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Um delegado da Receita Federal utilizou o sistema de comunicação oficial da entidade para solicitar reforços na equipe da alfândega em Belo Horizonte. Mas não quaisquer reforços.

Mauro Luiz de Oliveira, delegado da Receita na capital mineira, informou a seus superiores que precisava de três auditores fiscais que tivessem o seguinte perfil: “Baixo espírito de trabalho em equipe; Pouco ou nenhum comprometimento; Ínfima dedicação às atividades”.

O documento, enviado no dia 27 de julho no sistema interno Notes, é escrito em tom formal, utilizando todos os detalhes de estilo comuns a esse tipo de correspondência, sem qualquer sinalização de tratar-se de uma piada ou ironia.

O delegado ainda pediu que tais servidores tivessem “baixa produtividade, especialmente quando comparado aos colegas que desempenham as mesmas atividades”, segundo reprodução da mensagem.

Em outro trecho da correspondência, que está parcialmente omitido na reprodução à que a Gazeta do Povo teve acesso, Mauro Luiz de Oliveira faz críticas veladas ao movimento sindical da categoria. Após traçar o perfil desejado, Oliveira o relaciona a movimentos “sindicais/paredistas”.

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Um detalhe curioso da mensagem do delegado da Receita é uma citação do arquiteto Frank Lloyd Wright, inserida abaixo da assinatura de Oliveira: “Eu sei o segredo do sucesso: dedicação, trabalho duro e uma incessante devoção às coisas que você quer ver acontecer”.

Repercussão

A comunicação enfureceu a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco Nacional), que representa a categoria. Um interlocutor da entidade classificou a comunicação como uma “esculhambação”.

“A falta de compostura causou constrangimento geral. De que forma os chefes indicariam alguém depois de tal descrição? Seriam obviamente alvos de processos de indenização por danos morais”, afirmou a Unafisco, em nota.

O delegado Mauro Luiz de Oliveira foi procurado por telefone e por e-mail pela reportagem da Gazeta do Povo. Por telefone, afirmou que esperaria uma manifestação formal da Receita Federal para dar suas explicações e que o documento tinha fatos antecedentes e posteriores, sem detalhá-los, que poderiam contextualizar as razões da escolha daqueles pré-requisitos. A Receita Federal, procurada por meio de sua assessoria de imprensa em Brasília, não respondeu ao pedido de comentário da reportagem.

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A Superintendência Regional da Receita Federal em Minas Gerais respondeu anexando o e-mail encaminhado pela Gazeta do Povo diretamente ao delegado Oliveira, afirmando apenas que “a princípio, a Receita Federal em Minas Gerais não vai se manifestar”.

Em comunicado interno enviado à Unafisco, Oliveira pediu desculpas e disse que “não usou bem as palavras”. Segundo sua carta, ele buscava identificar servidores que estavam descontentes em suas áreas, e por consequência demonstravam baixa produtividade, o que seria um “sintoma circunstancial”, segundo o delegado.

“Não são raros os casos de servidores que apresentavam baixíssima produtividade e até mesmo quadros de depressão, e que, ao serem realocados, transformaram-se em servidores exemplares, por estarem em outro ambiente de trabalho, comprometidos com uma nova equipe e, por conseguinte, mais felizes. O notes por mim enviado buscava identificar justamente os Auditores-Fiscais nessa situação, que não se identificam e não se sentem motivados em trabalhar na DRF/Belo Horizonte, na intenção de que os mesmos pudessem talvez se encontrar nas atividades aduaneiras”, escreveu aos representantes.

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