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A famosa “gotinha”, símbolo da vacinação contra a poliomielite | Jonathan Campos/Gazeta do Povo/Arquivo
A famosa “gotinha”, símbolo da vacinação contra a poliomielite| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo/Arquivo

Um alerta feito pelo Ministério da Saúde no início da semana vem preocupando a população com a possibilidade de retorno da poliomielite (pólio), erradicada no país desde 1990. Conforme o órgão, 312 municípios do Brasil teriam risco de surtos da doença, devido à cobertura vacinal inferior a 50% em 2017. Desses, oito seriam do Paraná: Carambeí, Castro, Piraí do Sul, Ivaí, Sengés, Porto Amazonas, Ipiranga e Campo do Tenente, todos nos arredores de Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Contudo, a Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa) e as prefeituras dos municípios contestam os dados da União. No entanto, o alerta sobre a imunização contra a doença ainda é válido (confira mais informações aqui).

Em Campo do Tenente, por exemplo, a cobertura vacinal entre crianças de até um ano seria de 44,53% conforme os dados do Ministério da Saúde. Porém, a Secretaria de Saúde do município estima que ela seja de aproximadamente 80%. Em Porto Amazonas, o sistema do Ministério diz que foram vacinadas 39,22% das crianças, mas a secretaria municipal estima que sejam 90%.

As vacinas contra a poliomielite devem ser administradas a crianças aos 2, 4, e 6 meses de idade, com reforços aos 15 meses e aos 4 anos uma eficácia completa

“Eles citam esses municípios, que são da terceira regional de saúde, mas é um problema do sistema. A cobertura vacinal nesses locais está satisfatória”, diz o diretor do Centro Estadual de Epidemiologia da Sesa, João Luís Crivellaro. De acordo com ele, uma falha técnica teria corrompido os dados e o próprio Ministério da Saúde estaria trabalhando para consertar o problema.

As informações com relação ao início do problema são desencontradas, mas estima-se que os dados desses municípios registrados no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações estejam incorretos pelo menos desde o início de 2017, logo após uma alteração para que a ferramenta fosse atualizada em tempo real.

Também não se sabe quando o sistema estará funcionando normalmente. “Não sabemos e eu realmente gostaria de saber. Não ter os dados corretos é um problema. Fica difícil planejar”, diz a chefe da vigilância epidemiológica da terceira regional de saúde do estado, Beatriz Vargas. Conforme ela, dependendo do tamanho e do número de postos de vacinação, os próprios municípios têm dificuldades para compilar os dados. “Nos menores, é mais fácil”, diz.

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A enfermeira Renata Ferrari, que trabalha em um posto de vacinação de Porto Amazonas, explica que, para o município esse processo não é tão difícil devido à população da cidade - em torno de 5 mil habitantes, conforme estimativa do IBGE para 2017 - e ao processo adotado ali. “Toda criança que vem se vacinar na unidade, nós registramos a vacinação na carteirinha da criança e no cartão sombra, que fica na unidade para que possamos acompanhar. Mas se fosse um município maior, eu não conseguiria estimar tão facilmente”, afirma.

Problema nacional

A imprecisão dos dados do Ministério não ocorre apenas com as cidades do Paraná. Desde que o alerta foi dado, no domingo (1º), diversos municípios de estados como Ceará, Rio Grande do Sul e São Paulo já questionaram as informações divulgadas.

Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério da Saúde admite que há algumas falhas no sistema relacionadas a municípios específicos, mas que, ainda assim, o risco de reintrodução do vírus existe, pois houve redução no número de crianças imunizadas.

Alerta ainda é válido

Apesar das discrepâncias entre as informações do Ministério da Saúde e dos municípios do Paraná e de outros estados, é importante lembrar que o alerta com relação à necessidade de imunização de crianças contra a poliomielite é válido.

De acordo com o Ministério da Saúde, a cobertura vacinal recomendada no caso da pólio é de 95% e todos os municípios que não atingem esse índice estão em risco. “Quando mantemos essa cobertura vacinal, isso nos dá uma certa tranquilidade, porque se um indivíduo entra em contato com o vírus e fica doente, os que estão ao redor dele têm proteção”, explica João Luís Crivellaro.

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Crivellaro ressalta que há países com casos registrados de poliomielite, como Afeganistão e Paquistão, e que, devido à facilidade de circulação de pessoas no mundo, existe a possibilidade do vírus voltar a circular no país. “Temos que tomar cuidado. A Copa do Mundo, por exemplo [onde há um encontro de pessoas de vários lugares], aumenta o risco de reintrodução de algumas doenças que estão sob controle em alguns países”, diz.

As vacinas contra a poliomielite devem ser administradas a crianças aos 2, 4, e 6 meses de idade, com reforços aos 15 meses e aos 4 anos uma eficácia completa. A idade máxima para imunização é de 4 anos, 11 meses e 29 dias e, depois disso, a criança deve ser imunizada apenas se for viajar para uma área onde há circulação do vírus, devido à redução da eficácia da vacina.

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