• Carregando...
 | Ricardo Stuckert/Instituto Lula
| Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

As delações de executivos da Odebrecht, tornadas públicas na semana passada, mostram que não foi só a empreiteira que organizou um setor de Operações Estruturadas para lidar com o pagamento de propina. Os depoimentos demonstram que no governo federal e no Partidos dos Trabalhadores também haveria uma estrutura hierarquizada.

Na estrutura do PT, eram respeitadas ordens dos ex-presidentes Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, segundo os delatores. Mas a negociação de valores e pagamentos era feita por membros do primeiro escalão, como os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega, com acesso à conta-corrente junto à construtora. Na sequência, entravam o marqueteiro João Santana e o tesoureiro João Vaccari Neto, na redistribuição dos recursos.

Saiba quem são os políticos investigados na lista de Fachin

Apoio de Lula esteve por trás da criação da “joia da coroa” da Odebrecht

Os executivos da alta cúpula da Odebrecht detalharam seu envolvimento direto com os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (PT). “A relação com a ex-presidente Dilma, principalmente a partir de 2008, passou a ser primordialmente comigo e essa sim uma relação direta. A relação direta com Lula nunca foi comigo, mas com Dilma sim”, contou Marcelo Odebrecht em um dos depoimentos. A relação com Lula, por outro lado, ficava a cargo do patriarca da empresa, Emílio Odebrecht.

Além dos chefes de estado, os delatores da Odebrecht tinham relação de proximidade com interlocutores do governo, como os ex-ministros Antônio Palocci e Guido Mantega. “Entre 2008 e 2015, os meus principais interlocutores para tratar de todos os assuntos relativos que eu tratava junto ao PT no governo federal eram Palocci,depois Guido Mantega”, conta Marcelo.

O executivo contou aos investigadores que nesse período a “conta corrente” de Palocci com a empreiteira chegou a acumular R$ 300 milhões. “Desses R$ 300 milhões teve dois momentos em que houve pedidos de contrapartida específica para dois pleitos, o resto entrava em uma relação ampla onde simplesmente ia se negociando valores em função de uma agenda grande que a gente tinha com eles”, contou.

Primeiro escalão

Além de Palocci e Mantega, outros ministros do primeiro escalão do governo federal atuaram como interlocutores do partido e a Odebrecht. Um deles foi o ex-chefe de gabinete do ex-presidente Lula, Gilberto Carvalho. Segundo o executivo Alexandrino Alencar, seu contato com Lula era intermediado por Carvalho.

O ex-ministro Paulo Bernardo também é apontado como intermediador da relação entre os executivos e Lula. O contato com Paulo Bernardo tinha relação com uma linha de crédito para financiamento à exportação de bens e serviços entre Brasil e Angola.

“Nesse caso específico foi uma negociação que ocorreu em 2009 e se concretizou em 2010, de um aumento da linha de crédito. Essa linha de crédito acabou sendo fechada em R$ 1 bilhão. No meio dessa negociação, o Paulo Bernardo, que foi indicado pelo Lula para tratar desse assunto, pediu então pra mim R$ 40 milhões para que essa linha de crédito fosse para R$ 1 bilhão”, disse Marcelo.

Já Emílio diz ter tratado com o ex-ministro Jacques Wagner a aprovação de uma medida provisória que promovesse mudanças no programa de acordos de leniência, em 2015. O patriarca menciona uma reunião com o ex-ministro para tratar do assunto, junto com o executivo Claudio Melo Filho. Apesar da medida provisória ter sido editada como a Odebrecht queria, não foi convertida em lei.

Campanha

A maior parte dos valores pagos pela Odebrecht foram usados em campanhas eleitorais, segundo os delatores. Foi inclusive a contribuição para campanhas eleitorais que deu origem à conta corrente da empreiteira com Palocci, segundo Marcelo.

“Eu tinha acabado de assumir como vice-presidente da Odebrecht, estava negociando na época com o Palocci a questão do Refis da crise e aí veio o pedido de apoio a contribuições nas eleições municipais de 2008, que eu não tenho certeza qual era, mas eu sei que eram via João Santana. Então esse pedido veio para atender R$ 18 milhões. Eu disse a Palocci na época que eu não tinha interesse e não me envolvia em campanhas municipais, mas a gente acabou combinando que esse valor viria a ser descontado do valor que eu viria a acordar para a campanha de 2010. Ou seja, era um valor que para mim era campanha 2010 e ele usaria como quisesse”, disse.

“Com o Guido eu tinha R$ 50 milhões. Ele começou a usar quando ele assumiu essa interlocução depois que Palocci saiu da Casa Civil, aí ele começou a pedir esses R$ 50 milhões para João Santana, para gastos, para revista, para Haddad, para Vaccari”, contou Marcelo sobre a conta corrente administrada pelo ex-ministro Guido Mantega.

Parte dos valores destinados a campanhas eleitorais era repassada ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e outra ao marqueteiro João Santana. “Muitas vezes meus interlocutores, Guido e Palocci, pediam ‘dê um conforto a João Santana, que ele vai ter o recurso que eu já combinei com você’, então a gente dava esse conforto a ele”, conta Marcelo.

O executivo, porém, diz que a negociação nunca era feita com Vaccari ou Santana – sempre com os interlocutores do governo. “Se eles tinham alguma necessidade eles pediriam ao Guido ou a Dilma e aí vinha um pedido do Guido ou da Dilma”, diz.

Outro lado

Após a divulgação das delações da Odebrecht,quase todos os envolvidos negaram a prática de irregularidades. O Instituto Lula divulgou nota dizendo que o ex-presidente não tem relação com qualquer planilha. O advogado de Palocci e Mantega tratou os depoimentos com “ilações”. A ex-presidente tratou como “mentirosa” a menção a seu nome em negociações com Marcelo Odebrecht.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]