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| Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

O adolescente de 14 anos que matou dois colegas e feriu outros quatro nesta sexta-feira (20), em Goiânia, disse à polícia que se inspirou em duas outras tragédias envolvendo atiradores em escolas – o massacre de Columbine, em 1999, nos EUA, e o de Realengo, em 2011, no Rio de Janeiro.

De acordo Luiz Gonzaga Júnior, delegado titular da Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais, o estudante usou uma pistola .40 da mãe que, assim como o pai, é policial militar em Goiás. Gonzaga Júnior afirmou que o adolescente esvaziou um carregador e deu mais um tiro de um segundo carregador. O adolescente disse à polícia que ninguém o tinha ensinado a atirar.

O delegado de Homicídios de Goiânia Francisco Costa afirmou que ao menos 11 tiros foram disparados. As marcas de tiros do atentado, que deixou dois estudantes mortos e outros quatro feridos, estão por toda parte na sala de aula, de acordo com o delegado. Informações preliminares da polícia indicam que o suspeito teria praticado o crime por sofrer bullying.

“Tem marcas de tiros nas paredes e no chão. A gente encontrou até agora 11 cápsulas (de balas) e alguns projéteis espalhados”, afirmou Costa, logo após deixar o local. “Vi dois corpos (de alunos) dentro da sala revirados, várias marcas de sangue, do terceiro andar até o térreo, algumas salas revirados”, contou o delegado.

Os corpos das vítimas foram levados da escola em um camburão do IML (Instituto Médico Legal), no final da tarde desta sexta-feira. O delegado não detalhou o número de disparos, mas afirmou que o adolescente esvaziou um cartucho e deu mais um tiro de um segundo cartucho.

O menino disse à polícia que matou os colegas porque sofria bullying. Gonzaga Júnior não quis entrar em detalhes, mas colegas disseram que ele era chamado de “fedorento” por não usar desodorante. Segundo Gonzaga Júnior, o jovem pegou a arma em um móvel de casa na noite de quinta-feira (19) e levou a pistola para a escola dentro da mochila. A arma ainda guardada fez um disparo acidental. Ele então atirou em um colega que tinha como desafeto e morreu.

Leia também: “Ele levantou a arma e atirou para todo lado”, diz colega de atirador de Goiânia

O delegado Gonzaga Júnior não confirmou, mas alunos da escola disseram que o garoto com quem ele tinha inimizade era João Pedro Calembo. Ele já havia pensado em matar o colega há cerca de três meses, quando começou a pesquisar os crimes em escolas nos EUA e no Rio.

Em seguida, de acordo com o titular da Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais, ele disse “vocês vão todos morrer” e atirou nos outros colegas. João Vitor Gomes, amigo do garoto, também morreu. “Motivado por esse bullying, ele resolveu executar e matar colegas. Primeiro este colega e depois, segundo ele, teve vontade de matar mais”, afirmou Gonzaga Júnior.

A polícia informou que o adolescente foi contido pela coordenadora da escola. O atirador apontou a arma para a própria cabeça, mas a coordenadora o convenceu a não disparar. O delegado disse que ele travou a arma, mas não a entregou à profissional, que o levou à biblioteca e chamou a polícia.

O pai do atirador, que já foi ouvido pela polícia, disse que o adolescente já fez acompanhamento psicológico, era um ótimo aluno e tinha uma boa relação em casa. A mãe ainda será ouvida.

O delegado Gonzaga Júnior disse que ele aparentava arrependimento durante o depoimento, mas não chegou a pedir desculpas. O adolescente foi apreendido, mas os pais dele, que podem ser responsabilizados pelo crime, estão em liberdade.

Sobreviventes

Dos quatro alunos feridos, três - duas meninas e um menino – estão no Hospital de Urgências de Goiânia. A vítima mais grave é uma menina de 13 anos atingida nos pulmões, na mão e no pescoço. De acordo com o hospital, ela está em coma induzido na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), respira com ajuda de aparelhos e teve que fazer uma drenagem nos dois pulmões atingidos.

Uma outra menina de 13 anos teve o pulmão esquerdo perfurado e também passou por drenagem, mas está acordada e respira espontaneamente. Um menino também de 13 anos também levou um tiro no tórax, mas não houve perfuração do pulmão. Nenhuma das vítimas tem previsão de alta.

Uma quarta pessoa está internada no Hospital de Acidentados, que não deu informações.

Realengo e Columbine

Em abril de 2011, em Realengo (zona oeste do Rio), doze adolescentes - dez meninas e dois meninos – morreram no massacre da escola municipal Tasso da Silveira. Eles foram vítimas de Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, que atirou contra as vítimas na sala de aula.

Ex-aluno da escola, Oliveira entrou na escola por volta das 8h30 e disse que buscaria seu histórico escolar. Depois, disse que daria uma palestra e, já em uma sala de aula, começou a atirar na direção dos alunos. Segundo a polícia, a ação durou cerca de cinco minutos. Além dos 12 mortos, outras 12 pessoas ficaram feridas - ao menos quatro em estado grave. Após o ataque, Oliveira cometeu suicídio.

O atirador usou dois revólveres e tinha muita munição. Além de colete a prova de balas, usava cinturão com armamento. Em anotações encontradas pela polícia em sua casa, o atirador pôs a culpa pelo massacre nos que o humilharam na escola na adolescência.

“Muitas vezes, aconteceu comigo de ser agredido por um grupo e todos os que estavam por perto debochavam, se divertiam com as humilhações que eu sofria sem se importar com meus sentimentos”, escreveu ele.

Nos Estados Unidos, em abril de 1999, dois adolescentes armados mataram 13 estudantes e um professor na Columbine High School em Littleton, no Colorado, em uma das tragédias do tipo que se tornaram mais conhecidas mundialmente. Depois do ataque, os adolescentes cometeram suicídio juntos.

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