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Em Curitiba, obras de mobilidade que receberam verba do PAC da Copa só ficaram prontas depois do Mundial de 2014 | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Em Curitiba, obras de mobilidade que receberam verba do PAC da Copa só ficaram prontas depois do Mundial de 2014| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

O Brasil investe pouco e investe mal em infraestrutura. O reflexo desse gargalo é que estamos muito atrasados em relação ao potencial que o país poderia desenvolver – podemos levar até 20 anos para superar o gap entre o que foi feito e o que deveria ter sido feito. Nessa toada, falta tudo: dos recursos públicos para as obras de saneamento básico a condições competitivas para atrair investimento privado. As conclusões fazem parte do estudo “Infraestrutura e Regulação”, da série Panorama Brasil, divulgados pela consultoria de gestão Oliver Wyman em meados de maio.

O estudo mostra que, entre 2001 e 2016, o país investiu cerca de 2% do PIB em ações de infraestrutura a cada ano. No entanto, estimativas sugerem que seria necessário investir pelo menos 4% do PIB por 25 anos para conseguir universalizar os serviços básicos com um padrão mínimo de qualidade, por exemplo. Os problemas brasileiros não se resumem ao baixo investimento. Também sofremos com a má alocação dos recursos devido a sobrepreço ou superdimensionamento de obras.

Para se ter uma ideia, países com nível de desenvolvimento similar ao do Brasil investem mais: a China empenha quase 7% do PIB em obras de infraestrutura e a Índia, 5,5%. Mesmo aqueles que já possuem infraestrutura mais desenvolvida também alocam mais recursos para a manutenção: nos Estados Unidos, água e transporte recebem investimentos na ordem dos 2,5% do PIB.

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Para Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman no Brasil, o Brasil sofre com uma série de problemas – da forma de contratação, que priorizam aditivos, ao prazo elástico para obtenção de licenças ambientais – que se juntam e acabam definindo o mau investimento. Ela enfatiza que os grandes projetos do governo federal, como o PAC dos governos PT e o PPI do governo Temer, têm efetividade baixa. “Temos projetos que começam e param, alguns em que há superdimensionamento das obras ou obras que começam fazendo sentido, mas já estão subdimensionadas quando acabam. Não somos capazes de definir prioridades de longo prazo e correr atrás disso.”

O atraso nessa questão de infraestrutura atrapalha o desenvolvimento do país como um todo. Como lembra o diretor de Infraestrutura da Marsh Brasil, André Dabus, o Brasil é um país continental e precisa orientar seu desenvolvimento pelo crescimento da economia. Mas isso precisa atingir toda a cadeia produtiva: estradas de qualidade para escoar a produção agrícola, portos para a exportação. “Se não houver integração desses sistemas em um período adequado, não temos chance de desenvolver o Brasil e torná-lo competitivo e atrativo para investimentos”, pontua.

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Desafios para serem superados

Apesar de já estarmos atrasados, ainda há como virar o jogo. Na visão de Ana Clara, o primeiro problema do país é investir pouco. “Para dar conta desse gap de logística, telefonia e saneamento, a gente precisaria dobrar esse investimento ao longo de 20 anos.” Daqui surge o primeiro desafio: investir mais do que os recursos alocados atualmente.

Mas essa não é a única dificuldade. Com a grave crise fiscal vivida pelo setor público, é preciso encontrar alternativas para esse investimento, já que o governo não tem condições de dispor de mais dinheiro para isso. E nessa toada aparece mais um entrave: a definição do papel do setor público, que pode deixar de ser o motor de investimento para ser o coordenador e planejador dos negócios.

“O Brasil se habituou nos últimos anos a ter o setor público investindo e dando recursos de forma subsidiada, principalmente via BNDES. Agora precisamos definir uma agenda de fomento ao mercado de capitais para que novas formas de financiamento fiquem mais importantes e relevantes do que eram no passado”, afirma Ana Clara.

Para esse movimento, é preciso um ambiente de negócios que propicie a atuação do setor privado como motor de desenvolvimento. Por sua vez, isso exige estabilidade nas regras jurídicas e priorização das obras que queremos executar. “O governo precisa resgatar sua capacidade de planejamento, de ordenar e priorizar as necessidades. E para isso tem de definir regras, dar segurança jurídica e celeridade, para que o setor privado ocupe esse espaço de investidor em infraestrutura”, avalia a sócia da Oliver Wyman no Brasil.

Os desafios são grandes e não exclusivos do Brasil – outros países enfrentam situações semelhantes. Mas é fundamental pautar o debate de que país queremos ser, ainda mais em ano eleitoral.

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