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 | Antônio More
Gazeta do Povo
| Foto: Antônio More Gazeta do Povo

O Brasil parece ter a sina de ser o país do futuro que não chega. Nas últimas duas décadas, o Brasil sofreu com recessões gigantes – e ainda está se recuperando da última, a pior da história. Os percalços na economia deixaram como legado um crescimento medíocre, que afetaram toda a sociedade. O Brasil perdeu o fôlego, deixou de ser o emergente preparado para sair da renda média, e foi ultrapassado por diversos países em rankings de renda per capita. 

Os dados do PIB per capita, com paridade do poder de compra (PPC), mostram essa queda – que ficou mais acentuada a partir de 2014, quando já estávamos na pior recessão da história brasileira. No relatório do Banco Mundial, o Brasil caiu seis posições no período, mas a variação da renda per capita foi de 9,1% até 2016. O resultado pífio fez com que ‘potências’ mundiais como a República Dominicana e a Costa Rica, que tinham indicadores bem inferiores antes dessa crise, ultrapassassem o Brasil nessa lista. 

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E não é só nesse relatório que o Brasil se deu mal. Os dados do FMI apontam uma redução da renda per capita de 5% entre 2014 e 2017 e a queda de oito posições no ranking. Aqui, o Brasil foi ultrapassado por países como o Suriname, a Sérvia e o Turcomenistão. 

Em ambos os rankings, o Brasil sempre esteve atrás de países vizinhos como o Chile, Uruguai e a Argentina, que também passa por momentos conturbados na política e economia. E, ainda por cima, está observando pelo retrovisor a aproximação de Peru e Colômbia, também vizinhos continentais. 

Por que o Brasil não vingou? 

Além de todos os problemas econômicos enfrentados pelo Brasil – sejam reflexos de crises internacionais ou de péssima gestão pública –, o país ainda sofre pela falta de competitividade. E isso ajuda a explicar, em parte, porque ele não desencanta. 

Na última edição do ranking de competitividade global, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil foi o último colocado em dois quesitos: confiança nos políticos e efeitos da tributação para o emprego. Mas foi muito mal avaliado no que diz respeito à carga de impostos, incentivo para investimento e ao peso do governo também. 

Esse resultado indica que a turbulência política, com a sucessão de escândalos que vem ocorrendo nos últimos anos, afeta a vida de todos os brasileiros. A próxima eleição presidencial ainda tem um cenário imprevisível e, embora a crise econômica esteja descolando da vida política, a retomada do crescimento inspira cuidados.

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No campo da economia, o excesso de impostos e encargos sociais é apontado como entrave para a ampliação dos postos de trabalho e investimentos. Não dá para negar que o Brasil busca se tornar mais eficiente em alguns quesitos, como é o caso do mercado de trabalho. Após a aprovação da reforma trabalhista, a expectativa era de mais segurança jurídica e flexibilidade nas relações de trabalho. Mas não é bem isso que vem ocorrendo: a lei entrou em vigor e ainda há muito receio em aplicar os novos dispositivos. 

Além disso, o Brasil é extremamente protecionista em relação ao comércio. E o resultado vem em forma de baixa produtividade, aliada à falta de inovação da indústria nacional. Os investimentos, que diminuíram ao longo da crise, acabam exigindo incentivos do próprio governo, mas nem sempre há como mensurar os resultados. Um caso é o das renúncias fiscais bilionárias para o setor automobilístico: em 12 anos, as montadoras levaram R$ 28 bilhões em renúncias. Mas o governo não aponta qual foi o retorno desse investimento. 

Enquanto o descontrole seguir, o Brasil continuará a perder espaço e dinheiro para países com menos potencial.

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