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| Foto: Evaristo Sa/AFP

Depois do desgaste gerado pelo vazamento de um bate-boca no grupo de WhatsApp da bancada do PSL na Câmara, o presidente eleito Jair Bolsonaro impôs a parlamentares de seu partido uma lei do silêncio. Ele orientou os deputados e senadores eleitos pelo partido a priorizarem debates presenciais. No caso de conversas pelo aplicativo de troca de mensagens, recomendou que fossem evitados diálogos em grupos.

“O presidente Jair Bolsonaro é contra a criação de grupos de WhatsApp porque em um grupo existem diversas pessoas e quando esses prints vazam ninguém sabe quem é que vazou. Então, o ideal são conversas pessoais ou conversas de WhatsApp um com o outro. Em caso de vazamento, sabe-se quem é que vazou”, afirmou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos filhos do eleito.

A declaração foi feita após reunião do futuro presidente com deputados e senadores de seu partido, em Brasília. O encontro foi marcado depois de Eduardo ter protagonizado na semana passada uma briga com a deputada eleita Joice Hasselmann (SP). 

Na conversa, o filho do presidente eleito chama a deputada de “sonsa” e diz que ela tem “fama de louca”. Joice, por outro lado, o acusa de mandar “recadinhos infantis”.

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O episódio foi mal visto por integrantes da transição e lideranças pediram que os ânimos entre os deputados se acalmassem para não passarem a imagem de que as brigas internas começaram antes mesmo do novo governo.

Na segunda, o futuro chefe da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, que é ex-presidente do PSL, pediu união. “O partido tem que estar unido, tem que haver conscientização de cada um. A maioria dos eleitos foi eleito por iniciativa de Jair Bolsonaro. Se não fosse a onda Jair Bolsonaro a grande maioria não teria sido eleita”, afirmou.

Na reunião desta quarta, Bolsonaro solicitou, segundo Eduardo, “um pouquinho de serenidade aos candidatos [à liderança] para não declarar voto para a presidência da Câmara, ou quaisquer outros cargos, para sentirem um pouco o clima”.

“As negociações na Câmara, as articulações, ainda estão ocorrendo então mais para frente terão visão mais clara de como proceder”, disse o filho do eleito.

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De acordo com relatos dos presentes, houve uma orientação para que se evitasse fazer transmissões ao vivo do encontro ou gravações da conversa. Com forte atuação nas redes sociais e grande número de seguidores é comum que aliados de Bolsonaro transmitam ao vivo as reuniões do partido por meio das redes sociais, como foi feito ao longo da campanha. Assessores dos parlamentares também foram impedidos de participar da reunião, como forma de evitar vazamentos.

Líder do partido muda

O deputado Delegado Waldir (GO), até então vice-líder, foi aclamado líder do PSL até fevereiro, quando a bancada deverá voltar a discutir o posto. Eduardo Bolsonaro, que era líder, ficou na vice para se dedicar a outras atividades, segundo disse, como filho do presidente eleito.

Segundo relatos colhidos pela reportagem, Joice, que tenta se viabilizar como líder, pediu que em fevereiro não se decida por aclamação, mas no voto. Ela não apareceu publicamente após o encontro.

A deputada eleita chegou quando outros parlamentares já estavam na sala. Havia uma cadeira reservada a Eduardo Bolsonaro, na qual ela sentou. Eduardo chegou em seguida e pegaram rapidamente outra cadeira para ele sentar, entre Hasselman e o pai.

Delegado Waldir disse que a primeira missão que lhe foi passada pelo governo “é segurar as pautas bombas, que têm grande impacto financeiro”. São elas projetos sobre securitização e risco hidrológico.

Também falaram o presidente do PSL e deputado, Luciano Bivar, e o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onix Lorenzoni (DEM-RS).

Bolsonaro pede que bancada do PSL não declare ainda voto para comando da Câmara

O presidente eleito também pediu aos membros do PSL que não declarem voto para a presidência da Câmara por enquanto. Segundo Eduardo Bolsonaro, houve uma recomendação para aguardar o término das negociações antes de se posicionar. Na semana passada, Eduardo chegou a dizer que o partido não apoiaria a recondução de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o comando da Casa.

“O presidente (Jair Bolsonaro) relembrou o tempo de campanha, pediu um pouquinho de serenidade aos candidatos para não declarar votos para a presidência da Câmara ou quaisquer outros cargos. Para eles primeiro sentirem o clima. As negociações, as articulações ainda estão ocorrendo”, contou Eduardo ao sair reunião.

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Eduardo afirmou, ainda, que Bolsonaro não faz questão que um representante do PSL, seu partido, assuma o comando da Câmara. No início da semana, o filho de Bolsonaro disse que o PSL não apoiaria a recondução do presidente da Casa, Rodrigo Maia, e disse que a legenda possui outras preferências. Deputados da sigla têm manifestado simpatia por candidaturas que vão de João Campos (PRB-GO) a Alceu Moreira (MDB-RS), passando por Capitão Augusto (PR-SP).

Encontro com o DEM alinha apoio

Nesta quarta, Maia não participou da conversa da bancada do DEM com Bolsonaro, que ocorreu antes do encontro do presidente eleito com o PSL. A cúpula do Democratas, que está a um passo de integrar a base aliada de Bolsonaro, espera obter ao menos a neutralidade do futuro governo na disputa da Câmara.

Na reunião com o DEM, Bolsonaro disse que pediu isenção na disputa aos deputados do PSL “em nome da governabilidade”. O presidente eleito escolheu três integrantes do DEM para o primeiro escalão – os deputados Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil, Tereza Cristina, que ocupará a Agricultura e Luiz Mandetta para a Saúde.

“As coisas estão caminhando para o apoio ao governo. O espírito de todos é de colaboração”, afirmou o presidente do DEM, ACM Neto, que é prefeito de Salvador (BA). “Estamos vivendo um momento extremamente desafiador e a tendência é caminharmos juntos”, completou o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), eleito governador de Goiás. Para o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), o DEM “tem todos os motivos, ideologicamente” para se aliar ao governo Bolsonaro.

ACM Neto disse que Maia não compareceu ao encontro desta quarta porque tem um “papel institucional” a cumprir e negou que declarações de Eduardo Bolsonaro sobre ele tenham azedado as relações. Nos bastidores, no entanto, sabe-se que Maia montou uma estratégia para se reeleger e tenta formar um bloco que isole o PSL na repartição de poder na Câmara, caso a equipe de Bolsonaro interfira na eleição, marcada para fevereiro de 2019.

Progressistas: “temos mais convergências do que divergências”

Nesta quarta-feira, Bolsonaro também se reuniu com a bancada do PP. O deputado Arthur Lira, líder do partido na Câmara, disse que o PP não definiu se fará parte da base do governo. “O partido vai votar as matérias que julgar importantes para o país sem nenhum tipo de entendimento de fazer parte da base do governo ou não”, afirmou Lira na saída. “Temos mais convergências que divergências.”

Bolsonaro, que passou quase 20 anos filiado ao PP, não convidou nenhum político do partido para participar do governo. O presidente eleito repete o discurso que fará política de forma diferente, sem “toma-lá-dá-cá” e que vai ouvir as frentes parlamentares mais do que os partidos. Arthur Lira disse que nenhum partido foi convidado oficialmente para compor o governo e isso não incomoda os parlamentares. “Isso não nos incomoda absolutamente, o PP sabe o seu valor.”

Até agora, apenas um partido, o PR, declarou oficialmente que irá compor a base do futuro governo no Congresso. Outros, como PSDB, DEM e PDS, sinalizaram apoiar o governo em pautas convergentes.

Flávio Bolsonaro não comparece ao encontro

O PSL elegeu a segunda bancada da Câmara, com 52 deputados, atrás apenas do PT. No Senado, a legenda elegeu quatro representantes, entre eles o senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), que é filho do presidente eleito.

Flavio foi o único senador eleito pelo partido a não comparecer ao encontro. Ele veio a Brasília no início da semana para participar da diplomação do pai, em cerimônia no Tribunal Superior Eleitoral. Ele voltou ao Rio com a família após o evento. O senador eleito tem evitado dar declarações públicas sobre o caso de um ex-assessor seu, o policial militar Fabrício Queiroz.

Um relatório do Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) que apontou movimentação atípica de Queiroz, que movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. 

Desde que a história veio a público, na quinta-feira passada (6), o próprio Jair Bolsonaro não falou com jornalistas em Brasília. Deu entrevistas apenas no Rio de Janeiro, onde passou o final de semana. Desde o início da transição, o eleito costumava falar com a imprensa com frequência no intervalo entre reuniões.

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