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Polícia Federal em um órgão do governo do Paraná, no dia da deflagração da Operação Integração | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Polícia Federal em um órgão do governo do Paraná, no dia da deflagração da Operação Integração| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Os sobrenomes dos implicados na Operação Integração, deflagrada no último dia 22 no bojo da Lava Jato, têm ajudado o Ministério Público Federal (MPF) na tarefa de conectar empresários, empregados do alto escalão da concessionária de rodovias Econorte e também agentes públicos, especialmente do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), órgão do governo do Paraná. A suspeita geral é de prática dos crimes de corrupção, peculato, fraude, lavagem e associação criminosa. Entenda:

Beckert

Entre os investigados está Gilson Beckert, que foi funcionário do DER ao menos entre janeiro de 2013 e junho de 2016. Somente quase um mês depois da nomeação, Paulo Beckert, que é filho de Gilson Beckert, abriu uma empresa chamada PGB Engenharia. O único sócio-administrador era o próprio Paulo Beckert e a sede da empresa tinha o mesmo endereço residencial do pai, Gilson Beckert. 

Mas as suspeitas do MPF envolvendo a empresa surgiram porque a PGB Engenharia passou a receber dinheiro da Econorte (R$ 276.857,50) e também da empresa Rio Tibagi (R$ 435.965,09), que é subsidiária da Econorte, pela prestação de “supostos serviços”. “Embora seja o suposto prestador de serviço, em nenhum momento Paulo Beckert enviou mensagens com esboço de projetos ou comentou sobre aspectos técnicos do serviço. Há indícios de que Paulo Beckert não prestou serviço, sendo beneficiário de apenas um percentual do valor do contrato”, escreve o MPF, à Justiça Federal do Paraná.

A maior parte dos valores foi destinada a Marcelo Zamarian, que é funcionário da própria Econorte, e para Sérgio Lapa, da empresa Sinatraf Engenharia e Comércio Ltda. “Não há razão legítima para a terceirização de serviços da PGB para a Sinatraf. Há suspeita, portanto, de que a PGB atuou apenas como uma intermediária de repasses que eram feitos para a Sinatraf, descontada uma comissão pelo serviço ilícito. Além disso, há suspeitas de que a própria Sinatraf era uma intermediária de pagamentos feitos para terceiros em espécie”, anota o MPF.

A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Gilson Beckert, Paulo Beckert, Marcelo Zamarian e Sérgio Lapa.

Gayer

Outras suspeitas do MPF recaem sobre a empresa Gtech Engenharia e Planejamento Ltda, aberta em 2012 pelo casal Shaianne Sherma Croches Gayer e Oscar Alberto da Silva Gayer Júnior, que é filho do servidor aposentado do DER Oscar Alberto da Silva Gayer. “A Gtech era usada para recebimentos indevidos de Oscar Alberto da Silva Gayer enquanto ocupava o cargo público no DER”, acredita o MPF.

pai do empresário trabalhou por quase 20 anos no DER, se aposentando em 2015. Naquele ano, ele declarou que tinha o DER como única fonte de renda, e que recebeu um total de R$ 205.622,84 do órgão. Na prática, acrescenta o MPF, ele recebeu mais R$ 808.392,99 em 2015, da Gtech, e não informou na declaração do Imposto de Renda. Já a Gtech recebeu ao todo R$ 7.302.337,70 da Rio Tibagi, da Econorte, e também das concessionárias de rodovias Ecovia e Ecocataratas.

“Fato que chamou a atenção é o crescimento vertiginoso dos ganhos dos sócios, que saltou de um total de R$ 457.205,71 para R$ 2.836.497,30, em um período de quatro anos analisados, observando, ainda, que o sócio Oscar Alberto da Silva Gayer Júnior era funcionário da Construtora Triunfo (ligada à Econorte)”, mostra o MPF.

O advogado Walter Bittar, que defende Oscar Alberto da Silva Gayer, disse à Gazeta do Povo nesta terça-feira (6) que seu cliente até agora não foi ouvido pelos investigadores. “Estou pedindo para que ele seja ouvido em caráter de urgência, para que ele possa explicar. Ele não teve chance de depor, embora esteja preso [desde o último dia 22]”, criticou ele. 

O MPF informou à Gazeta do Povo na quarta-feira (7) que já tentou ouvir Gayer: “Conforme consta de termo de declarações do dia 26/02/2018, Oscar Alberto da Silva Gayer teve oportunidade de prestar todos os esclarecimentos sobre os fatos investigados, mas preferiu permanecer em silêncio”.

Bittar também disse que, no período em que Gayer estava afastado do DER, ele acabou prestando serviços para a empresa do filho. “Ele providenciava uma retificação do Imposto de Renda [para justificar os valores recebidos da Gtech]”, disse o advogado. 

A reportagem deixou recado no escritório Sánchez Rios Advocacia Criminal, responsável pela defesa de Oscar Alberto da Silva Gayer Júnior, mas não obteve retorno até o fechamento deste texto. 

Nasser

Não foram apenas funcionários e ex-funcionários do DER que acabaram envolvidos na Operação Integração. Um servidor comissionado da Casa Civil do governo do Paraná desde 2013, o advogado Carlos Felisberto Nasser, também teria recebido dinheiro da Rio Tibagi através da empresa Power Marketing Assessoria e Planejamento Ltda. A empresa é administrada formalmente pela professora aposentada Ercília Maria Nasser Viecili, que é irmã de Carlos Felisberto Nasser. 

De acordo com o MPF, embora haja indícios de que a Power Marketing “não tenha real existência”, a empresa recebeu um total de R$ 2.267.565,51 da Rio Tibagi, por serviços supostamente prestados entre 2007 e 2015. Boa parte do dinheiro caiu na conta do servidor comissionado da Casa Civil, que só perdeu o cargo após o escândalo vir à tona. “Se for considerado somente o período entre 2013 e 2015, os créditos na conta-corrente de Carlos Felisberto Nasser chegam a ser quase quatro vezes maiores do que os rendimentos declarados”, informa o MPF.

Aos investigadores, Ercília Maria Nasser Viecili confirmou no último dia 22 que de fato apenas figurava como sócia da Power Marketing, a pedido do seu irmão, e que “nunca teve qualquer atuação na empresa”. Já Carlos Felisberto Nasser, indagado pelas autoridades no mesmo dia, disse que a Power Marketing não possui clientes, que era apenas uma “expectativa de atuação na área de jornalismo”. Nasser também falou que não tem qualquer atuação junto à Rio Tibagi. 

Guerra

Para o MPF, a investigação “comprovou a existência de repasses a empresas que, aparentemente, eram utilizadas pela Rio Tibagi/Econorte” para “desviar recursos em favor do administrador da Rio Tibagi, Leonardo Guerra”. Os investigadores citam nomes de mais de dez empresas que seriam “de fachada” ou, mesmo tendo existência real, “não prestaram nenhum serviço” à Rio Tibagi. 

O MPF narra que elas recebiam pagamentos da Rio Tibagi, por supostos serviços prestados, mas, na prática, o dinheiro depois acabava nas contas de empresas de parentes de Leonardo Guerra, “sem causa lícita”. O MPF cita a “Floricultura Guerra e Rosa”, de Heloíza Guerra, irmã de Leonardo Guerra, e “Prox. Ltda”, de propriedade de Leonardo Guerra e de seu pai, Luiz Miguel Guerra.

“Há evidências de que o administrador da Rio Tibagi, Leonardo Guerra, recebia de diversas ‘prestadoras de serviço’ da Rio Tibagi contrapartidas financeiras decorrentes das respectivas contratações: tais empresas (de fachada ou sem capacidade operacional) emitiam notas referentes a transações inexistentes, de modo a acobertar a retirada de valores da Rio Tibagi, posteriormente repassados à Floricultura Guerra e Rosa”, escreve o MPF.

A Receita Federal apontou que, entre 2011 e 2013, Leonardo Guerra adquiriu 40 imóveis na cidade de Londrina, e custeou despesas suas e de seus familiares, com dinheiro da Floricultura Guerra e Rosa.

Entre as pessoas jurídicas citadas pelo MPF em função da conexão com Leonardo Guerra está a empresa Anilton Murari Serralheria, que recebeu R$ 4.417.298,22 da Rio Tibagi. O MPF observa que as operações da empresa de Anilton Murari com a Rio Tibagi “não foram devidamente escrituradas” e que “a empresa não aparenta ter os atributos e a capacidade operacional necessários às transações que foram objeto das notas fiscais apresentadas”.

O dono da empresa é o ex-vereador do município de Jataizinho Anilton Murari, conhecido como “Polaco Serralheiro”. O MPF aponta que “diversos pagamentos” partem da empresa do ex-parlamentar em favor de pessoas ligadas ao administrador da Rio Tibagi. A mãe de Leonardo Guerra, Suzete Stella Guerra, recebeu uma soma de R$ 90.300,00. A empresa Floricultura Guerra e Rosa, de Heloíza Guerra, irmã de Leonardo Guerra, recebeu R$ 203.300,00.

À Gazeta do Povo, o advogado de Leonardo Guerra, Walter Bittar, alega que seu cliente explicou pontualmente às autoridades todas as transferências e admitiu que, para realizar pagamentos em espécie a mais de 250 trabalhadores da Rio Tibagi, acabou se utilizando de notas fiscais “frias”. “Eram trabalhadores informais e ele reconhece que houve irregularidades, mas não houve desvio de dinheiro, lavagem de dinheiro”, comentou Bittar. 

A reportagem não conseguiu contato com Anilton Murari.

Ogama

O presidente da Econorte, Hélio Ogama, também é mencionado na investigação a partir da análise das contas da empresa Sinatraf, prestadora de serviços da Rio Tibagi. Na contabilidade da empresa Sinatraf foram lançados “empréstimos” e “duplicatas” em favor da Engeope Serviços Máquinas e Operações, de Londrina, e também da Viaenge Planejamento Viário e Construções, de Ibiporã. As duas empresas são ligadas a parentes de Hélio Ogama e também de Marcelo Zamarian, que é funcionário da Econorte. 

A primeira empresa está no nome de Verussa Naomi Minami Ogama, filha de Hélio Ogama, e de Ugo Kendy Carella, genro de Hélio Ogama. Já a Viaenge Planejamento Viário e Construções está no nome de Renan Cirino Zocco, que é cunhado de Marcelo Zamarian.

O advogado de Hélio Ogama, Gabriel Bertin de Almeida, disse à Gazeta do Povo que seu cliente já “esclareceu tudo” ao MPF e que “faremos nossas manifestações no processo”.

Leal

Nelson Leal Júnior, que estava no comando do DER quando a Operação Integração foi deflagrada, também é alvo do MPF. A partir da quebra de sigilo bancário dele, da sua mulher, Georgia Junqueira Leal, e também da empresa do casal, a Junqueira Leal Arquitetura e Engenharia Ltda, os investigadores apontaram que “boa parte das despesas pessoais do casal após 2013 (quando Nelson leal Júnior foi nomeado para o DER) foram pagas com recursos em espécie cuja origem não foi identificada”.

O MPF dá ênfase a um apartamento beira-mar de alto padrão em Balneário Camboriú (SC), comprado por R$ 2.580.000,00, de forma parcelada. Até novembro de 2016, R$ 533.943,42 não teve a origem identificada nas contas bancárias do casal e pelo menos R$ 367.678,70 foram pagos diretamente com dinheiro em espécie. Também cita o aluguel de um barco de 60 pés, no verão do ano passado, em Santa Catarina. Nelson Leal Júnior pagou R$ 16 mil, em espécie. 

Os investigadores também miraram compras em lojas, em valores altos, e pagos em espécie ou boletos. Em uma loja de móveis e arquitetura, quem teria pago uma conta de R$ 68.100,00 foi a empresa Eco Sul Construtora, pertencente a Wellington de Melo Volpato, um empresário de Paranavaí que possui contrato com o DER. Além disso, o MPF identificou um pagamento de R$ 5.000,00 de Volpato em favor da mãe de Nelson Leal Júnior, Lecir Lacroix Leal.

A reportagem deixou recado para o advogado de Nelson Leal Júnior, Beno Brandão, mas não obteve retorno até o fechamento do texto.

Volpato

A relação entre as famílias Leal e Volpato está sendo investigada com atenção pelo MPF. “Assuntos pessoais de Nelson Leal Júnior eram tratados e gerenciados no âmbito da empresa de Wellington Volpato”, escrevem os investigadores. Administrador da empresa Eco Sul Brasil (antiga 3 W Engenharia e Pavimentação Ltda), Wellington de Melo Volpato possui contrato ainda vigente com o DER, para “serviços de conservação rotineira de pavimentos”, no valor inicial de R$ 12.647.562,64.

O contrato foi assinado em 28 de junho de 2012 e tinha previsão de 730 dias. Mas, a partir de 2013, o contrato teve dez alterações (incluindo prorrogações de prazo e alterações de valores) promovidas pelo então diretor-geral do DER Nelson Leal Júnior. Assim, o contrato seria encerrado em 27 de abril de 2018.

Durante as investigações, o MPF ainda destacou o depoimento do empresário Cosimo Barreta, dono da BNB Comércio e Representações, responsável por alugueis de barcos em Santa Catarina. Barreta falou que a empresa Caiuá Locadora de Veículos também faz pagamentos em nome de Volpato. A empresa, de Paranavaí, pertence a Moacir Della Coletta, que é pai de Stella Maris Della Coletta Volpato, mulher de Wellington de Melo Volpato.

“A investigação demonstrou que, da Caiuá Locadora de Veículos, são destinados recursos à empresa de locação de embarcações de luxo [BNB Comércio e Representações] que tem como clientes Wellington de Melo Volpato e Nelson Leal Júnior, o que indica que a Caiuá Locadora de Veículos possa ser uma das empresas pagadoras das despesas pessoais do agente público”, anota o MPF.

Para reforçar a conexão entre as duas famílias, os investigadores mencionam, por exemplo, uma mensagem de 2015 trocada entre Volpato e Cosimo Barreta, e na qual o primeiro informa os nomes das 12 pessoas que estarão no barco alugado, todos da família de Nelson Leal Júnior e de Wellington de Melo Volpato. 

Diretor-geral do DER desde 2013, até ser preso, no último dia 22, Nelson Leal Júnior respondeu a perguntas dos investigadores e negou ser “amigo pessoal” de Wellington de Melo Volpato. Mencionou apenas que sua mulher, Georgia Junqueira Leal, fez a decoração do apartamento de Volpato em Balneário Camboriú (SC) e que, por mero acaso, pode ter se encontrado com o empresário durante passeios de barco. 

Também confirmou que sabe que Volpato tem uma empresa que presta serviços ao DER, mas que “jamais recebeu solicitações de antecipação de pagamentos desta empresa”. Explicou, ainda, que possuía dinheiro para a compra do apartamento em Balneário Camboriú, ao contrário do que alega o MPF. 

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Wellington de Melo Volpato.

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