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Aço brasileiro: 5 milhões de toneladas exportadas para os EUA | Antonio CostaGazeta do Povo/Arquivo
Aço brasileiro: 5 milhões de toneladas exportadas para os EUA| Foto: Antonio CostaGazeta do Povo/Arquivo

Um país sequer citado por Donald Trump pode ser o maior prejudicado com a taxação do aço imposta pelo presidente norte-americano: o Brasil. O país é o segundo que mais exporta para os EUA, atrás apenas do Canadá (isentado da sobretaxa). Siderúrgicas brasileiras contrataram um escritório de lobby em Washington para livrar o aço brasileiro do imposto. Até o negócio entre Boeing e Embraer deve ser utilizado como moeda de troca.

Na última quinta-feira (8), os Estados Unidos anunciaram tarifas de 25% ao aço importado e 10% ao alumínio, com isenção temporária para Canadá e México. Atualmente, 13% do aço importado pelos EUA vem do Brasil. O Canadá vem em primeiro (16%) e o México em terceiro (entre 10% e 11%). A China, alvo de críticas de Trump, representa apenas 3%. 

Os lobistas brasileiros vão agir em duas frentes: no Congresso e com os empresários americanos. Pelo decreto, os empresários americanos podem apresentar ressalvas à medida de proteção, alegando que terão prejuízos com a sobretaxa. 

Além das siderúrgicas — que compram o produto fabricado no Brasil e teriam que arcar com os 25% — empresários brasileiros estão em contato com os produtores de carvão americano. O combustível é usado na produção de aço, e o Brasil é o maior comprador de carvão dos EUA. Sem as exportações aos EUA, as compras de carvão deverão ser afetadas. 

O argumento mais forte em favor do Brasil é que o aço brasileiro fará falta. Entre os maiores fornecedores dos Estados Unidos, o Brasil é o único que vende o produto semiacabado, ou seja, placas de aço que ainda serão industrializadas em solo americano. 

Em paralelo, o lobby pró-Brasil vai buscar o Departamento de Comércio dos EUA, em uma negociação entre autoridades dos dois países. 

O ministro da Indústria e Comércio brasileiro, Marcos Jorge de Lima, já apresentou argumentos em defesa da exclusão do Brasil ao secretário americano, Wilbur Ross, em reunião no início do mês em Washington. Na sexta-feira (9), ele disse que vai recorrer aos canais abertos pelo próprio governo Trump. 

“Nós vamos recorrer dentro do processo nos EUA. Nosso primeiro recurso será no âmbito bilateral. Dito isso, caso necessário, não descartamos nenhuma possibilidade, até mesmo de recorrer no âmbito multilateral”, afirmou. 

É aí que a Embraer pode entrar na jogada. O governo Michel Temer pode ser pressionado a colocar na mesa as discussões sobre o acordo entre Embraer e Boeing, em negociação para que a brasileira auxilie a norte-americana a cobrir uma lacuna no segmento de viação comercial.

Danos econômicos 

Reportagem da Gazeta do Povo, publicada antes da Casa Branca anunciar oficialmente a taxação, estimou o impacto da medida para os mercados brasileiro e norte-americano. Das 15,4 milhões de toneladas de aço exportadas pelo Brasil, 5 milhões de toneladas vão para os Estados Unidos. Um montante de R$ 350 milhões, fruto da atividade, é pago em salários, e R$ 200 milhões em impostos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). 

Nos Estados Unidos, um carro poderá ficar até US$ 200 mais caro e os preços de cervejas e celulares podem subir, conforme divulgaram empresas desses setores à imprensa internacional. O combustível também pode ficar mais caro, inclusive no Brasil, pois o setor petroleiro calcula que um projeto de exploração do petróleo pode ficar quase US$ 100 milhões mais caro por causa da sobretaxa no aço. 

Clima ameno para evitar retaliação 

A ordem do dia entre os defensores do aço brasileiro é evitar um clima de guerra comercial. E buscar o caminho do diálogo. 

O presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, afirma que o setor privado trabalha para mostrar aos empresários americanos que o Brasil é um "parceiro diferente". "Os EUA sempre tiveram superávit no comércio siderúrgico com o Brasil, e, em segundo lugar, 80% do aço que vendemos é insumo para as siderúrgicas americanas.” 

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e ex-presidente do BNDES, José Pio Borges, criticou a medida que "mirou a China e atingiu o Brasil". Mas pondera que "é preciso ser muito cauteloso, pois os EUA são parceiro comercial importante". 

Apoio popular 

A taxação ao aço e alumínio importados teve um apelo popular inesperado para Donald Trump. Na apertada disputa por uma vaga no Congresso, no Sudoeste da Pensilvania, os candidatos republicano, Rick Saccone, e democrata, Conor Lamb, são unânimes em defender a medida. 

As maiores companhias de aço dos Estados Unidos se dividem entre a região e os estados de Ohio e West Virginia. Adversários concordam que a taxação do aço importado vai trazer riqueza e empregos para os Estados Unidos. 

Trump usou o Twitter para defender as tarifas. Seu principal alvo foram os países europeus. Horas antes, uma reunião entre EUA, União Europeia e Japão foi concluída, sem avanços. A Comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmström, disse que as conversas sobre o assunto devem continuar na próxima semana. 

“A União Europeia, países maravilhosos que tratam os EUA muito mal no comércio, está reclamando sobre tarifas ao aço e ao alumínio”, afirmou Trump. “Se eles retirarem suas barreiras horríveis e tarifas aos produtos dos EUA, nós também retiraremos as nossas. Grande déficit [em nossa balança comercial com os países do bloco]. Se não, nós taxaremos carros, etc. JUSTO!”, escreveu o presidente americano na rede social. 

China na defensiva 

A China declarou neste domingo (11) que não iniciará uma guerra comercial com os Estados Unidos, mas prometeu defender seus interesses nacionais diante do crescente protecionismo norte-americano. 

“Não há vencedores em uma guerra comercial, e isso traria desastre para nossos dois países e para o resto do mundo”, disse o ministro do Comércio, Zhong Shan, em declaração durante sessão parlamentar anual da China. 

Os EUA relataram um déficit de US$ 375 bilhões com a China no ano passado, e mesmo com uma redução de 20%, ainda seria um das maiores déficits comerciais dos norte-americanos com qualquer país, segundo informações da Associated Press. Governos dos EUA e da China divulgam números muito diferentes do comércio, já que Pequim conta apenas o primeiro porto para o qual os bens vão em vez do seu destino final.

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