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| Foto: Carl de Souza/AFP

Eles apareceram em São Paulo, em junho de 2013. Portavam máscaras e pediam a saída da presidente Dilma Rousseff (PT) da Presidência e a intervenção dos militares. Estavam também no Recife, em março de 2015, com as mesmas bandeiras. 

Eis que Dilma caiu, e o pedido para que os militares interfiram na vida civil se mantém ileso. Agora é a vez de grupos de caminhoneiros que, no meio da greve iniciada na semana passada, estendem bandeiras e faixas e escreveram mensagens no asfalto. 

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Uma delas, que podia ser vista na Rodovia Régis Bittencourt, em São Paulo, dizia: “nós queremos intervenção militar”. Uma série de vídeos circulando pelos grupos de WhatsApp dos grevistas tenta transformar o protesto em um pretexto para a deposição do presidente e a tomada de Brasília por generais.

As redes sociais, em especial o Facebook, também abrigam grupos que repetem essa solicitação. A pergunta é: por quê? Quais os motivos para, nos últimos anos, diferentes manifestações e greves serem acompanhados por pessoas que defendem essa mesma pauta?

Saudosismo seletivo

As denúncias de corrupção fazem parte desse cenário. “Existe uma interpretação do regime militar como uma época de paz, prosperidade, menos corrupção”, afirma o historiador e cientista político Paulo César Nascimento, professor da Universidade de Brasília (UnB). “Sabemos que, durante a ditadura, os militares ocuparam postos em todas as agências estatais. Havia superfaturamento nas obras. Mas, com a censura, nada disso vinha a público”.

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De certa forma, diz ele, os avanços da democracia, o aumento da transparência e a velocidade com que as informações trafegam no século 21 dão a impressão, para parte da opinião pública, de que os tempos atuais são mais corruptos. “Existe, entre as pessoas que defendem a intervenção militar, um pedido de volta à ordem, como se atualmente tudo estivesse em escombros. As pessoas se voltam para um passado idílico e não tão distante”.

Para Gilbergues Santos, cientista político, historiador e professor da Universidade Estadual da Paraíba, essa crença é bem mais antiga. “A sociedade brasileira convive, desde o início do século 20, com a ideia de que os militares são a reserva moral da sociedade”. Resultado, diz ele, da crença no autoritarismo. “Fomos formados a partir da ideia de que a força é solução para tudo, não acreditamos na pluralidade de ideias e nem na ampla participação política e social do cidadão. Assim, esperamos que um governo de força, de preferência militar, resolva nossos dilemas, principalmente no tocante ao crescimento econômico”.

Havia problemas, sim

Mas quem pensa assim não lembra dos problemas de viver numa ditadura? “Como nosso passado autoritário não foi revisto, parcela considerável da população desconhece que tivemos coisas como prisão, tortura e assassinato de presos políticos”, diz Santos. “Daí muitos acharem que a fórmula do ‘milagre econômico’, do início dos anos 1970, deva ser replicada”.

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Lembrando que, como aponta o economista Julio Cesar Bellingieri em artigo sobre e gestão econômica do Brasil entre 1964 e 1985, a conta dos anos de crescimento econômico foi alta. “Durante os 21 anos em que o governo foi presidido por governos autoritários, a economia passou por transformações profundas: o PIB cresceu a taxas elevadas, a estrutura produtiva diversificou-se, com o surgimento de indústrias de bens de capital e insumos básicos; melhorou-se a infraestrutura do país; criou-se um novo sistema tributário e financeiro”. 

Mas “o preço pago pelo forte crescimento foi o gigantesco aumento do endividamento do Estado brasileiro, que havia feito a opção de se financiar por meio da fácil e barata captação de recursos externos. Esse modelo de crescimento funcionou até o fim da década de 1970. Quando, a partir daí, as fontes de recursos externos secaram e os encargos da dívida aumentaram, o país quebrou”.

Vai acontecer?

Quantas são as pessoas que esperam que os militares voltem ao poder? O Instituto Paraná Pesquisas traçou um perfil em outubro passado. Concluiu que 35% dos brasileiros apoiam uma intervenção militar – provisória. Entre as pessoas com 45 a 59 anos, o percentual sobe para 39,6%. Entre os maiores de 60, é de 39,3%. É, portanto, uma parcela expressiva da população.

Mas existe essa possibilidade? Estariam os militares interessados em tomar o poder? Paulo César Nascimento não acredita nessa possibilidade. “Parece que a última coisa que os militares querem é uma volta à política. Até a intervenção no Rio foi recebida pelo setor com certa ambiguidade”.

Indagado em coletiva de imprensa, nesta terça-feira (29), o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, afirmou que as Forças Armadas não pensam em intervenção militar. “Eu vivo no século 21 e está divertidíssimo. O farol que eu uso para me conduzir é muito mais potente que o retrovisor. Não vejo as Forças Armadas pensando nisso e não conheço absolutamente”, afirmou ele, que é general reformado do Exército. 

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