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Lula em Curitiba em 2010: comício na CIC. | Albari Rosa/Albari Rosa
Lula em Curitiba em 2010: comício na CIC.| Foto: Albari Rosa/Albari Rosa

A hospitalidade dos curitibanos com o ex-presidente Lula (PT) varia de acordo com as mudanças do contexto político. Nem sempre a passagem do petista pela capital paranaense suscitou o clima de declarado embate entre opositores e defensores do petista como tem ocorrido nas vindas do ex-presidente para prestar depoimento ao juiz Sergio Moro. Em janeiro de 2003, por exemplo, ao visitar a cidade pela primeira vez como presidente da República, Lula foi recebido com festa.

Poucos meses depois de ter conseguido 64% dos votos válidos dos eleitores curitibanos no segundo turno das eleições de 2002, Lula veio à cidade para a cerimônia de posse de Jorge Samek como presidente de Itaipu. A reportagem da Gazeta do Povo publicada no dia da visita relatou o clima da recepção.

“Em todo o caminho até o Canal da Música [saindo do Aeroporto Afonso Pena], a população foi às ruas acenar para o presidente. Crianças com cartazes e bandeiras, homens e mulheres com a esperança de receber ao menos um aceno. Em um dos cartazes, o sentimento de um menino: ‘Eu te amo, Lula’”, registrou a repórter Raquel Zolnier.

Popularidade em alta

Entre altos e baixos, a lua de mel não foi curta e resistiu até ao escândalo do mensalão. Em 2009, já no segundo mandato presidencial e depois de o esquema de corrupção ter ocupado posição de destaque no debate público nacional, o presidente Lula ainda era bem avaliado em Curitiba.

Um levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas mostrava que aprovação ao governo Lula, que tradicionalmente oscilava em torno dos 50%, tinha saltado para 76% em 2009, a maior já registrada na cidade. De julho de 2007 a dezembro de 2008, houve um salto de 24 pontos porcentuais no número de satisfeitos com a administração Lula. Além disso, quase metade dos curitibanos, na pesquisa de 2009, considerava que o segundo mandato do presidente melhorou em relação ao primeiro.

As lideranças políticas também recebiam o ex-presidente com deferência. Nas duas disputas eleitorais – em 2002 e 2006 – não faltaram palanques para Lula em Curitiba. Em diferentes contextos políticos ele recebeu apoio, entre outros, de Requião, Osmar Dias e até de nomes como Flavio Arns – que posteriormente saiu do PT e chegou a ser vice de Beto Richa no governo – e do Senador Álvaro Dias que hoje chama o ex-presidente de “chefe de uma organização criminosa”.

Fim do governo, começo das rusgas

Em 2010 – último ano de governo – a relação entre Lula e Curitiba já dava sinais de desgaste. A candidatura de Dilma, sustentada por Lula, não decolou na capital paranaense. A sucessora petista foi derrotada na cidade nos dois turnos das eleições presidenciais.

Em um dos atos de campanha realizados em Curitiba, a equipe precisou intervir para garantir que um comício realizado na Cidade Industrial não prejudicasse a imagem da candidata Dilma, conforme registro da época da Gazeta do Povo.

“Lula atraiu a atenção do público por cerca de 27 minutos. A estimativa da Polícia Militar é de que aproximadamente 3 mil pessoas tenham comparecido à praça União, na Cidade Industrial de Curitiba. No entanto, antes do início do ato, seguranças chegaram a encurtar o espaço destinado ao público para evitar grandes vazios, o que prejudicaria a imagem do comício”, registraram os repórteres.

O batismo da “República de Curitiba”

A partir de 2014, com a deflagração da Operação Lava Jato, a relação tomou contornos de hostilidade. O fato de a cidade ser a sede das investigações e julgamentos da operação acentuou ainda mais a ruptura entre parcelas dos curitibanos e o político.

Na manifestação de março de 2016, que levou 200 mil pessoas às ruas de Curitiba em defesa do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Lula foi alvo preferencial.

No ato, “a todo instante eclodiam brados como ‘1, 2, 3, Lula no Xadrez’”, registrou a reportagem da Gazeta do Povo.

O tensionamento encontrou seu grande símbolo quando, no ano passado, o juiz Sergio Moro divulgou conversas telefônicas do ex-presidente que haviam sido interceptadas e gravadas pela Polícia Federal.

“Eu, sinceramente, tô assustado com a ‘República de Curitiba’. Porque a partir de um juiz de primeira instância, tudo pode acontecer nesse país”, disse o ex-presidente em uma das ligações.

Adotada pelos apoiadores da Lava Jato, a expressão foi incorporada ao vocabulário antilulista e passou a estampar outdoors, camisetas e faixas de oposição ao ex-presidente.

Cidade sitiada

Em maio deste ano, quando o ex-presidente veio a Curitiba depor pela primeira vez ao juiz Sergio Moro, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná montou o segundo maior esquema de segurança da sua história, que perdeu apenas para a operação feita quando Curitiba recebeu partidas da Copa do Mundo, em 2014. Foram mobilizados 3 mil homens e mulheres – entre policiais federais, militares e rodoviários federais, além de guardas municipais e agentes de trânsito de Curitiba e São José dos Pinhais.

Além do forte esquema de segurança, a passagem de Lula pela cidade ficou marcada também pelas manifestações de apoio ao ex-presidente, que, depois do depoimento a Moro – já durante a noite –, discursou para seus apoiadores que passaram o dia reunidos na Praça Santos Andrade, no Centro da capital. Em menor proporção, a cidade também teve mobilizações de grupos contrários ao ex-presidente, que se reuniram na região do Centro Cívico.

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