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 | Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Na segunda semana de trabalhos da Câmara, durante uma das votações, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) entrou sozinho no plenário para marcar presença. Foi surpreendido. O ponto do plenário onde, no passado, ficava a bancada do PSDB hoje é ocupado pelo PSL. “Você sabe onde fica o PSDB agora?”, apelou a um colega.

Para quem frequentou a Casa de 1987 a 2002 e a presidiu por um ano (2001-2002), o ambiente mudou. Dragado pela Operação Lava Jato, Aécio perdeu o protagonismo de quem, por 3,5 milhões de votos, não se elegeu presidente da República. Agora, a palavra é discrição. Não sem motivos.

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Uma semana antes, no dia 1º de fevereiro, o tucano e os outros 512 deputados federais eleitos foram tomar posse. Só ele foi vaiado ao ter o nome anunciado ao microfone. Aécio votou rapidamente na eleição da Mesa Diretora e disparou pelo salão verde em direção a seu gabinete, escondido no térreo do prédio principal. 

O ritual se repetiria nas semanas seguintes. São raros os momentos em que o tucano é visto pelos corredores ou mesmo em plenário. Segundo colegas, ele tem evitado comparecer até a reuniões da bancada tucana na Câmara. Quando decide ir, chega com ela em curso e vai embora antes do fim. Só se manifesta se questionado.

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No fim de fevereiro, acompanhado de um dos poucos aliados que se mantiveram próximos, Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), Aécio participou de uma reunião com o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho. Na saída, a imprensa aglomerada na porta correu para entrevistar o representante do governo. Aécio aproveitou a deixa e escapou. 

De protagonista a coadjuvante

Em maio de 2017, o empresário Joesley Batista, da JBS, o gravou pedindo R$ 2 milhões. A partir dali, as denúncias se somariam, e a estratégia de Aécio foi se manter nos holofotes. Presidente do PSDB desde 2013, ele se segurou no cargo até o fim de 2017, considerando que a demonstração de força, segundo aliados, seria necessária para evitar uma cassação – e eventual prisão. Agora, a conduta é outra: manter-se longe do palco.

A mudança de governo também é citada como motivo para a nova fase. Com Michel Temer (MDB), que foi seu sucessor na presidência da Câmara no começo dos anos 2000, o ex-senador tucano tinha bom trânsito. Temer chegou, por exemplo, a recebê-lo no Palácio do Jaburu para discutir não só os processos de Aécio, mas também questões como a distribuição de ministérios. 

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Na gestão de Jair Bolsonaro, porém, o tucano não encontra portas abertas. Sem que ele tenha o poder de presidente de sigla para negociar, parlamentares dizem que não haveria por que o governo receber um nome associado a escândalos. 

No PSDB, o clima se apaziguou. No mês passado, a executiva comandada pelo paulista Geraldo Alckmin decidiu arquivar um pedido de expulsão do mineiro, em uma espécie de “operação panos quentes”. 

Além de Aécio, foram anistiados outros tucanos, como o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, e o ex-governador Alberto Goldman. Depois de uma eleição tão adversa para o partido, procurou-se evitar uma caça às bruxas, justificam tucanos.

Afagos de colegas não são raros

A longa trajetória de Aécio lhe reserva não apenas dissabores. Ex-governador de Minas (2003-2010) e ex-senador (2011-2019), o tucano colecionou desafetos, mas também admiradores. No plenário, o tucano recebe com frequência afagos de parlamentares. 

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A reportagem presenciou diversos momentos em que o ex-senador é chamado de “presidente Aécio” por colegas e é convidado a tirar fotos com apoiadores. Durante reunião com a bancada do PSDB após a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente da Casa agradeceu ao tucano publicamente. 

Na primeira eleição de Maia, em 2016, Aécio ajudou a costurar a aliança que levou os tucanos a se unirem com partidos de esquerda para derrotar o candidato de Eduardo Cunha (MDB-RJ), Rogério Rosso (PSD-DF). 

Há alguns dias, Aécio apareceu sozinho no fundão do plenário. Em instantes, começou a ser abordado por gente que transitava ali. Beijos, apertos de mão, como vai? Tudo bem?

O deputado Paulinho da Força (SD-SP) abraçou-o longamente. Vendo-se observado, soprou, sorrindo: “Tem uma velharia que ainda se lembra de mim”. “Não só lembro, como respeito e gosto”, emendou um homem, que também o abraçou. “Deixa eu sair daqui”, disse, já a passos largos, não mais de cinco minutos depois.

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