• Carregando...
Médico cubano no embarque de volta a Cuba. | Karina Zambrana/Fotos Públicas
Médico cubano no embarque de volta a Cuba.| Foto: Karina Zambrana/Fotos Públicas

Áudios, mensagens, documentos e depoimentos obtidos pela revista Istoé revelam que profissionais cubanos do programa Mais Médicos que pretendiam ficar no Brasil e não retornar a Cuba foram ameaçados por consultores da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) para mudar de ideia. Houve ameaças veladas a suas famílias e o “alerta” de que eles seriam proibidos de entrar em Cuba por oito anos se ficassem no Brasil.

A reportagem da revista, divulgada nesta sexta-feira (7), também mostra que os médicos cubanos eram extorquidos pelos consultores da Opas (todos eles também cubanos) e tinham de pagar uma taxa “informal” ao Partido Comunista de Cuba além do desconto oficial de 75% de seus salários destinados ao governo cubano. Além disso, eles foram pressionados a “repudiar” o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) nas redes sociais.

A contratação pelo Brasil dos médicos cubanos foi feita por intermédio da Opas, num contrato assinado em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff (PT). Cuba decidiu retirar seus médicos do programa logo após a eleição de Bolsonaro para a Presidência da República.

“Pense bem, você tem família em Cuba”

A revista Istoé publicou áudio de conversa entre a médica cubana Dayaimy González Valon e o consultor da Opas em Mato Grosso, Leoncio Fuentes Correa. Dayaimy manifestou publicamente, por meio de um vídeo no YouTube, seu desejo de ficar no Brasil após o anúncio de que Cuba estava saindo do Mais Médicos. No mesmo dia, recebeu uma ligação telefônica de Correa, a qual foi gravada. O áudio releva as ameaças.

Opinião da Gazeta: Mais Médicos foi maneira comprovada de levar dinheiro do Brasil para a ditadura cubana

“Pense bem doutora, eu apenas sugiro (…) no final, se você ficar aqui, você sabe que não vai entrar em Cuba por oito anos. E você tem família em Cuba (…) e se algo acontecer com um de seus familiares, que tomara não aconteça, você não poderá entrar no país”, diz Correa na ligação. “Se você não entrar nesse voo [de retorno a Cuba, marcado para 7 de dezembro], eu te reportarei por abandono do posto. Quando eu preencher essa ficha, ela automaticamente vai para a imigração e em oito anos você não poderá ir a Cuba. Isso não tem retorno.”

Leia também: Entenda o que é o Mais Médicos e por que Cuba decidiu deixar o programa

Outros médicos cubanos ouvidos pela Istoé confirmaram que é uma prática da ditadura caribenha de proibir os médicos do país de entrar em Cuba se decidirem ficar no país no qual estão prestando serviço após uma convocação de retorno.

Ouça o áudio obtido pela Istoé

Partido Comunista de Cuba pode ter arrecadado R$ 1,7 milhão com taxa “por fora”

A reportagem ainda relata que cada médico cubano tinha de pagar, por fora, uma taxa mensal de R$ 24 para o Partido Comunista de Cuba – a revista estima que, por esse intermédio, a agremiação tenha arrecadado cerca de R$ 1,7 milhão no Brasil. Quem não pagava a “contribuição”, era cobrado pelos consultores da Opas. Essa taxa era cobrada além do pedágio de 75% dos salários dos cubanos no Brasil, que ia para o governo cubano. Os médicos recebiam apenas R$ 2,9 mil dos R$ 11,8 mil pagos pelo governo brasileiro.

Saiba mais: População aprova saída dos cubanos do Mais Médicos, diz pesquisa

A Istoé também mostrou documentos mostrando que o governo de Cuba determinou a “evacuação” dos cubanos do Mais Médicos após a eleição de Bolsonaro e que eles deveriam “repudiar” nas redes sociais o presidente eleito.

Podcast discute se a saída dos cubanos do Mais Médicos é o 1.º teste de fogo de Bolsonaro

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]