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| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O dólar subiu muito nos últimos meses perante o real. Uma combinação de fatores – que vai desde a taxa de juros em queda por aqui e em alta nos Estados Unidos e também passa pela especulação e volatilidade de um ano eleitoral – fez o câmbio disparar.

Esse movimento levou o Banco Central a intervir no mercado cambial, anunciando a venda de dezenas de bilhões de dólares em contratos chamados de “swap cambial”, a fim de conter a oscilação da moeda. O que, por enquanto, funcionou.

Essas operações levaram o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) a dizer que o Banco Central está “torrando irresponsável e criminosamente 10% das reservas cambiais do Brasil”. A afirmação, no entanto, é falsa. Porque, ao oferecer contratos de swap cambial para acalmar o mercado, o BC não usa o dinheiro das reservas cambiais (também chamadas de reservas internacionais). Não há uma venda de dólares “à vista”. E sim uma operação cujo efeito equivale à venda de dólares no mercado futuro.

Tanto é assim que as reservas – cujo tamanho oscila todos os dias – até aumentaram um pouco nas últimas semanas, chegando perto do recorde histórico. Estavam em US$ 380 bilhões no fim de abril e terminaram maio em US$ 382 bilhões, não muito longe do maior patamar da história (US$ 383,7 bilhões, em setembro de 2017). Na última terça-feira (19), o estoque de reservas era de US$ 381,9 bilhões.

O que disse Ciro Gomes

As críticas de Ciro à postura do Banco Central foram feitas na última sexta-feira (15), no evento Conexão Empresarial, em Tiradentes (MG). “Nós atacamos mudança de patamar de preço com desvalorização de câmbio. Vai acontecer de novo. Já estão aí torrando irresponsável e criminosamente 10% das reservas cambiais do Brasil. Essa gente está torrando as reservas cambiais, que são um dos atenuantes da iminência de um colapso fiscal e patrimonial do Brasil, para financiar uma plataforma de câmbio, pagando com dinheiro público aqueles que atentam especulativamente contra a moeda nacional”, declarou.

Na ocasião, antes de iniciar seu discurso, Gomes chegou a dizer que dado o tempo curto para falar e a alta qualidade do público, se permitiria ser telegráfico, superficial em algumas coisas que mereceriam aprofundamento e omisso. A questão do dólar foi retomada nas redes sociais do pedetista no sábado (16). A equipe de Ciro Gomes publicou um vídeo com uma coletânea de notícias sobre o anúncio de venda de dólares por parte do Banco Central. Em tom crítico, a peça mostra as decisões seguidas do BC de aumentar a oferta de dólares como meio de controle de câmbio e faz o alerta: o candidato reclama da prática desde 2016, classificada de “dobradinha entre o Banco Central e o mercado”.

Nesse segundo vídeo, há um trecho de uma fala de Ciro Gomes, que aparece explicando o que é swap cambial. Ele cita como exemplo uma discussão hipotética, na qual o câmbio estouraria e o dólar valeria R$ 4, mas o governo se comprometeria a pagar R$ 2,70 pela moeda dali a alguns meses. Ciro Gomes, então, critica a intervenção do governo e diz que é dinheiro público que está sendo usado para conter o câmbio.

O que são swaps cambiais e por que eles não mexem com as reservas

Swap (do inglês “troca”) é um tipo de derivativo financeiro que promove, ao mesmo tempo, a troca de taxas ou rentabilidade de ativos financeiros entre duas partes. No caso do swap cambial, é firmado um contrato de compra e venda de moeda no mercado futuro por um valor fixado no ato da compra. As oscilações do câmbio serão cobertas pelas partes: caso o dólar se valorize ainda mais, é o Banco Central quem paga a diferença ao investidor; se, por outro lado, o real sobe, é o comprador quem paga.

“O swap cambial é um instrumento bem comum, de uso dos bancos centrais. É um derivativo e funciona no sentido de proteção de investidores e agentes de mercado que estão expostos à variação cambial”, explica João Fernandes, economista da Quantitas Gestão de Recursos. O objetivo desse tipo de operação é diminuir a volatilidade da moeda – ou seja, impedir que haja variações abruptas com frequência. Isso significa que, embora menos frequente, o swap também pode ser usado no sentido inverso, caso o real se valorize muito.

O que o BC mais tem feito é oferecer swaps para conter a alta do dólar. Um levantamento do jornal “Valor Econômico” aponta que desde meados de maio, foram injetados US$ 39,6 bilhões em contratos de swaps cambiais.

Fernandes ressalta que esse tipo de medida não muda o nível de câmbio de forma permanente. O efeito é mais de curto prazo. Depois que o BC passou a atuar mais fortemente com esse tipo de operação, o dólar baixo de perto de R$ 4 para a casa dos R$ 3,70.

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“Característica importante do swap é que o Banco Central só fica exposto no sentido do quanto o real se valorizar ou desvalorizar em relação a taxa que foi firmada no contrato. Ele não está botando dólares da reserva no mercado”, ressalta o economista da Quantitas.

O economista lembra que, entre 2015 e 2016, o estoque de swaps cambiais chegou à casa dos US$ 100 bilhões. “Isso não quer dizer que as reservas do brasil diminuíram nesse valor. Significa que o BC teve uma exposição nos swaps que chegava a esse montante. Essa exposição só seria executada se houvesse variações nas moedas que chegassem a esse valor”, explica.

Mas há muita confusão entre essa operação de swaps e as reservas cambiais. Fernandes explica que o Brasil só começaria a “gastar” suas reservas cambiais se estivesse vendendo dólar à vista. E não chegamos a esse ponto.

“Quando você vende à vista, você está literalmente colocando dólares das reservas cambiais na negociação, o que significa que as reservas vão diminuir. Agora, quando você usa o swap, você só cria uma exposição das reservas”, explica.

Para Fernandes, o uso de swaps até pode ser criticado, sob a ótica de não ser razoável que o país tenha uma exposição deste montante em derivativos cambiais, que podem vir a gerar uma perda caso a moeda siga se desvalorizando de forma intensa. Não dá, no entanto, para confundir swap e reservas.

O tamanho das reservas cresceu muito nos últimos anos. Em 2008, elas terminaram o ano em US$ 193,7 bilhões. Em 2017, fecharam em US$ 373,9 bilhões.

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