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Polícia Federal fez busca e apreensão de documentos na UFPR. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo/Arquivo
Polícia Federal fez busca e apreensão de documentos na UFPR.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo/Arquivo

Com o giroflex ligado, a movimentação de viaturas policiais tornou atípica aquela manhã na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Há seis meses, no dia 15 de fevereiro, era deflagrada a Operação Research, que trazia a público um esquema – até certo ponto grosseiro – que drenava recursos públicos. Passado meio ano, a UFPR ainda pena para apurar as responsabilidades. Dinheiro, imóveis e até joias foram bloqueados pela Justiça, mas em valores ainda bem inferiores aos R$ 7,3 milhões que foram usurpados dos cofres públicos.

Pomposo e em inglês, o nome da operação – que significa pesquisa – talvez não evidencie o quanto o problema afeta toda a população. Não só porque dinheiro público foi gasto irregularmente, mas porque eram verbas que deveriam ser aplicadas em trabalhos científicos para diagnosticar problemas e oferecer soluções. Aproveitando-se de brechas no sistema interno da UFPR, servidores incluíram na lista de beneficiados de auxílio-pesquisa pessoas que não tinham vínculo com a instituição e que não teriam prestado qualquer serviço.

Em tese, a universidade tinha 120 dias – 60 dias, prorrogáveis por igual período – para concluir a sindicância instaurada para apurar a responsabilidade dos funcionários encarregados de zelar pela aplicação correta do dinheiro. Contudo, 180 dias depois do caso vir a público, a investigação interna ainda não foi encerrada.

A justificativa apresentada pela UFPR, por meio da assessoria de imprensa, é de que se trata de uma situação com grande número de documentos para serem analisados e de testemunhas a serem ouvidas, algumas difíceis de serem localizadas, e que os integrantes da comissão mantêm a rotina acadêmica (com aulas e outras atividades) e, assim, não se dedicam exclusivamente à investigação. Além disso, é preciso dar amplo direito de defesa aos acusados. Como não houve qualquer medida punitiva até aqui, alguns servidores foram afastados das funções, mas seguem recebendo salário.

Ainda segundo a assessoria de imprensa, a UFPR concluiu o Plano de Dados Abertos. A previsão é de que até abril de 2018 todas as informações de interesse público relacionadas à universidade estejam disponíveis aos cidadãos. Além disso, a instituição criou o Comitê de Governança de Bolsas e Auxílios, que está trabalhando na elaboração de um modelo próprio de integração dos diversos sistemas de controle. O objetivo é aperfeiçoar os processos, automatizando os processos e tornando-os mais confiáveis e transparentes. Depois da operação, com a imagem abalada, a instituição lançou uma campanha de valorização – que sugeria que funcionários, alunos e ex-alunos expressassem o amor e o orgulho pela UFPR.

A Polícia Federal (PF) segue investigando o caso, para rastrear onde o dinheiro foi parar e tentar identificar todos os beneficiários do esquema – para além das 32 pessoas que chegaram a ser presas. Uma ação judicial foi proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) e busca apurar responsabilidades. A Gazeta do Povo buscou contato com os envolvidos, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para que comentem o caso.

Entenda o caso

O desvio começou pequeno, com poucos envolvidos e pagamentos módicos, e cresceu de forma a chegar a 30 pessoas, incluindo moradores de outros estados, que constavam como beneficiários de bolsas. Os pagamentos suspeitos começaram em 2013 e se estenderam até 2016. Cabeleireira, artesã, motorista e vendedor estão entre as profissões dos supostos bolsistas. Os valores desviados são significativos: os R$ 7,3 milhões representam 6% de tudo o que foi destinado para auxílio a estudantes e pesquisadores no período (R$ 122 milhões, em quatro anos). Os pagamentos escaparam a todas as formas de controle da UFPR.

Nove servidores da UFPR tiveram os bens bloqueados, na busca pelo ressarcimento dos valores desviados de pesquisas para pessoas que não tinham qualquer vínculo com a universidade. O reitor Ricardo Marcelo Fonseca afirmou, à época, que soube do desvio de recursos logo que assumiu a administração da UFPR, em janeiro, mas que a denúncia à Polícia Federal havia sido feita poucos dias antes de ele tomar posse, ainda na gestão do ex-reitor Zaki Akel.

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