo que tem a possibilidade de ser aplicado e utilizado pela população”, diz o professor.

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De acordo com o diretor da Fundação Araucária, parcerias desse tipo têm sido cada vez mais frequentes e têm superado a resistência inicial de ambos os lados. “Hoje a mentalidade dos pesquisadores e das empresas está mudando. O que se tem entendido é que o caminho é pelo estabelecimento de parcerias entre universidades, iniciativa privada e agências de fomento”, afirma Brofman.

E, no Brasil, o Paraná é um dos estados que podem expandir tais parcerias e se destacar no que diz respeito à inovação. “O sistema educacional do estado é muito forte e esse potencial tem que ser usado pra beneficio social da publicação, não para acabar só na publicação”, defende o diretor.

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