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| Foto: Andre CoelhoBloomberg

A ascensão de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto e de Ernesto Araújo ao Itamaraty promete mudanças nas diretrizes da política externa brasileira, em uma ruptura não apenas com os anos Lula (2003-10), mas também com alguns dogmas como a premissa da imparcialidade no Oriente Médio.

O comércio deve ser o norte, e aliados à direita, os mais cortejados. A Europa e a Ásia passam para segundo plano, e EUA e Israel a amigos mais próximos. 

Na região, a ala bolivariana formada por líderes à esquerda como Evo Morales (Bolívia) e Nicolás Maduro  (Venezuela) dá lugar à aliança com os direitistas Sebastián Piñera (Chile) e Iván Duque (Colômbia).

Em crise, a Argentina, principal aliada no continente e também governada por um liberal, Mauricio Macri, parece ser alvo de um resfriamento das relações.

 

Palco mundial

É improvável que o país retome pleitos de governos passados como mediar conflitos, liderar negociações multilaterais como Doha (comércio) e Paris (clima) ou a busca pelo assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Missões de paz e de defesa podem continuar, em vista pela forte presença de militares no novo gabinete. A mudança de alianças também deve dar alguma visibilidade devido ao afastamento da Europa Ocidental.

Oposição ao multilateralismo

Integrantes do governo são duros críticos do globalismo e da influência de instituições multilaterais. O futuro chanceler, Ernesto Araújo, anunciou que o Brasil sairá do Pacto Global de Migração da ONU. Bolsonaro chegou a dizer que, se eleito, o Brasil deixaria a ONU. "[A ONU] Não serve para nada, é um local de reunião de comunistas", afirmou em agosto. Depois, voltou atrás e disse que pretende deixar o conselho de direitos humanos da ONU, como fizeram os EUA.

Acordo do Clima

Bolsonaro critica o Acordo de Paris sobre a mudança climática e afirmou que o Brasil abriu mão de sediar a Conferência Climática Mundial da ONU em 2019 porque isso "poderia constranger o futuro governo a adotar posições que requerem um tempo maior de análise e estudo". Para o presidente eleito, o acordo do clima ameaça a soberania na região da Amazônia. O chanceler Ernesto Araújo já afirmou que a esquerda perverteu a causa ambiental, transformando-a em "ideologia da mudança climática".

Mercosul

O guru econômico e futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, alarmou vizinhos do Brasil ao dizer que o Mercosul não será prioridade. Também afirmou que a primeira visita presidencial seria ao Chile, governado por Sebastián Piñera. Isso incomodou argentinos que, tradicionalmente, são a primeira parada dos governantes brasileiros. Embora a Argentina também seja governada por um liberal, a predileção de Guedes --e Bolsonaro-- é clara pelo Chile.

Rompimento com ditaduras alinhadas à esquerda

Os ditadores de Cuba, Venezuela e Nicarágua foram desconvidados da posse. Bolsonaro já mencionou possível rompimento de relações com Cuba, criticou o Mais Médicos e acusou Havana de infiltrar agentes de inteligência entre os profissionais; Cuba acabou com a parceria com o Brasil. O presidente eleito afirmou que a saída de Nicolás Maduro seria o melhor caminho para a Venezuela, mas negou que apoie intervenção militar no país vizinho.

Agronegócio

O futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, anunciou que vai criar uma divisão dedicada ao agronegócio no Itamaraty para promover a exportação dos produtos agrícolas brasileiros e atuar em acordos e negociações. "Nos governos petistas, o Itamaraty foi a casa do MST. Agora estará à disposição do produtor", disse o futuro chanceler em rede social. Ele também afirmou que vai defender o agronegócio brasileiro em foros internacionais da pecha de ser agressor do meio ambiente.

China

Na campanha, Bolsonaro apontou para o aumento da presença chinesa no Brasil: "Terras agricultáveis, subsolo, hidrelétricas, portos, frigoríficos... a China está comprando não NO Brasil, mas O Brasil." Em março, fez uma visita a Taiwan, causando uma saia justa diplomática por ser o primeiro presidenciável a visitar Taiwan desde que o Brasil reconheceu Pequim como "único governo legal da China" em 1974. Em carta, o governo chinês manifestou "profunda preocupação e indignação".

Estados Unidos

Bolsonaro é fã do presidente Donald Trump, que foi um dos primeiros a parabenizar o brasileiro por sua vitória nas eleições. Em um giro pelos EUA, seu filho Eduardo usou boné "Trump 2020" e foi recebido por Jared Kushner, genro do líder americano, e por senadores republicanos como Ted Cruz e Marco Rubio. O assessor de Segurança Nacional do governo Trump, John Bolton, parou no Rio de Janeiro para se encontrar com Bolsonaro, a caminho da reunião do G20 em Buenos Aires.

Israel

Bolsonaro pretende transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, em mais um gesto de alinhamento com os EUA e um agrado à base evangélica do Congresso. O anúncio levou o Egito a cancelar uma viagem que o chanceler Aloysio Nunes faria ao país. A Liga Árabe enviou carta alertando Bolsonaro de que a medida pode prejudicar as relações do Brasil com os países árabes, que hoje representam o segundo maior comprador de proteína animal brasileira.

Oriente Médio

Em mais um alinhamento aos EUA, o filho do presidente eleito, Eduardo Bolsonaro, tem afirmado que o país dará apoio renovado a países sunitas, em oposição ao Irã, de maioria xiita. Em agosto, o então candidato Jair Bolsonaro afirmou que pretende fechar a Embaixada da Autoridade Palestina em Brasília. "A Palestina não é país, não deveria ter embaixada aqui. Não dá para negociar com terrorista", disse. O governo brasileiro reconheceu a Palestina como Estado independente em 2010.

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