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Partidos políticos estão “envergonhados” de serem partidos. Ou, pelo menos, de se identificarem dessa forma e usarem a palavra “partido” em seus nomes. A nova onda é fundar ou rebatizar legendas com denominações que passam longe do “termo maldito”. Com isso, as siglas tentam transmitir a ideia de que são algo diferente na vida pública. E buscam angariar a simpatia do eleitorado, que não confia nem um pouco nas agremiações partidárias.

O Brasil tem 35 partidos registrados na Justiça Eleitoral. Três não têm a palavra “partido” em sua denominação oficial: Democratas (DEM), Rede Sustentabilidade (Rede) e Solidariedade (SD). E um, embora tenha a o termo em seu nome oficial, nas suas peças de comunicação costuma usar uma denominação mais “limpa”. Trata-se do Partido Novo – para o público externo, apenas “Novo”.

O movimento de abandonar o termo “partido” é relativamente recente. Dessas quatro siglas, três foram fundadas de 2013 para cá: a Rede, o Solidariedade e o Novo. E o quarto, o DEM, foi rebatizado em 2007. Antes se chamava Partido da Frente Liberal (PFL).

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Nome de guerra

A esses quatro estão se somando outras duas legendas que, mesmo sem ainda trocar oficialmente de denominação, passaram a usar um nome de guerra mais simpático para o eleitor. O PSL (Partido Social Liberal) agora chama a si próprio de “Livres” em seu material de divulgação ou de “PSL/Livres”. Já o PTN (Partido Trabalhista Nacional) se apresentou como “Podemos” na propaganda eleitoral gratuita exibida na televisão nesta semana.

Até mesmo dentro de um gigante da política nacional, o PMDB, há uma ala que defende a proposta de deixar o “P” de lado e retornar ao nome original da sigla, usado durante quase todo o período da ditadura militar: MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

17 de 58 partidos

O Brasil tem mais 58 siglas partidárias pedindo registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos quais 12 não usam o termo “partido” em seus nomes. Há ainda mais cinco que, embora tenham se batizado oficialmente como “partido”, também pedem para a Justiça Eleitoral reconhecer um nome fantasia, sem o “termo maldito”, que provavelmente será usado em sua comunicação com o eleitor.

Sem credibilidade

Há duas explicações para a palavra “partido” estar em desprestígio. O termo carrega uma forte rejeição da população. Legendas políticas são há muito tempo uma das instituições com menos credibilidade no Brasil. Pesquisa da Escola de Direito da FGV de São Paulo, divulgada em outubro do ano passado, mostra que apenas 7% dos brasileiros confiam nas siglas partidárias. O Congresso Nacional tem mais credibilidade: 10%.

“A aposta é que, com uma ‘roupa nova’, talvez o partido agrade mais ao eleitor”, diz o cientista político Mário Sérgio Lepre, professor da PUCPR. Os termos usados pelas novas siglas, diz ele, passam ideias positivas.

Mas, segundo Lepre, o simples fato de não se chamar “partido”, por si só, não é suficiente para garantir sucesso eleitoral. O Democratas é um exemplo. Diminui de tamanho logo depois de trocar de nome.

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Outra explicação para a febre das siglas que abandonam o termo “partido” é legal. A reforma partidária de 1980, que acabou com o bipartidarismo no Brasil, exigiu que todas as legendas usassem a denominação “partido” em seu nome. Antes, o país chegou a ter partidos que não eram identificados dessa forma.

A lei que acabou com a exigência só passou a valer mais recentemente. Mas a maioria das atuais siglas já estava constituída. Só as mais novas puderam fazer a opção de não usar o “P” ao serem fundadas.

Inspiração internacional

Os partidos brasileiros têm buscado inspiração em movimentos políticos ou em siglas de sucesso em outros países para se batizarem ou rebatizarem.

O Solidariedade, por exemplo, se espelhou no Sindicato Solidariedade polonês, movimento sindical que contestou o regime comunista no início da década de 1980. No Brasil, o Solidariedade também tem uma base sindicalista: é o braço político da Força Sindical.

Já o PSL se inspirou no Podemos espanhol – movimento de contestação ao capitalismo que decidiu disputar eleições, se estabeleceu como agremiação partidária em 2014 e hoje é a terceira força política do país.

Tendência mundial

No mundo inteiro, aliás, existe a tendência de partidos não se identificarem como partidos. O Podemos da Espanha, por exemplo, se define como uma “ferramenta a serviço da cidadania”. O Movimento 5 Estrelas italiano, fundado em 2009, não se considera um partido, mas um movimento pela democracia direta, contrário à União Europeia e em favor da ecologia. Tem tido sucesso nas eleições e recentemente elegeu a prefeita de Roma.

Outro caso recente de sucesso é o En Marche (Em Marcha, na tradução do francês). Foi fundado em novembro do ano passado por Emmanuel Macron – que se elegeu presidente da França. O En Marche, por sinal, é um nome fantasia. Oficialmente, a sigla se chama Association Pour Le Renouvellement de La Vie Politique (Associação para a Renovação da Política).

Na Grécia, o governo está nas mãos do Syriza (abreviatura de Coligação da Esquerda Radical). Os gregos também têm o Aurora Dourada – sigla com fortes contornos fascistas.

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